Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Fuçar Fortaleza é um torvelinho. Um ato meio porco de ir cheirando a Cidade, removendo os entulhos, rastreando os pés de postes, lendo as mensagens nos muros por aí. Olhando o povo.
Fortaleza fede e cheira onde a gente quer prazer. Há mangas que colho do chão na Afonso Celso com Monsenhor Bruno, mas há também bostas ensacadas dos cachorros caros da classe média alta nas calçadas.
Geralmente, os habitantes pedantes - nativos, outros brasileiro e internacionais - delegam à moça empregada a andada com os "pets". Criaturas mais bem cuidadas do que os palhaços maltrapilhos, pedintes dos sinais vermelhos.
Vejo as moças (e senhoras) empregadas domésticas, quase todas negras, cedo pela manhã. Para cima e para baixo com os bichos de raça e a se acocorarem quando os "príncipes" e as "princesas" fazem suas dores de barrigas em jejum.
Os donos e donas um ou outro descem. A maioria sem saquinhos nas mãos para limpar o cocozinho de seus "filhos não humanos"
Os donos e donas um ou outro descem. A maioria sem saquinhos nas mãos para limpar o cocozinho de seus "filhos não humanos". Com os filhotes de gente limpamos as bundas e jogamos as fraldas no mar.
Pois bem, Fortaleza virou a cidade das calçadas, agora, cheias de cocô de cachorros que têm residência fixa. Fezes in natura ou plastificadas para o tempo cuidar.
A Cidade é uma surpresa a cada esquina. O @fortalezaordinária e o @suricateseboso que o digam. Leonardo Mota, Gilmar de Carvalho, Tarcísio Matos já anotam há tempos. Há marmotas - é parte da cultura de rua que fresca até com o vento. E há as caras-de-pauzisses. O descarado "migué" dos arrogantes, das carteiradas e da Lei de Gérson.
Ainda sobre os cachorrinhos. Noutro dia, no Parque do Cocó da Padre Antônio Tomás, vi um senhor empurrando um carrinho duplo para bebês. Achei massa aquele avô a levar os netinhos para passear na floresta cercada.
Em Fortaleza, os "pets" têm problemas psicológicos porque não sabem se ainda são cachorros e gatos. E, coitados, eles não têm culpa de nada. O mercado e os tutores entram no modo "sem noção".
E tomei um susto, depois ri. Eram dois cachorros no carro de nenéns. Inclusive deitados como tais, de barriga para cima e de sapatinhos de crochê. Nem sei como ele conseguiu humanizá-los tanto.
Em Fortaleza, os "pets" têm problemas psicológicos porque não sabem se ainda são cachorros e gatos. E, coitados, eles não têm culpa de nada. O mercado e os tutores entram no modo "sem noção".
Tenho pena de cachorros e gatos do frio vivendo nos 35º graus da Cidade Solar. E ainda sendo obrigados a vestirem "roupinhas de liquidificar" onde o corpo do bicho não pede nada.
Sobre os donos dos cachorros de orçamentos altos, ouvi um deles reclamando no elevador que as calçadas da Aldeota e bairros do entorno estão sendo tomados por "favelinhas" de papelão e troços.
Gente que se viu, mais ainda, na lona com a excrescência Bolsonaro e que - por sorte - escapou de morrer com a Covid-19
Verdade, são "casas" de pessoas. Boa parte catadores de material reciclável e famílias que não têm mais onde habitar.
Gente que se viu, mais ainda, na lona com a excrescência Bolsonaro e que - por sorte - escapou de morrer com a Covid-19. A saída foi fazer uma morada no passeio dos cachorros de alto orçamento.
Tem uma casa nada engraçada, com telhado de colchão e outros cacarecos, na João Cordeiro. Quase esquina com Heráclito Graça, atrás da Faculdade Ari de Sá. Perto da antiga fábrica de Grapette.
Há outra com seis redes atadas num muro baixo da Joaquim Nabuco, bem próximo ao Shalom da Maria Tomásia.
Outra, também, nas cercanias do restaurante La France. Na esquina da Antônio Justa com Leonardo Mota. Tem quarto bem arrumado, sala de visita, um sofá e uma cadeira de balanço velhas
Numa das esquinas do Hospital São Mateus há um iglu de um metro de altura onde mora um casal super constrangido por estar ali. Congela à noite com a neve de Fortaleza.
Outra, também, nas cercanias do restaurante La France. Na esquina da Antônio Justa com Leonardo Mota. Tem quarto bem arrumado, sala de visita, um sofá e uma cadeira de balanço velhas. E nas paredes, que não existem, uma tabuleta com o dizer "Deus abençoe e Feliz Natal".
Há dezenas dessas habitações inomináveis na Aldeota. Das janelas dos carros com ar-condicionado (porque o calor em Fortaleza está de matar quem não tem piscina nem pode chupar um Magnum), as pessoas se indignam.
Perdão, estou com sentimento de fim do mundo. Por mim, não adiaria mais. Espero que passe (por meus amores)
Fortaleza tem dessa gentalha que não apanha o cocô do pet na rua. Ou que recolhem, ensacam e rebolam na calçada, mas que não toleram pobre a construir barracos no meio do caminho dos cachorros de alto orçamento.
Perdão, estou com sentimento de fim do mundo. Por mim, não adiaria mais. Espero que passe (por meus amores). Abraços
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