
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Ciro Gomes está diante de um dilema que lhe tem obrigado a fazer uma reflexão sobre o futuro que planeja para si no âmbito político. De um lado, o desejo pessoal de insistir na ideia de que é um nome nacional e o único capaz hoje, segundo convicções próprias, de quebrar a tal polarização entre dois lados extremos que não geram outras aproximações e dificultam qualquer esforço de consenso mínimo. De outra parte, cresce a pressão no seu entorno para que faça um pouso de volta, não programado, na política cearense, aceitando liderar a oposição como candidato ao governo.
Claro que o primeiro movimento exigido, prestes a se completar, envolve uma troca de partido. No PDT, onde está hoje, não tem como ir adiante um plano de candidatura oposicionista, seja nacional ou estadual. Quanto a isso, é quase certo seu retorno ao PSDB, com relatos de que foi muito positiva a reunião da segunda-feira, em Brasília, dele com figuras tucanas influentes, dentre elas o ex-senador Tasso Jereissati, o deputado federal Aécio Neves e o ex-governador goiano Marconi Perillo. "Está tudo por detalhes", diz uma fonte, referindo-se a uma filiação futura do polêmico político.
Convenhamos, pelo histórico comportamental da figura envolvida, que a vinculação partidária é o menor dos problemas. Nunca foi sua preocupação estar alinhado com o que defende a sigla à qual pertença e não existe qualquer razão para se entender que agora, já com 41 anos acumulados de vida pública, tenha feito qualquer inflexão. Ou seja, se filiará para cumprir uma formalidade exigida, sem que a decisão que tomar indique qualquer informação complementar relevante.
A questão é outra, na verdade, acreditando-se que vá adiante a ideia de fazê-lo comandante de um palanque local unificado da oposição. Segundo ele próprio, nas conversas internas e nas declarações públicas, para tirar o Ceará da tragédia política na qual se encontra. O conjunto de interesses envolvidos exigiria, no esforço de conciliá-los, alguém com capacidade de lidar com as diferenças e os divergentes, qualidade que nunca marcou o impaciente estilo de Ciro fazer política.
É preciso saber, de verdade, se há disposição de Ciro Gomes para ter a disciplina necessária e concentrar seu foco na realidade política local, esquecendo um pouco do que pensa sobre o cenário nacional e os personagens que fazem as peças se mover no tabuleiro. O discurso dele coloca Lula e Bolsonaro no mesmo balaio, à parte a distância ideológica entre um e outro, e o papel no qual se pretende colocá-lo vai exigir que assuma um lado entre os dois, quando nada na perspectiva de segurar um pouco a língua em relação ao que pensa. O lado bolsonarista, no caso.
Um outro aspecto que precisará ser discutido é que a visão do ainda pedetista acerca do quadro econômico expõe uma crítica muito forte àquilo que chama de elite econômica insensível aos interesses nacionais legítimos e que vislumbra o lucro de maneira quase cega etc etc. Aponta uma submissão ao rentismo e ao mundo financeiro que atravessa os governos Bolsonaro e Lula sem qualquer arranhão, segundo sua análise, mas acontece que muita gente alinhada com esta realidade, defensora dela, tende a subir no palanque de salvação do Ceará que alguns defendem que seja ele o nome melhor preparado para liderar.
"Lula e Bolsonaro só pensam em eleição… O Brasil que se exploda!"
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Uma parte das incoerências estará resolvida, mesmo que com impacto eleitoral que ainda precisaria ser calculado, confirmando-se o anúncio feito na sexta-feira pelo deputado federal André Fernandes, de que o PL apresentará candidatura própria ao governo do Ceará e não vai estar no palanque que se arma para uma frente ampla oposicionista. Para um primeiro turno, pelo menos, reduziria a exigência de contorcionismo retórico de Ciro. Portanto, a tal conversa telefônica entre os dois quando do animado encontro da quarta-feira no escritório de Tasso Jereissati parece não ter surtido o efeito esperado. Por enquanto, pelo menos.
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O PL arvora-se, através de suas vozes mais representativas, com o ex-presidente Jair Bolsonaro à frente, de defensor da democracia. Pois bem, nessa condição deve uma resposta pública diante do comportamento de um filiado seu, com mandato na Câmara Federal, que, aproveitando-se da presença de muitos jornalistas na coletiva de Bolsonaro à saída de unidade da Polícia Federal na última sexta-feira, clamou às Forças Armadas por um golpe de Estado. Passaram-se dois dias e não há qualquer ação conhecida do partido para repreender (na verdade seria o caso de uma punição) o Coronel Chrisóstomo, que tem mandato de deputado federal por Rondônia, e é inclusive um dos vice-líderes da bancada. Aliás, é hora de também o Congresso começar a punir parlamentares por esse tipo de comportamento.
E essa história de que o Chagas Vieira pode vir a ser o vice na chapa governista cearense de 2026? Pergunta-me um curioso interlocutor, com quem almocei na semana. Não tinha a resposta para oferecer, mas, é evidente, o secretário da Casa Civil passa a ser uma opção a cada dia mais concreta para integrar a chapa majoritária governista. O que explica o fato de já não assustar tanto quanto parecia ser capaz até outro dia quando colocada, como hipótese, para líderes como o governador Elmano de Freitas e o ministro Camilo Santana. Para facilitar ainda mais, no caso dele, a falta de uma filiação partidária faz com que possa ser acomodado de acordo com várias perspectivas, ajudando a equilibrar, mesmo artificialmente, o jogo de equilíbrio entre as legendas na chapa.
A entrevista coletiva do senador Cid Gomes (PSB), organizada às pressas por sua assessoria e que aconteceu quarta-feira passada, 16, no Comitê de Imprensa da Assembleia, acabou tendo um desfecho diferente do imaginado, para pior. Dito, nos bastidores, por gente que participou da ideia acreditando que seria uma oportunidade para o político sobralense apresentar uma serena defesa do deputado federal Júnior Mano (PSB), investigado pela suspeita de desviar dinheiro de emendas destinadas a prefeituras cearenses. A partir de um certo momento Cid meio que destemperou-se, passou a demonstrar incômodo com toda a situação e o saldo final acabou frustrando as expectativas. A verdade é que não se trata de uma causa fácil de ser abraçada.
Há um debate animado envolvendo parte do PSB acerca da relação com o governo do Ceará, em especial por causa de sinais um tanto dúbios do líder principal da turma, Cid Gomes. Ex-prefeito de Senador Pompeu, filiado à agremiação, Maurício Pinheiro, o popular Maurição, queixa-se publicamente do que considera descaso do Abolição com seu aliado principal. "Um político que tem lado claro, como demonstrou agora ao reafirmar sua confiança no Júnior Mano", diz ele. Informa, inclusive, que há gente do lado da oposição monitorando a situação e emitindo sinais de que pode abrir uma conversa com o senador para atraí-lo. Até já adiantando sua visão sobre os efeitos de um rompimento, ele adverte que isso não significa que todo mundo iria junto e, ao contrário, a tendência de quem detém cargo seria de permanecer governista. No entanto, se chega a fazer uma projeção é porque o assunto tá quente mesmo.
O colunista até sabe a diferença de sentido entre os termos "híbrido e "hídrico". Portanto, sabe que errou ao trocar o primeiro pelo segundo, na coluna de semana passada, quando falava do sistema na Assembleia que permite o registro de presenças de parlamentares somando quem está fisicamente na Casa com aqueles que participam das sessões de maneira remota. Peço desculpas ao leitor pela confusão.
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