Demitri Túlio é editor-adjunto do Núcleo de Audiovisual do O POVO, além de ser cronista da Casa. É vencedor de mais de 40 prêmios de jornalsimo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. Também é autor de teatro e de literatura infantil, com mais de 10 publicações
Por mim, se eu soubesse, transformaria desenganos em poemas. Coisas bonitas feito a feiura atraente da libélula, a palavra alada é mais bonita que o bicho categorizado. Cheio de voos, asas inquebráveis e os mané-magos costurando infâncias e avoações.
Os vagalumes também. Testemunhei abundância de fadinhas piscantes, pirilampos depois de um dia chuvoso e o junco acendendo e apagando. Não os vejo mais na Cidade que já os teve, aos milhares, ou eles a possuíam e foram extinguindo o pueril.
"Por que tanta divagação desenxabida? Não sei certeza"
Insisto, aqui não será uma crônica. Nem um romance, um ensaio e menos ainda assinaturas literárias "vencidas" pelos posts e o jornalismo menos reporteiro, numa aceleração errática. Posta e depois corrige! Dá primeiro do que todos.
Talvez, repórteres novéis sejam assim, dessa forma. Inteligentes artificiais, pouco interessados nos abissais, nas escutas e nas interrogações infantis primorosas. Provavelmente não terei a nostalgia dos tomados pelas bigs techs.
Por que tanta divagação desenxabida? Não sei certeza. Talvez porque não quisesse falar sobre facções criminosas e a impossibilidade de reversão do Estado seletivo na maioria das vidas que se ausenta.
"Não perdi ainda a virtude da desconfiança. Resta algum sobejo de inquietação"
Não dá para costurar uma prosa poética entre homicídios, ataques a provedores de Internet, chacinas a qualquer instante e um repórter sempre contando. Assim: quantos tiros (já viram banalidades)? Tinham crianças? Havia palestinos sendo exterminados por israelenses?
Não perdi ainda a virtude da desconfiança. Resta algum sobejo de inquietação para passar, nunca o mesmo, na esquina que também se derrete no sol que cai em Fortaleza. Da árvore que estava ali, na semana passada, por mais de 50 anos e resta um toco.
Vou parar de me esquivar de escrever. É violento mesmo a Cidade sem poemas. Ou somente alguns comerem a poesia de gosto inquietante. "Ovula na minha boca", vi por aí atrás de um convento, perto do 23º Batalhão de Caçadores.
"Não há muros, com o "cê" e o "vê", pintados apenas nas ocupações onde o "medo" virou "paz""
A narrativa antipoética está nos muros e no medo. Fortaleza, me disse um promotor de Justiça do Gaeco, está dominada pelo Comando Vermelho (CV).
"Serão abatidos noviços. Difícil atravessar a existência até o dia do abissal"
Aqui, nas favelas e ajuntamentos, ficam os "correrias". Naipe de serviçais da casta bandida que imita o capitalismo até nisso. Os desprivilegiados do crime, aqueles de cumprir as matanças, as chacinas, os recados e o tráfico entre os territórios. E morrer.
Serão abatidos noviços. Difícil atravessar a existência até o dia do abissal, nunca serão semelhantes aos faccionados das licitações fraudulentas, da Transpetro pilhada, dos orçamentos secretos e das emendas pix.
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