Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Dos secretários que se despedem do governo Camilo Santana (PT) até amanhã, três representam uma grande mudança administrativa. Dois deles comandam duas das pastas com intervenções mais capilarizadas e presentes nos municípios. Um é Zezinho Albuquerque, das Cidades, e outro Diassis Diniz, do Desenvolvimento Agrário. São duas estruturas capazes de projetar politicamente quem as ocupa. Um exemplo: no primeiro governo Cid Gomes, o secretário do Desenvolvimento Agrário era Camilo Santana. Em 2010, concorreu a deputado estadual e foi o mais votado do Ceará. No segundo governo Cid, foi secretário das Cidades. Saiu de lá para ser eleito governador.
Outra mudança numa área central do governo é na Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag), com a saída de Mauro Filho (PDT). Porém, como Mauro durante parte considerável dos últimos três anos se afastou da pasta para exercer o mandato de deputado federal, será uma substituição sem muito sobressalto.
Não é a economia ou a liberdade, é desprezo pela vida
O presidente Jair Bolsonaro tirou seis dias de férias na semana passada, passou três dias em Brasília, de sexta a domingo, e saiu para mais uma semana de férias, com previsão de retorno na segunda-feira, 3. Uma festa.
Na semana passada, no Guarujá (SP), ele pescou perto de ilha de cobras venenosas, passeou de moto aquática, foi a culto, dançou funk, comeu pastel e apostou na Mega da Virada. Esta semana, foi a São Francisco do Sul (SC). O presidente deverá emendar 13 dias de férias entre dezembro e o começo de janeiro.
Nesse meio tempo, a Bahia atravessa uma calamidade, com fortes chuvas e cenas aterradoras. Morreram pelo menos 20 pessoas até ontem. Os desabrigados passam de 31 mil. Quase meio milhão de pessoas foram afetadas. E o presidente passeando.
Na pandemia de Covid-19, no primeiro momento, parecia que o desdém de Bolsonaro pelas mortes — "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?" — era uma postura de defender a economia contra as restrições. Porém, o presidente passou a se contrapor às principais medidas para evitar impactos econômicos e permitir a retomada das atividades o mais próximo possível da normalidade. Criticou máscaras, vacina, passaporte vacinal. Então, os aliados passaram a dizer que era uma defesa da liberdade, ainda que custasse a vida.
O que se vê no caso da Bahia é se tratar mesmo de indiferença, descaso, desprezo pela vida. O presidente da República não se importa, não é afetado e finge que não são com ele as tragédias que afetam o povo. Não me incomodo pelos períodos em que Bolsonaro está de férias. Cada dia de serviço é um prejuízo para o povo, para o Brasil, para a inteligência e a civilização. Quando ele não trabalha é um alívio. Porém, tragicamente, para além do indivíduo há o cargo que ocupa. É triste que a Presidência da República seja exercida com semelhante descaso pelo povo que governa. As férias são um mero símbolo.
Para quando voltar ao trabalho, Bolsonaro já agendou compromisso para 5 de janeiro: pelada com os cantores sertanejos Gusttavo Lima e Marrone, em Goiás. Um deboche.
Este ano faz 90 anos da morte de um símbolo: o bode Ioiô. Ou Yoyô. Escrevi sobre ele para o O POVO Mais. Na parte que interessa para a política, conta-se que ele foi muito bem votado para vereador em Fortaleza, em 1922. Foi um precursor, assim, do rinoceronte Cacareco, em São Paulo, e Macaco Tião, no Rio de Janeiro. Era manifestação do tempo do voto em papel — que tem seus saudosistas. Um protesto contra as excelências, colocar o bode acima deles. Aliás, hoje o fato de estar no Museu do Ceará continua essa espécie de desacato às instituições mais vetustas.
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