Lançamentos exclusivos e parcerias marcam momento da Mubi Brasil
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
O ano de 2020 marcou um novo momento de crescimento das plataformas de streaming no mundo. Por conta do contexto da pandemia, que demandou isolamento social, o público passou a ampliar o leque de consumo e as próprias companhias, por sua vez, passaram a intensificar suas estruturas ou até lançar novos serviços. Em um contexto marcado por gigantes como Netflix, Amazon, Disney e HBO, desponta a Mubi. Criada em 2007 pelo turco Efe Cakarel, a plataforma está no Brasil há cerca de uma década, mas vem intensificando fortemente a presença no mercado nacional nos últimos anos - são parcerias com eventos e distribuidoras brasileiras, abertura para exibição de filmes independentes do País e aquisição de direitos exclusivos em território nacional de aguardados longas estrangeiros.
O "modelo" inicial da plataforma consistia em contar sempre - e somente - com 30 filmes ao mesmo tempo, com uma produção nova entrando e outra saindo a cada dia. Eventualmente, a Mubi abriu o catálogo e passou a ser possível conferir centenas de obras, mas ainda com destaques especiais dados às obras. A lógica do "filme do dia" ainda existe, por exemplo, como forma de visibilizar produções.
Em entrevista à coluna, a gerente de marketing da Mubi Brasil, Nathalia Montecristo, destaca que hoje a plataforma soma mais de 12 milhões de membros globalmente. Segundo ela, o número de assinantes triplicou desde o começo de 2020 e, a cada ano de atuação, a visualização de obras vem triplicando.
No discurso da plataforma, pontos como a defesa do cinema e o amor pela sétima arte são norteadores para a curadoria. Além do filme do dia, a Mubi prepara "especiais" que destacam filmografias de cineastas em específico, seleções de festivais ou temas aproximados.
Entre os especiais mais recentes construídos pela equipe curatorial, estão "David Lynch: Um Gênio Surrealista", que traz 13 curtas do cineasta estadunidense, "Obsessões Magníficas: Os Filmes de Pedro Almodóvar", que celebra a filmografia do espanhol, e "Foco em Veneza", com sete filmes exibidos em edições anteriores do festival italiano.
"A Mubi é uma empresa global de filmes e plataforma de streaming que defende o cinema - seja por meio da aquisição e distribuição de novos filmes ou licenciando filmes mais antigos, mas brilhantes, para a plataforma", resume Nathalia. Segundo ela, a Mubi Brasil também registra crescimento e alto engajamento de assinantes, o que se relaciona diretamente com as parcerias firmadas com iniciativas nacionais.
Recentemente, a plataforma exibiu filmes de festivais como o MixBrasil, Cabíria e Olhar de Cinema, além de também ter estabelecido acordos com o Canal Brasil, a distribuidora Zeta Filmes e o projeto Sessão Vitrine, da Vitrine Filmes.
"Estamos sempre em busca de novas parcerias, com o intuito de colaborar para a divulgação de incríveis cineastas e realizadores. Também entendemos que a Mubi é considerada uma plataforma importante e eficaz para filmes que não têm a oportunidade de serem exibidos amplamente ao grande público. Muitos deles são independentes e só podem ser vistos em festivais", desenvolve Nathalia.
O destaque dado às obras, ela aponta, é o diferencial. "Todos os títulos que mostramos na plataforma são escolhidos a dedo pela equipe de curadores da Mubi, que baseiam sua seleção de filmes na cultura e no cinema locais", explica. O contraponto à lógica do algoritmo é frontal.
Entre longas brasileiros disponibilizados na plataforma, estão os contemporâneos "Entre Nós, Um Segredo" (2020), de Beatriz Seigner e Toumani Kouyaté, e "Chão" (2019), de Camila Freitas, ambos disponibilizados em parceria com a Sessão Vitrine; e ainda o documentário "Piripkura" (2017), de Renata Terra, Bruno Jorge e Mariana Oliva, e o clássico "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), de Bruno Barreto.
A exibição da versão cinematográfica do livro de Jorge Amado foi programada para marcar os 45 anos de lançamento. "É um marco da história cinematográfica do país. Redescobrir essas obras é um dos nossos objetivos", ressalta Nathalia, que informa ainda que o longa vem figurando entre os mais assistidos da plataforma.
De "Titane" a "Memoria": lançamentos exclusivos dão força à plataforma
Ser não somente uma janela de exibição, mas também uma distribuidora de filmes, é um movimento recente para a Mubi, mas já demonstra a força adquirida pela plataforma. O selo "Lançamentos Mubi", descrito como uma "coleção exclusiva de estreias aclamadas de alguns dos nossos cineastas favoritos", inclui 85 obras, entre longas e curtas recentes ou clássicos restaurados. Do Festival de Cannes deste ano, em julho, o streaming saiu com os direitos de seis longas, entre eles o grande vencedor "Titane", de Julia Ducournau, e "Memoria", do tailandês Apichatpong Weerasethakul, também premiado no evento.
A Mubi ainda detém, ainda, os direitos do musical "Annette", de Leos Carax, que levou o prêmio de Melhor Direção e é originalmente uma produção Amazon, já estando disponibilizada na Prime Video em dezenas de outros países, mas com estreia na Mubi Brasil em 26 de novembro; do terror "Lamb"; do drama LGBT "Great Freedom" e da trama de amadurecimento "Unclenching the Fists", ambos premiados na mostra paralela Un Certain Regard, respectivamente, com o Prêmio do Júri e o grande prêmio.
Apenas "Lamb" foi adquirido antes da realização do festival, mas os outros cinco tiveram os acordos fechados antes mesmo das premiações. "Estamos muito orgulhosos do reconhecimento que eles receberam e mal podemos esperar para compartilhá-los com o público aqui no Brasil", celebra a gerente de marketing Nathalia Montecristo.
As estratégias de lançamento, porém, não estão ainda fechadas, e há possibilidade de exibição em cinemas. O precedente vem do recente lançamento de "First Cow", da cineasta Kelly Reichardt, para o qual a Mubi firmou parceria com a Vitrine Filmes. Assim, os direitos em streaming ficaram exclusivos para a plataforma e a exibição nos cinemas foi feita pela distribuidora. "Como somos proprietários de todos os direitos, isso significa que os filmes serão transmitidos exclusivamente na Mubi. Ainda assim, as abordagens de lançamento variam", adianta Nathalia. As datas dos outros lançamentos de Cannes ainda não foram divulgadas.
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