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Um arrastão de machismo contra Mayra
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

Um arrastão de machismo contra Mayra

A tolice do "pênis da Fiocruz" produziu um efeito manada de machismo e misoginia contra a médica bolsonarista Mayra Pinheiro, apedrejada feito Geni
3005demitri (Foto: 3005demitri)
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Há alguns anos, fui procurado por uma pessoa para opinar contra um idiota que havia espalhado nas redes sociais fotografias da nudez da médica Mayra Pinheiro.

Um babaca que, não aceitando o fim do relacionamento com a ex-companheira, passou a atingi-la covardemente pelo que poderia constrangê-la na vida pública. Um médico também.

Independentemente de não concordar com as posturas da atual secretária da Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde, me dispus a ir atrás da responsabilização do "macho ferido".

Caso ela autorizasse, entraria em contato com uma promotora de Justiça e a própria médica pediria que se iniciasse o encaminhamento para a criminalização do espalhador das imagens íntimas.

Não me lembro do desfecho desse enredo da vida privada da médica. E, como nos relacionamos bem com o machismo, do feto até o caixão, a atitude do basbaque deve ter ficado por isso mesmo.

Nas últimas semanas, após o depoimento de Mayra à CPI da Covid, uma avalanche machista e misógina contra a médica tomou conta das redes sociais.

 

Não justifica a grosseria contra a condição do feminino em Mayra. Que seja posta no mesmo balaio dos negacionistas, no mesmo processo que responsabilizará quem empatou a compra de vacinas contra a Covid-19 e produziu mais de 457 mil mortes...

 

Memes, charges, manchetes de portais, piadinhas, debates televisivos e o diabo a quatro num efeito  manada. Até as fotografias da nudez voltaram a circular.

Tudo puxado por uma tolice sobre o falocentrismo da médica e do senador Randolph Rodrigues (Rede) - que considero sério e imprescindível. Uma bobagem pinçada no meio do rosário de asneiras bolsonaristas que Mayra destilou contra a Fiocruz.

Confesso, meu dedo esteve para curtir algumas publicações no Instagram sobre as idiotices do pau em nós. Mas fui me sentindo ridículo.

E mais constrangido com a barbarização preconceituosa contra Mayra. Sim, ela é machista também. É parte de uma "cadeia alimentar" - como já escutei de um colega babaca que gosta de "botar o pau na mesa" - de machos que gozam com a macheza.

Mas não justifica a grosseria contra a condição do feminino em Mayra. Que seja posta no mesmo balaio dos negacionistas, no mesmo processo que responsabilizará quem empatou a compra de vacinas contra a Covid-19 e produziu mais de 457 mil mortes...

Tão indelicados ficamos, talvez por causa da brutalidade do tempo Bolsonaro, que até mulheres curtiram e viralizaram uma charge escrota em que um repórter pergunta à médica:

"Dra. Mayra, é verdade o que dizem por aí? Que a senhora só pensa em sexo?" E em seguida o microfone está na boca da mulher desenhando uma felação. Há algo ali degradante, principalmente, contra a condição feminina.

O que há de mais em uma mulher só pensar em sexo? Qualquer uma que seja? O que há de sujo ou ridículo em dar ou receber sexo oral? Quem nunca fez fotos antes, durante ou depois de uma transa?

Mayra virou a Geni. Tão Geni quanto os cubanos massacrados no Aeroporto Pinto Martins por médicos e médicas também machistas. 

Feito qualquer um que poderá virar maldito ou maldita pela insanidade falocêntrica que não desocupa o corpo da gente. 

 

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