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Ir para Paris? Ser Bolsonaro?
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

Ir para Paris? Ser Bolsonaro?

Tipo Opinião
Col Demitre (Foto: CArlus)
Foto: CArlus Col Demitre

O modo que se faz política aqui nunca precisará de uma pandemia para se deslocar da "normalidade" nem para flertar com o sofisma do "novo normal".

Veja a esquerda em Fortaleza. Não se juntou no 1º turno para se afirmar como a alternativa a uma gestão menos elitista, mas se conforma em realinhar o voto, agora, para eleger o doutor Sarto.

Para o 2º turno passou a valer a justificativa de que a Cidade não precisa de uma extensão de Bolsonaro no Paço Municipal. Não é mentira.

Seria se entregar a mais dias de ansiedade. De aumentar as dúvidas, por exemplo, sobre a condução de um governo municipal alinhado com o capitão de Brasília que banaliza as mais de 168 mil mortes por Covid-19 e politiza a urgência da vacina. Desdenha da existência alheia.

Mas é interessante voltar no tempo. Quando Fernando Haddad mais precisou do voto do grupo político onde está Sarto, para tentar impedir a onda bolsonarista, Ciro Gomes foi a Paris. Ignorou a chegada do "novo normal" reacionário, de direita extrema, que tomaria conta do Brasil.

Mas se pensarmos na normalidade dessa política, tudo sempre ficará dentro da lógica de um ouroboros.

Ciro, anos antes, sentiu-se enganado por Lula que o preteriu. Depois de fazê-lo ministro e, provável, tê-lo engabelado com a possibilidade de lançá-lo substituto à Presidência da República, Lula escolheu Dilma e Haddad. E aí, um tempo depois, Ciro deu o troco pelo toco que tomou.

 

Para o 2º turno passou a valer a justificativa de que a Cidade não precisa de uma extensão de Bolsonaro no Paço Municipal. Não é mentira.

 

Ouroboros é uma representação mística que simboliza a continuidade circular, a autofecundação e, por isso, o eterno retorno. Tudo muda, mas nem tanto. A síntese do conceito é fundada numa serpente ou num dragão que morde e não solta o próprio rabo. E fica nisso.

Agora, milhares de eleitores de esquerda são culpados de véspera. Se não votarem em Sarto, carregarão o peso de abrir a porta para Wagner trazer Bolsonaro para dentro de Fortaleza. Um homem sem gentilezas, machista, misógino, homofóbico, belicista, mitômano, defensor da tortura e generais torturadores...

A corriola que sustenta Sarto não esboça carregar culpa alguma por ter deixado Haddad a ver navios e contribuído com a eleição de Bolsonaro, há dois anos.

Parece uma história que já vivi em relações puxadas pelo machismo. Durante o dia era um desamor só, uma desatenção sem fim com alguma companheira, e à noite queria transar nas nuvens. Independente da falta de afeto de um dia inteiro e dos abusos. Lógico que não irá rolar, ô babaca!

Durante o primeiro turno valeram as ofensas, valeu a misoginia contra Luizianne Lins, valeram os conteúdos falsos e o silêncio do próprio governador petista, Camilo Santana, que se rendeu a "normalidade" de um modo viciado de se fazer política...

Por outro lado, a ambiguidade toma conta dos discursos de Wagner e do senador Luís Eduardo Girão. São bolsonaristas de carteirinha, gritaram "mito, mito, mito" num comitê da Maraponga onde cobri a vitória dos dois e do capitão Messias.

No entanto, a todo instante, vivem na defensiva por causa da relação mal assumida, e agora incômoda, com o presidente que elegeram e apoiam.

Velhas retóricas, velhas normalidades.

 

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