Logo O POVO+
De Elis a Sinatra, Chico Batera revisa 60 anos de música em autobiografia
Foto de Marcos Sampaio
clique para exibir bio do colunista

Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

De Elis a Sinatra, Chico Batera revisa 60 anos de música em autobiografia

Baterista e percussionista que já acompanhou Elis, Sinatra, The Doors e outras estrelas, Chico Batera lança biografia no Cantinho do Frango nesta quinta, 18
Chico Batera lança autobiografia em Fortaleza contando seus mais de 60 anos de música (Foto: Beto Carvalho/ Divulgação)
Foto: Beto Carvalho/ Divulgação Chico Batera lança autobiografia em Fortaleza contando seus mais de 60 anos de música

É grande a tentação de começar com uma lista: Ella Fitzgerald, Milton Nascimento, Chico Buarque, Frank Sinatra, Simone, João Bosco, Jorge Ben... Elencar os nomes com quem Chico Batera já trabalhou é uma tarefa hercúlea e o resultado, muito provavelmente, iria esquecer um nome ou outro. São 81 anos de vida (completados na segunda-feira, 8 de abril) e cerca de 60 dedicados à música.

Essa história, que começa lá nos anos 1960, vendo escolas de samba e a movimentação em torno do surgimento da bossa nova é tema do livro “Memórias de um músico brasileiro”, que Chico Batera lança nesta quinta-feira, 18, no Cantinho do Frango. O evento, que mistura show e bate-papo, conta com participações do baixista Jorge Helder, do compositor Fausto Nilo e da cantora e maestrina Aparecida Silvino.

Chico Batera  com Chico Buarque(Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Chico Batera com Chico Buarque

Com um currículo invejável, que passa por muitos continentes, o carioca Francisco José Tavares de Sousa guarda o Ceará num lugar especial do coração. Até já pensou em morar aqui numa época em que fazia muitos shows pelo Nordeste acompanhando Fagner. “Comecei a me adiantar, conhecer as pessoas, gostar. Aí cheguei pro empresário do Fagner, acabou uma temporada e falei ‘não vou voltar, não’”, conta ele que foi vencido numa ligação que fez para a filha pequena que ficou no Rio. A saudade falou mais alto.

Leia também | Deepfake, dublês e pro tools: As mentiras sinceras do mundo da música

“Fortaleza, na época, não tinha tanto mercado de trabalho como tem hoje em dia para o músico. Então, comecei a ver dificuldade, embora com muita vontade de ficar aí por causa da cidade, dos amigos. Trinta anos atrás, eu não sei se em Fortaleza eu teria campo para trabalhar. Eu ou outro músico qualquer, entendeu? Mas Fortaleza está no meu coração desde sempre. Não é à toa que quem escreveu o prefácio do meu livro foi o Fausto Nilo”, relembra.

E o campo de trabalho que Chico Batera conquistou é algo que merece nota. Ele gravou com João Gilberto no México, com o grupo Som Imaginário no clássico “Matança do Porco” (1973) e com Djavan no álbum “Alumbramento” (1980). Esteve ao lado de Tom Jobim, Elis Regina e César Camargo Mariano na gravação do histórico “Elis&Tom” (1974). Com Elis, ele também gravou no disco de 1973 (“Oriente”, “Ladeira da preguiça”) e tocou no lendário show do Festival de Jazz de Montreux, em 1979. Por falar em lenda, ele também acompanhou Lee Ritenour, Joni Mitchell, Sarah Vaughan, Cat Stvens e Quincy Jones.

Chico Batera com Rita Lee(Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Chico Batera com Rita Lee

Mas essa história começa com uma tia o levando para ver uma escola de samba. “Esse nome ‘escola de samba’ vem bem a calhar porque é um aprendizado mesmo. Eu garoto com quatro anos, a primeira vez que escutei a bateria de uma escola de samba, nunca mais esqueci”, lembra ele que nasceu em Madureira, entre as escolas Portela e Império Serrano. “Foi importantíssimo para mim. Minha infância em subúrbio, se não fosse lá, depois virando músico, eu tenho certeza de que seria bem diferente. Não sei se melhor ou pior. E vivia ali cercado. Quando comecei a tocar, já 10 anos depois, aquela vivência no subúrbio, tudo aflorou”, conta.

Leia Também | Anitta, Flora Purim, Boca Livre e a história do Brasil no Grammy

Essas e outras histórias, como quando tocou no último disco da banda The Doors (já sem Jim Morrison), ele foi reunindo de memória para contar no livro. O que ia faltando ou precisando confirmar datas e detalhes, ele buscava na internet. “Foi a pandemia. Eu fiquei em casa sem nada para fazer, bicho. Há muito tempo eu já pensava (em escrever) e muitas vezes falava para amigos. É muita história, muito tempo. Mas eu nunca levei muito a sério. E aí, quando veio a pandemia, eu fiquei trancado e a Marisa (esposa) ficou me incentivando”, conta ele sobre registrar sua história.

Desde os primeiros anos frequentando o Beco das Garrafas e vendo a nata da música instrumental ou quando ouviu Maysa cantando “O barquinho”, acompanhada do Tamba Trio (com Helcio Milito na bateria), a música foi fazendo parte da sua vida. Depois, perto dos 20 anos, veio o convite para ir aos EUA acompanhando Sergio Mendes. Aí ele foi assistindo, acompanhando, admirando nomes como Milton Banana, Dom Um Romão, Naná Vasconcelos, Airto Moreira, Edson Machado e outros mestres da percussão brasileira até ele mesmo fazer parte dessa lista.

Chico Batera com Sérgio Mendes(Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Chico Batera com Sérgio Mendes

“Vou ser sincero, o cara que consegue, desde os 16 ou 17 anos de idade até fazer 81 anos, viver de música no Brasil já é uma aventura especial”, avalia Chico Batera que afirma ter tido muita sorte de nascer aqui, na hora que nasceu a bossa nova. “No Beco, toda noite eu via os melhores bateristas, diferentes estilos da bossa nova. Eu tinha aqueles caras ali toda noite na minha frente, tocando. E eu querendo aprender. Quer dizer não tinha melhor lugar, não existiria”, acrescenta ele resumindo o que é preciso para ser um bom baterista. “Olha, nascer aqui no Brasil já é um bom começo. Não é porque eu estou nessa de brasilidade, empolgado. A verdade é a nossa etnia. Aqui nós temos a mistura da África presente. Você vê que os nossos vizinhos aqui, que não têm o negro na composição, a música popular não tem o poder que tem aqui no Brasil. Então, o cara que nasce aqui já leva jeito, já leva vantagem”.

Lançamento "Chico Batera - Memórias de um músico brasileiro"

  • Quando: quinta-feira, 18, às 19 horas
  • Onde: Cantinho do Frango (Rua Torres Câmara, 71 - Aldeota)
  • Entrada gratuita
  • Preço do livro: R$ 70
  • Mais informações: @cantinhodofrangooficial

 

Foto do Marcos Sampaio

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?