
Redatora de Capa e Farol do O POVO. Quadrinista e jornalista entusiasta de temas relacionados à saúde e bem-estar. Uma ex-sedentária em busca de se manter em movimento
Redatora de Capa e Farol do O POVO. Quadrinista e jornalista entusiasta de temas relacionados à saúde e bem-estar. Uma ex-sedentária em busca de se manter em movimento
Eu não sei nadar. Foi essa a constatação que fiz no meu primeiro minuto dentro da piscina do Sesc Ceará, onde eu passaria a próxima hora. Cria do rio Jaguaribe, banhada em águas de açude e com uma infância sem traumas com férias no litoral, eu tinha esta certeza muito incrustada em mim: eu sei nadar, me viro bem, não me afogo. Já é suficiente, não é? Mas aí, veio a primeira aula e, sem fôlego, descobri que até respirar, o princípio básico, é diferente.
Inspira pela boca, expira pelas narinas, vira a cabeça de lado para puxar o ar a cada três ou quatro braçadas, não ergue muito o tronco, as mãos entram sem levantar muita água na superfície, e as batidas das pernas são impulsionadas pelo quadril e não pelo joelho. São tantas as instruções para coordenar num corpo completamente desabituado, que uma professora, vendo a minha confusão, tentou me acalmar: “É como guiar um carro, aperta a embreagem, enquanto passa a marcha, segura a direção e olha pro trânsito”. Bem, eu também não sei dirigir.
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Professor de natação no Sesc, onde fiz duas aulas, Luis Cleber de Souza trata de me tranquilizar. “Se você consegue sair de um ponto A a um ponto B em uma determinada profundidade, sem a necessidade de colocar o pé no chão, sim, você nada. Mas, quando a gente estuda técnica, consegue otimizar esse nado”, garante o profissional de Educação Física.
Passado o desespero inicial em que me vi repetindo na cabeça as orientações entremeadas por um “não se afobe, que nada é pra já” feito mantra, em algum ponto o nariz se habituou ao cloro, a gravidade impulsionou e o corpo relembrou as brincadeiras de criança. Não fica fácil. Mas fica mais divertido. “Algumas pessoas experimentam e acabam se apaixonando, porque a modalidade na água proporciona um prazer, é revigorante”, detalha Cleber, citando ainda gasto calórico, melhora do condicionamento cardiovascular, aumento da capacidade pulmonar (sendo, inclusive, recomendado para quem tem histórico de asma) e alta da resistência muscular como benefícios físicos da prática. Além, claro, de ser uma habilidade de sobrevivência.
Cleber me conta que três aulas por semana por um ano me fariam ter certo domínio dos quatro estilos de nado — crawl, costa, peito e borboleta. Mas juntei os ensinamentos de duas aulas e um tantinho de coragem e, literalmente, me joguei no mar. No Espigão do Náutico, na avenida Beira Mar, deixei as raias e os metros certinhos de lado, e meus guias eram os banquinhos à direita e os postes logo à frente, do L que o espigão faz na orla. A segurança da borda da piscina foi substituída pela boia de EVA número 3, a quem muito me afeiçoei. E, por uma hora, minhas pernas não tiveram sossego: é que sem o chão ali pertinho, as pernadas para estabilização são constantes.
Não sei se foi o arco-íris que me brindou tão logo eu entrei no mar às 6h30min, ou a confiança adquirida nas aulas anteriores, ou se foi a perspectiva de ver Fortaleza de um ângulo diferente, ou mesmo a água salgada e sem cloro — minha rinite agradece —, mas, no mar, nadar pareceu ainda melhor.
“É o ambiente, é estar na natureza”, opina a instrutora de nado em águas abertas Ruth Ponciano. Foi ela, com a equipe da Sharks Sports, que orientou minha pequena aventura pelo reino das águas salgadas. Ruth coleciona histórias de gente que superou medos ao se permitir entrar no mar. “Muita gente chega com medo, teve um trauma e nunca aprendeu a nadar. Claro que, quando se trata de mar, a gente precisa ter um respeito, né? Esse medo é importante, mas, só de chegar até aqui já é uma superação”, estimula.
