Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Quando gentilmente me vacinaram na última quinta-feira, no posto de Saúde Mattos Dourado, na Água Fria, me senti com mais vontade ainda de ser um subvertido.
Subversão, a vacina mexeu ainda mais com os desejos coletivos e pessoais. Alguma pulsão de querer, sem trégua, que as coisas mudem severamente porque mais escrotas não poderão ser.
Sim, porque como escreveu Glória Diógenes, há muitos corpos que não aguentam mais tanto desamor e tanta falta de beijos que deixaram de ser beijados.
E fazemos o que com esses proibidos em meio a uma pandemia num País interditado por quem não ama nem a si próprio?
Uma amiga, a Valéria Pinheiro, deu uma resposta que é incêndio tipo aqueles naturais que a floresta precisa para renovar a vida pelo fogo curandeiro.
"Me deito sempre pensando nisso. E depois de tantos meses tendo que 'suportar o insuportável', acordo cada dia com mais respostas". Isso é subversão como mantra.
Antes de nos vacinarmos, parece, estamos no medo silencioso de sermos mortos com a desculpa de que foi a covid besta e teria de ter matança. Muitos teriam de morrer por destinação.
Um disfarce macabro para um projeto engendrado, intencionalmente por um narciso, para dizimar. Um nazismo à brasileira.
Ela é agressiva no corpo de quem não aguenta mais ser maltratado, ser violada, levar tiro na cara e ficar cego
Mas a vacina devolve ou refaz a possibilidade da subversão abatida ou pelejante, dia a dia, contra a maldade sem limites.
Renato Roseno foi feliz no que disse na tribuna da Assembleia. Você pode ser de direita, de centro ou de esquerda, mas permitir que a mentira seja a política permanente de governo é atentar, conscientemente, contra o próprio direito de continuar vivo. É também ser responsável por quase 500 mil mortos. É uma das verdades.
A vacina - qualquer uma delas - produz reações. E o de menos é a dor de cabeça, a febre, a fininha ou a quebradeira no corpo.
Ela é agressiva no corpo de quem não aguenta mais ser maltratado, ser violada, levar tiro na cara e ficar cego.
O imunizante é devastador. Devolve algo que foi assaltado, alguma coisa que poderá determinar um recomeço urgente e regenerativo.
Aviso logo, ela provoca "delírios comunistas" pela vida e mais reação contra o enterro permanente que nos tomou e nos fez chorar de longe por alguém próximo, um conhecido ou alguém do coração. E que não voltará feito o irmão do Henfil.
Ainda corro o risco de morrer contaminado, mas a reação que tive foi de mais subversão. Vacinar é "comunistamente" perigoso. Ele se destrambelha
Claro - não vacinar; querer empurrar a cloroquina sem eficiência para a covid; patrocinar e ganhar com um tratamento precoce; incentivar o descarte da máscara; expor mais e mais uma Manaus à contaminação - é estratégia de governo. Eficiente para o desaparecimento dos outros.
Tive uma morrinha depois de ser picado pela agulha da Astrazeneca, fiquei laricado. Uma fome doida por algo contra a maldade e a mentira. Com a sensação de que me ressarciram o que foi brutalmente sequestrado.
Ainda corro o risco de morrer contaminado, mas a reação que tive foi de mais subversão. Vacinar é "comunistamente" perigoso. Ele se destrambelha.
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