
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Naquela noite, todos dormiram juntos — uma ilha desordenada de braços, pernas, roncos e um ou outro fio de baba sobre travesseiros compartilhados. Ele acordou antes dos outros.
Olhou em volta. Não havia espaço, só ausência. A ausência dela. Levantou-se devagar. Chorou no chuveiro — não como quem desaba, mas como quem acompanha a alma sangrar.
Tentou fazer o café do jeito dela. Com aqueles detalhes que só ela sabia — os gostos, o ponto certo de cada um.
Ela conseguia transformar, num toque, a cozinha em abrigo cheiroso e requintado: pão quentinho, leite, geleia, iogurte, frutas e mel.
Ele não chegou nem perto. Toda imitação é ridiculamente patética. Principalmente a de normalidade.
As crianças comeram em silêncio. Um silêncio estranho.
Como se cada um estivesse com ela, em outro lugar. Só que sem as risadas. Ou brincadeiras. Um silêncio obsequioso. Como quem assiste ao filme mudo da ausência e já sabe o fim.
Pedrinho, com sua sinceridade desarmada, perguntou:
— Quando a mamãe volta do céu?
As irmãs não responderam. Guta se fez de forte, e fingiu não ouvir. Clarinha disfarçou as lágrimas que corriam lentamente em seu rosto. E colocou os cabelos para frente.
Ele quase respondeu, mas foi salvo por um som. As chaves giraram na fechadura. Por um segundo, acreditaram. Tudo poderia ser apenas um pesadelo.
Viraram-se todos — como se ela fosse entrar espalhando alegria, como sempre. Mas era a empregada, voltando do passeio e abaixando-se para tirar a coleira do cachorro.
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Nem reparou em suas feições. Nem nos olhos desapontados. Nem no estremecimento silencioso diante do baque da porta.
Baque que os fez voltar ao poço profundo e escuro da realidade. Ainda ficaram um tempo olhando para a porta. Por onde ela jamais entrará de novo. E, em silêncio, continuaram tentando viver.
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