Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
A tolice do "pênis da Fiocruz" produziu um efeito manada de machismo e misoginia contra a médica bolsonarista Mayra Pinheiro, apedrejada feito Geni
Há alguns anos, fui procurado por uma pessoa para opinar contra um idiota que havia espalhado nas redes sociais fotografias da nudez da médica Mayra Pinheiro.
Um babaca que, não aceitando o fim do relacionamento com a ex-companheira, passou a atingi-la covardemente pelo que poderia constrangê-la na vida pública. Um médico também.
Independentemente de não concordar com as posturas da atual secretária da Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde, me dispus a ir atrás da responsabilização do "macho ferido".
Caso ela autorizasse, entraria em contato com uma promotora de Justiça e a própria médica pediria que se iniciasse o encaminhamento para a criminalização do espalhador das imagens íntimas.
Não me lembro do desfecho desse enredo da vida privada da médica. E, como nos relacionamos bem com o machismo, do feto até o caixão, a atitude do basbaque deve ter ficado por isso mesmo.
Nas últimas semanas, após o depoimento de Mayra à CPI da Covid, uma avalanche machista e misógina contra a médica tomou conta das redes sociais.
Não justifica a grosseria contra a condição do feminino em Mayra. Que seja posta no mesmo balaio dos negacionistas, no mesmo processo que responsabilizará quem empatou a compra de vacinas contra a Covid-19 e produziu mais de 457 mil mortes...
Memes, charges, manchetes de portais, piadinhas, debates televisivos e o diabo a quatro num efeito manada. Até as fotografias da nudez voltaram a circular.
Tudo puxado por uma tolice sobre o falocentrismo da médica e do senador Randolph Rodrigues (Rede) - que considero sério e imprescindível. Uma bobagem pinçada no meio do rosário de asneiras bolsonaristas que Mayra destilou contra a Fiocruz.
Confesso, meu dedo esteve para curtir algumas publicações no Instagram sobre as idiotices do pau em nós. Mas fui me sentindo ridículo.
E mais constrangido com a barbarização preconceituosa contra Mayra. Sim, ela é machista também. É parte de uma "cadeia alimentar" - como já escutei de um colega babaca que gosta de "botar o pau na mesa" - de machos que gozam com a macheza.
Mas não justifica a grosseria contra a condição do feminino em Mayra. Que seja posta no mesmo balaio dos negacionistas, no mesmo processo que responsabilizará quem empatou a compra de vacinas contra a Covid-19 e produziu mais de 457 mil mortes...
Tão indelicados ficamos, talvez por causa da brutalidade do tempo Bolsonaro, que até mulheres curtiram e viralizaram uma charge escrota em que um repórter pergunta à médica:
"Dra. Mayra, é verdade o que dizem por aí? Que a senhora só pensa em sexo?" E em seguida o microfone está na boca da mulher desenhando uma felação. Há algo ali degradante, principalmente, contra a condição feminina.
O que há de mais em uma mulher só pensar em sexo? Qualquer uma que seja? O que há de sujo ou ridículo em dar ou receber sexo oral? Quem nunca fez fotos antes, durante ou depois de uma transa?
Mayra virou a Geni. Tão Geni quanto os cubanos massacrados no Aeroporto Pinto Martins por médicos e médicas também machistas.
Feito qualquer um que poderá virar maldito ou maldita pela insanidade falocêntrica que não desocupa o corpo da gente.
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