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De olhos bem abertos para a transição
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

De olhos bem abertos para a transição

Pipocam histórias de ações postas em prática por quem ainda está na cadeira na perspectiva apressada de ajustar as contas de última hora ou, por outro lado, com objetivo aparente de criar embaraço para quem assume dia 1º de janeiro
Tipo Opinião
2010gualter (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos 2010gualter

O quadro já foi pior, sem regra e dependendo apenas de uma boa vontade que quase nunca existia entre as partes, mas o fato é que não está bonito o processo de transição em boa parte dos 38 municípios cearenses nos quais venceram candidatos de oposição. Pipocam histórias de ações postas em prática por quem ainda está na cadeira na perspectiva apressada de ajustar as contas de última hora ou, por outro lado, com objetivo aparente de criar embaraço para quem assume dia 1º de janeiro. Afinal, diz o raciocínio torto, o problema é de quem está chegando.

Roberto Costa Filho (PSDB), eleito prefeito de Iguatu com muitas críticas ao atual ocupante Ednaldo Lavor (PSD), é um dos que está botando a boca no trombone. Segundo ele, mensagem encaminhada à Câmara de Vereadores depois das eleições propõe aumento para R$ 25 mil nos salários do Chefe do Executivo, medida que teria forte impacto nos gastos gerais com pessoal da prefeitura, pelo efeito cascata. Seu esforço, hoje, é de reverter a história e impedir que ela seja levada adiante, tudo isso, sem se desgastar com a parte do funcionalismo que seria diretamente beneficiada. Inclusive os próprios vereadores.

Outro caso tornado público, até parece que mais grave, dá-se em Pacatuba, na Grande Fortaleza, onde mensagem encaminhada ao Legislativo prevê o parcelamento em 60 meses da dívida do Município com a previdência social. A prefeita eleita, Larissa Camurça (União Brasil), acusa Rafael Marques (PSB), atual gestor, de tentar comprometer todo o seu mandato, e mais doze meses que transbordariam para um seguinte, através de uma decisão que, diz ela, não deveria ser adotada em plena transição, atropelando regras básicas de respeito ao momento. Ainda mais quando inexiste qualquer diálogo entre quem entra e quem sai.

Há outras situações do tipo (ou semelhantes) circulando e claro que para cada uma delas há necessidade de melhor apuração pela possibilidade real de estarem turbinadas pelo componente político, com resquícios ainda de uma temporada eleitoral que mal se encerrou. Melhor, então, buscar informações confiáveis onde está montada uma estrutura de acompanhamento das transições nas prefeituras, inclusive com times preparados para, havendo necessidade, deslocar-se de maneira emergencial e imediata até onde a denúncia estiver apontada para fiscalizações, auditorias ou o que valha. No caso, o Tribunal de Contas do Estado (TCE).

O momento atual é de acompanhamento, segundo informa Cristiano Goes, diretor de Fiscalização de Atos de Gestão do TCE. "Temos orientado para criação de comissões de transição, buscando ajudar através de modelos de decreto, apontando o que é exigido, documentação etc", disse à coluna, a partir de uma instrução normativa ainda da época do TCM. Há, além disso, uma cartilha sendo distribuída e um site que disponibiliza todas as orientações necessárias. Na avaliação dele não há como qualquer gestor sainte justificar a opção, se feita, por não organizar a passagem de cargo dentro de um respeito básico ao interesse público.

Apesar disso, nos registros do Tribunal constam apenas 4 municípios com comissões de transição formalizadas, o que não representa, necessariamente, todos os casos nos quais adotou-se alguma civilidade na passagem de poder. Em muitas situações há um acerto local que funciona, relata Cristiano, com a experiência de quem vivencia o quadro pós-eleitoral desde 2016, pelo menos. Lembre-se que, no total, 91 municípios cearenses terão novos prefeitos a partir do próximo ano, contados também aqueles nos quais venceram os candidatos "da continuação".

O balanço final será feito dia 16 de novembro, quando termina o prazo legal para que as regras de transição estejam definidas e o TCE comece a botar seu time em campo de verdade, saindo da fase atual em que prevalecem apenas a observação e o monitoramento. Sobre isso, inclusive, um aviso importante aos desavisados: os técnicos lançam uma lupa diária sobre as redes sociais e acompanham tudo que é publicado acerca dos tais 38 municípios nos quais a oposição venceu a situação. Portanto, de um lado e de outro, segurem a empolgação porque pode lhes custar uma visita fora da agenda.

