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A perversidade contagiosa de matar onça
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

A perversidade contagiosa de matar onça

O contágio da maldade fálica no País tirou da clandestinidade brasileiras e brasileiros perversos, à imagem semelhança do mitômano que cultuam. É a cultura arcaica do macho escroto
Tipo Crônica
coluna demitri 07.11 (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos coluna demitri 07.11

Substantivo feminino. Particularidade ou característica daquilo ou de quem é perverso. Em que há malvadeza; maldade. Ato ou comportamento perverso. Gênio ou caráter ruim, tendência para o mal. Facilmente corrompido. Em que há corrupção, depravação.

Qualidade de perverso. Carácter do que é desumano, cruel. Maldade, crueldade, corrupção dissimulada. Falso moralismo, ato perverso.

Perversidades é o plural de perversidade. O mesmo que: atrocidades, barbaridades, crueldades, improbidades, maldades, malignidades, malvadezas, truculências.

"O cara mata uma onça parda no Ceará e, achando pouco, a pendura para o escárnio. Faz vídeo, bate fotos e se expõe nas redes sociais. Não resiste à sedução do nu"

 

Perversidades é sinônimo de atrocidades. Intenção de fazer o mal ou de prejudicar. Malignidade. Palavras relacionadas: ruimente, iniquícia, nequícia, monstruoso. Índole ruim ou natureza ferina.

O desalmado tem relação com quem não se sensibiliza, não se comove com a tragédia do próximo, nem corresponde ao amor que recebe. Ou nunca recebeu.

Desumano, desnaturado. Filho de quem regou a ruindade e a indiferença sufocou a possibilidade de compaixão. Que se caracteriza pela rigidez e crueza. 

 

"Há quem poste passarinhos, lixo na barriga das tartarugas, o mar se afogando em Heineken e Coca-cola. Ou o Wagner Moura falando de Marighella e o terrorismo (bosta) do conservadorismo"

 

 

O cara mata uma onça parda no Ceará e, achando pouco, a pendura para o escárnio. Faz vídeo, bate fotos e se expõe nas redes sociais. Não resiste à sedução do nu, como se é no mais transparente da existência. No Facebook, no Instagram ou noutros sais de prata revelantes de nós.

Fixada ali, ele está nu ao lado da onça de Tarrafas. Para além da genitália balançando ou depilada. O corpo em delito para seduzir o outro, gritando para ser curtido também pela perversão.

Há quem poste passarinhos, lixo na barriga das tartarugas, o mar se afogando em Heineken e Coca-cola. Ou o Wagner Moura falando de Marighella e o terrorismo (bosta) do conservadorismo. Há perversidade também em tanta informação, faz desembestar a ansiedade do dedinho na timeline.

"O homem mata a onça "porque é macho, porra!". Honra as bolas e expõe o falo invisível no TikTok"

 

 

Mas essa perversão da solidão, do pavor de ser esquecido, é engolível. É foda, mas desce. Se empacha por causa de tanta coisa pra cegar, noutras faz gozar. Se estufa, o Luftal da (nunca feia) Ivete Sangalo pode aliviar.

Só não dá mais para engolir os contaminados pela perversidade do capitão. Um troço que faz na cabeça de alguém um estrago apodrecido. O homem mata a onça "porque é macho, porra!". Honra as bolas e expõe o falo invisível no Tiktok.

Macho que não suporta o ósculo entre dois super-homens ou Branca de Neve e Cinderela se pegando. E um vereador néscio, em Fortaleza, grava um vídeo caçando as placas de um banheiro diverso...

"Ele merecia isso: pau-de-arara. Funciona. Eu sou favorável à tortura. Tu sabe disso. E o povo é favorável a isso também"

 

 

A perversidade fálica está matando mais indígenas, mais onças e já fez mais de 600 mil defuntos da Covid. O perverso - macho, fêmea ou não binário - adora a arminha entre as pernas e bota bandeirinhas do Brasil no carro ou na janela do apê.

Ali, parece, está explícito: Nesta casa de família, neste automóvel cristão, todo apoio ao esculacho contra viados, sapatões, negros, trans e vagabundos que nem deveriam viver. E sem essa de povos originários e florestas sem garimpos.

A impressão que tenho, posso estar enganado, é que os apoiadores do perverso são a favor do estupro das filhas dos outros ("você não merece nem ser estuprada").

E sempre gozam a cada frase do capitão: "Para mim é a morte. Digo mais: prefiro que morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo".

"Ele merecia isso: pau-de-arara. Funciona. Eu sou favorável à tortura. Tu sabe disso. E o povo é favorável a isso também".

"E daí? Gripezinha... Não sou coveiro".


"Perverso: o mesmo que atroz, que apoia a perversidade. O mesmo que é indiferente com a onça esfolada, a mulher estuprada, a floresta derrubada..."

 

 

"Isso não pode continuar existindo. Tudo é coitadismo. Coitado do negro, coitado da mulher, coitado do gay, coitado do nordestino, coitado do piauiense. Vamos acabar com isso".

Quem apoia o capitão não é perverso também? Não experimenta a satisfação da maldade e da dissimulação? Queria entender os que são contra a tortura, mas vão votar ainda em quem goza com torturadores.

Perverso: o mesmo que atroz, que apoia a perversidade. O mesmo que é indiferente com a onça esfolada, a mulher estuprada, a floresta derrubada, a mãe sofrida por causa do filho morto por PMs...

 

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