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Territórios ocupados
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

Territórios ocupados

Cadê os beija-flores? As esperas para olhar brechas? As safadezas ao ouvido valendo tudo e nenhum pudor com palavra alguma que causasse lá na frente (e atrás) um gozo aterrador?
Tipo Crônica
Territórios ocupados  (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Territórios ocupados

Em princípio os homens e mulheres públicos, eleitos por alguma desilusão alheia, deveriam terminar seus mandatos com uma tornozeleira na canela. "Deveria", talvez, melhor substituí-la por "poderia". Tenho cá minhas dúvidas, são os acochambros.

Benjamin Netanyahu era um. Promove espetáculos de assassinatos em massa contra palestinos e não terá remissão nunca. Mais de 14 mil palestinos e crianças em especial, e exterminá-las por terroristas?

Imagine se Elmano de Freitas (PT), um político não tão diferente dos outros, mandasse a polícia invadir cada faixa de Gaza aqui de Fortaleza e de outros arrondissements de desterros humanos por causa do "terrorismo faccionado"?

 

O teatro do mundo, esta falência, gora a vida. Sempre, em descontínuos e justificativas para exterminar alguém, alguma floresta

 

Furto uma frase do amigo de futebol e de acasos Manoel Ricardo de Lima, poeta anti circular, um desfeito quase toda hora. E aí está a boniteza no apuramento do olhar dele sobre as merdas. O teatro do mundo, esta falência, gora a vida. Sempre, em descontínuos e justificativas para exterminar alguém, alguma floresta, um rio, vacas de bifes e meninas em imposição de nascença para o feminicídio!

Estou enfaroso, criticou-me uma pessoa que amo. Em estado de enfaro, de tédio, de aborrecimento. Mas foi uma declaração de amor, senti-me assim. Embora não ame mais meu corpo, franzino e forte, quando nos cruzamos feito cães sem plumas e engatados por mais de meia hora.

Cadê os beija-flores? As esperas para olhar brechas? As safadezas ao ouvido valendo tudo e nenhum pudor com palavra alguma que causasse lá na frente (e atrás) um gozo aterrador? Israel, palestinos, Netanyahu, facções criminosas, racismo e, agora, documentários sobre mais crimes? Você não muda a rotação?

 

Explodir as casas e matar os cajueiros cheios de outros microuniversos além dos cajus? 

 

Imagine Elmano de Freitas, um rapaz da ex-pacata Baturité, para resolver o machismo atávico ordenasse arrepiar nas comunidades? Mais ainda do que arrepiam as polícias? Estourar bombas, torturar e fazer cerco onde as facções estão? E não se importar com maioria não faccionada? Eliminar tudo?

Explodir as casas e matar os cajueiros cheios de outros microuniversos além dos cajus? Desmanchar em poças de sangue recém-nascidos porque estão nas zonas facciosas e onde os governos perderam o domínio?

As polícias já fazem uma parte disso, é verdade. Mas Elmano não ousaria desfazer o faz de conta de que o Estado é quem "controla" a maior parte dos territórios das quebradas. As polícias continuam bordoando nas zonas das favelas, mas o governador não institucionalizaria um massacre.

 

Ora, estiveram por lá também e nenhuma favela do Ceará teve o gostinho de ter pelo menos 20% do que há nas zonas dos ricos

 

Engraçado é ler Tasso, Ciro, Roberto Cláudio e Sarto criticando o horror das facções e do crime desvairado já bem perto da calçada deles. Ora, estiveram por lá também e nenhuma favela do Ceará teve o gostinho de ter pelo menos 20% do que há nas zonas dos ricos.

Nenhum governador do Ceará, nenhum prefeito de Fortaleza, desde a redemocratização capenga do País, ousou inverter de vez a prioridade. Não foi Gonzaga Mota. Não foi Jereissati. Não foi Ciro nem Lúcio. Nem Cid Gomes, não foi Camilo Santana... nem será Elmano que dará um cavalo de pau na favela a partir da favela. Continuará havendo lampejos e será cordelizado como feito.

Penso numa peça boa de teatro para desmorrer. Talvez um espetáculo de dança, querendo ser aqueles bailarinos. Corpos impossíveis, homens desejáveis e mulheres ali no palco esperançosas de dança. Algo que eu saísse flutuando no meio do mundo que gorou e vive de sobejos do iFood e um bando de miseráveis se matando em motos.

 

Bons momentos descolados da caretice das novas gerações e de conservadores carcomidos 

 

Voo terminar no mangue, meu corpo pra lá e pra cá na maré baixando e eu finado. Saudoso das transas bem prazeradas com quem fui deitado ou me deitei. Da mulher que um dia me pegou por trás e murmurou que sentia falta de um falo pra me invadir o machismo e o medo de outro corpo. Bons momentos descolados da caretice das novas gerações e de conservadores carcomidos.

 

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