O investigador investigou

Dos quadros da Polícia Civil, o vereador reeleito Inspetor Alberto (PL) diz ter descoberto, a partir de investigação própria, o responsável por abastecer com informações o Capitão Wagner, então candidato do União Brasil à Prefeitura de Fortaleza, na denúncia de que haveria nepotismo cruzado entre seu gabinete e o do deputado federal André Fernandes. "Foi um ato de vingança de uma pessoa que demiti porque vivia falando mal do André", alega, considerando que não poderia tolerar aquele comportamento em relação ao seu líder, que às vezes chama de chefe. Quanto a Wagner, o Inspetor diz que está perdoado porque teria sido "induzido ao erro".

 

Um sinal de boa vontade

Há um cálculo político justificando o movimento, até inesperado, do deputado federal Moses Rodrigues, do União Brasil, em apoiar Evandro Leitão (PT) no segundo turno de Fortaleza. O pai dele, Oscar Rodrigues, também UB, acaba de ser eleito prefeito de Sobral com discurso fortemente oposicionista, abraçado a Jair Bolsonaro etc, mas, claro, a partir de 2025 precisará de boa relação com os governos petistas do Ceará e do Brasil. Nada melhor do que emitir um sinal de paz já agora, enquanto a posse não chega. Foi isso que pesou.

A sobrinha e o tio

Ainda no União Brasil, o prefeito reeleito de Maracanaú, Roberto Pessoa, chateou-se com a sobrinha Emília Pessoa pela decisão dela de, no segundo turno de Caucaia, optar pelo apoio a Naumi Amorim (PSD), apesar de seus apelos em favor de Waldemir Catanho (PT). Como o aviso está dado, é o caso dela começar a planejar sua campanha à reeleição como deputada estadual sem a mesma ajuda que teve dois anos atrás do influente gestor de Maracanaú. Lembrando que Emília disputou o primeiro turno caucaiense e brigou até quase o último voto com o petista por uma das vagas na fase seguinte.

O faz de conta acabou

Quando tomou a decisão de se posicionar na disputa de Fortaleza em favor de Evandro Leitão (PT), o presidente licenciado do PDT nacional, ministro Carlos Lupi, sabia que estava deslanchando o processo tantas vezes adiado de demarcação definitiva de espaço no Ceará. A convivência entre os grupos pró e contra governos do PT, estadual e nacional, passa agora ao estágio do impossível, gerando a necessidade de definir quem fica e quem sai. Parece fácil prever onde ficará cada um deles na partilha política a ser feita assim que as urnas se manifestarem, se é que será possível esperar.

A próxima eleição na pauta

As urnas ainda seguem quentes, considerando que há municípios onde um segundo turno se desenvolve - casos de Fortaleza e Caucaia, no Ceará -, e, fruto da impaciência política - os bastidores políticos de vários municípios já se agitam com as sucessões nas Câmaras de Vereadores. Juazeiro do Norte, nesse sentido, ganha um certo destaque com três nomes se movimentando com força, desde agora, para chegar ao momento da escolha, em fevereiro do próximo ano, apresentando vantagem. Reeleito prefeito de forma consagradora e inédita, Glêdson Bezerra (Podemos) é o principal interessado em ter, finalmente, um aliado para chamar de seu à frente do legislativo após quatro anos de muito desentendimentos e crises sucessivas.

Do campo às urnas

Demorou, até, mas aconteceu. A disputa equilibrada pela Prefeitura de Fortaleza invadiu o ambiente do futebol, e, nas últimas horas, até espaços oficiais do Fortaleza (Esporte Clube, no caso). O perfil oficial no Instagram publicou nota do Conselho Deliberativo, instância oficial, que critica um posicionamento de um líder de torcida em favor de Evandro Leitão sob o argumento inicial de que seria desrespeitoso usar cores, marca e símbolos oficiais do clube para tal ato. Do meio do texto para frente, no entanto, ataca-se de maneira direta o candidato petista, acusando-o de no passado ter prejudicado o Fortaleza e insinuar (quase denunciar) que ele o perseguiria no futuro. Leitão é ex-presidente do Ceará Sporting Clube, mas o certo é que a nota teve repercussão forte, na ampla maioria negativa, e a crise está instalada.

 

Foto do Guálter George

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