Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
A Chacina do Curió fez cinco anos bem na reta final das eleições municipais de Fortaleza. E só não foi utilizada entre os dois adversários que lideram as pesquisas de intenções de votos porque ambos têm casa de palha em terreno de coivara.
Capitão Wagner (Pros) deixou quieto. Não ousou associar a imagem de Sarto (PDT) ao apoio do governador "dos Ferreira Gomes", como costuma repetir. Camilo, até hoje, não pediu desculpas às famílias dos 11 assassinados pelas mãos ou prevaricação de mais de 45 policiais militares.
Na madrugada de 11 para 12 de novembro de 2015, um bando de PMs à paisana e encapuzados invadiu a favela do Curió, na Grande Messejana, e promoveu uma noite de extermínio. O pretexto seria uma retaliação a traficantes que ameaçaram um soldado que morava no bairro.
Investigações da Corregedoria Geral de Disciplina e o entendimento do promotor Marcus Renan Palácio deram na denúncia de 45 policiais como carrascos diretos ou indiretos do morticínio. Desses, os juízes Luiz Bessa Neto, Eli Gonçalves e Adriana Cruz, tornaram réus 34 e excluíram um oficial do processo.
Pois bem, Wagner preferiu deixar de fora da campanha o horror da Chacina do Curió em um governo petista. Não sem motivo. Em 21 de novembro de 2016, quando ainda era deputado estadual pelo PR, o militar reformado anunciou na tribuna da Assembleia Legislativa que acamparia em frente ao 5º Batalhão em defesa dos policiais presos "injustamente". E assim o fez.
Para o capitão, construído para a política a partir de uma greve na PM em 2011, não era negócio se solidarizar com as famílias dos assassinados. Mesmo que entre os 11 executados, nove nunca tivessem passado por uma delegacia e dois respondessem processo por acidente de trânsito e o por não pagar pensão alimentícia.
Nem Wagner nem Sarto foram fazer campanha nas ruas onde ocorreram as execuções nem ousaram pedir votos às Mães do Curió.
Oito das vítimas das execuções "sumárias e aleatórias" da Chacina tinham 16, 17, 18 ou 19 anos de idade. Todos 'condenados' numa sentença extrajudicial, para lembrar o ex-secretário da Segurança do Ceará - Roberto Monteiro. Sina que se repete para centenas de adolescentes e moços pretos e pobres da periferia de Fortaleza.
E Sarto, por que não lançou mão do fato de o capitão se solidarizar com quem virou réu e não com as famílias dos emboscados? Dentro da linha adotada pelos marqueteiros do PDT, batendo na tecla de que Wagner liderou e apoiou uma greve e um motim de PMs, a ceifa do Curió seria "pólvora" para chamuscar o candidato de Bolsonaro.
Porém, tudo que Sarto expusesse contra o capitão respingaria na administração do principal garoto propaganda de sua campanha: o governador Camilo Santana. Quando a Chacina se deu, o petista tinha nove meses de palácio e uma relação ainda pior do que hoje com a tropa estadual.
Na época, Camilo foi protocolar e seguiu o rito de que a Controladoria Geral de Disciplina apuraria as responsabilidades. Fez o que manda a lei. No entanto, mesmo depois da denúncia do Ministério Público e da pronúncia da Justiça, continuou sem pedir perdão público. Uma ação civil da Defensoria Pública do Ceará, do ano passado, cobra o mea-culpa.
Camilo, que usou várias vezes as redes sociais para acusar Wagner de ser uns dos líderes do temeroso motim da PM deste ano, não agiu da mesma maneira ligando o capitão ao apoio de PMs réus pelo massacre do Curió.
Nem Wagner nem Sarto foram fazer campanha nas ruas onde ocorreram as execuções nem ousaram pedir votos às Mães do Curió.
Foram executados por PMs: Alisson Cardoso, 16, Jardel Lima, 17, Pedro Filho, 18, Alef Cavalcante, 17, Marcelo da Silva, 17, Patrício Leite, 16, Renayson Girão, 17, Valmir da Conceição, 37, Francisco Chagas, 41, Jandson Alexandre, 19, e José Gilvan, 41.
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