A servidora pública Glauce Siebra, 51, decidiu aprender a nadar aos 50 anos. A ideia era só ter mais segurança na água para ir remar com os amigos. Mas virou paixão. “Eu não sabia nadar, nunca nadei nem em piscina. Mas lembro que na primeira vez que nadei no mar, deixando o flutuador de lado, me movimentando, nesse dia eu fiquei tão feliz, que tudo que aconteceu de ruim comigo durante a semana, eu pensava nesse momento e pronto, passava. E, desde então, cada avanço é uma conquista valiosa. É uma alegria, o mar me fez feliz”, relata.
Compartilho o sentimento. Nadar, além de feliz, me revigorou. E nadar no mar vai talhando com água na gente a observação e a resiliência: de se compreender pequeno e com muito a aprender. Agora, quero dar uma volta inteira no Espigão. E continuar a nadar.
Sesc Ceará
Onde: rua Clarindo de Queiroz, nº 1740 – Centro – Fortaleza-CE
Informações: (85) 3270 5400
Faixa etária: Acima de 03 anos.
Duração da aula: 50 minutos
Frequência: 2 vezes ou 3 vezes/semanas (segunda, quarta e sexta; terça e quinta; quarta e sexta)
Sharks Sports
Onde: avenida Beira Mar, na altura do Espigão do Náutico
Informações e agendamentos: (85) 99210 7425
Duração da aula: 60 minutos
Instagram: @sharks.sports
Ruth Ponciano, instrutora de nado em águas abertas
O POVO - Quais os principais benefícios da prática?
Ruth - O principal benefício da prática é a melhora do sistema cardiovascular e respiratório. Você adquire um pouco mais de resistência, vai melhorar seu condicionamento, consequentemente. A gente tem benefícios na saúde mental, para controle de ansiedade, depressão... Até mesmo do estresse do dia a dia, você consegue desopilar com o contato com a natureza, aqui no mar, por exemplo. Você vem de manhã, vê o nascer do sol lindo e de tarde é um pôr do sol lindo. Hoje, a gente estava com um arco-íris incrível aqui. Então, assim, é um benefício mental muito bom mesmo e físico da mesma forma. A água é um ambiente bem terapêutico. Então a gente consegue tratar, na verdade, algumas patologias como dor na coluna, algum desvio na coluna, até hérnia também. A gente consegue tratar na água, porque a água tira o peso dessa gravidade, né? E no mar, que é um pouquinho mais denso, então a gente consegue trabalhar sem gerar algum dano ou impacto.
Luis Cleber de Souza, profissional de Educação Física
O POVO - Se você precisasse convencer alguém de que aderir a natação faria mudanças na vida dela, o que você falaria isso para ela?
Cleber - Em se tratando do ambiente que eu estou inserido aqui, que é o Sesc, não tem como eu não pontuar a questão social. O fato de você desenvolver uma sensação de pertencimento a um determinado grupo, você estar inserido num calendário de atividades, de você desenvolver uma rede de amizades, para mim, sem dúvida nenhuma que, muito embora os benefícios físicos, fisiológicos sejam tamanhos, mas, de longe, eu apontaria para a vivência emocional, para essa questão do social. A gente percebe que a sociedade tem desenvolvido muitos problemas mentais: ansiedade, estresse, depressão e, principalmente, com a pandemia em que nós tivemos os períodos de isolamento, muita gente desenvolveu algum problema mental. Hoje, as coisas estão todas virtuais, as amizades são virtuais, o mundo está muito líquido, de maneira geral, um mundo muito líquido, muito raso, com relações muito rasas. Então, fato de você estar inserido em um grupo e ter essa rede de apoio, contar com a companhia das pessoas, vai te dar uma sensação de pertencimento, que vai fazer com que você saia dos muros do Sesc e consiga construir um relacionamento de amizade. Pra mim é, sem dúvida, o maior benefício que a natação pode oferecer.
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