
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
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A relação entre os poderes de Estado, reza a lenda política, é boa para a democracia quando se dá em termos harmônicos e independentes. Ninguém está acima de ninguém etc etc. Uma regra teórica que costuma oferecer problemas sérios quando não observada, especialmente da parte do parlamento, valendo como exemplo recente o que aconteceu no Congresso com as derrotas sofridas pelo governo Lula em votações que o Executivo considerava importantes para sua política econômica.
Aqui no Ceará, quinta-feira passada, deu-se o outro lado da questão, reforçando a importância para o Palácio da Abolição de ter no comando da Assembleia um deputado - Romeu Aldigueri (PSB), no caso - da mais absoluta confiança do governador, que antes era seu líder na Casa, inclusive. Uma manobra legítima dele de última hora, apoiado por Salmito Filho (PSB), desconcertou a oposição e, como efeito indireto, abriu caminho para uma aprovação tranquila do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026.
O que se sabia é que a oposição chegou ao Legislativo naquele dia preparada para uma longa discussão sobre o texto encaminhado pelo governo, com questionamentos a vários pontos. O discurso previamente ajustado apontava para a pouca atenção com determinadas obras, lançava luz em indicações de que o caixa público estadual anda com problemas e pretendia colocar em destaque outros aspectos mais que calharia discutir no contexto do clima pré-eleitoral que domina o ambiente.
Porém, Aldigueri surpreendeu ao abrir a sessão apresentando manifesto de apoio ao governo brasileiro diante da crise com os Estados Unidos pelo anúncio de taxação dos nossos produtos pelo presidente Donald Trump, em 50% além da alíquota já aplicada normalmente. O documento precisaria ser aprovado pelo plenário da Assembleia, e o foi, mas antes deu-se uma acalorada discussão que acabaria tomando quase todo o tempo dos deputados naquele dia.
Acontece que a tentação era muito grande para deputados do PL como Pastor Alcides e Carmelo Neto, citando os mais referenciais e que, claro, entraram com muito mais disposição no debate, de fundamento ideológico. Ambos, reforçando a linha de que o presidente Lula é o verdadeiro culpado pela adoção de medidas prejudiciais ao Brasil pelo presidente Trump. Os oito votos contrários ao manifesto, cujo conteúdo apartidário e até apolítico do texto justificaria uma rara unanimidade em torno dele, expõem o tamanho do problema que representa termos um Fla x Flu permeando o debate político cotidiano de maneira permanente.
A própria articulação política do governo teria sido um pouco surpreendida, segundo a coluna apurou, pela novidade de última hora introduzida por Aldigueri, mas gostou bastante do que aconteceu. A energia que os parlamentares oposicionistas tinham reservado para uma discussão longa sobre a LDO acabaria sendo gasta no esforço de tentar cravar no governo de Lula a responsabilidade pela medida aplicada contra o Brasil pela Casa Branca.
Consequência, para alívio da turma governista: tranquila aprovação do texto que, dentre outras coisas, prevê R$ 4,5 bilhões de investimentos em infraestrutura no próximo ano, registrando-se os inevitáveis 9 votos contrários. A parte da oposição menos ideologizada, que vem do PDT e é ligada ao ex-prefeito Roberto Cláudio, ainda queixou-se do pouco debate que precedeu a votação, mas os bolsonaristas já não tinham mais energia. Tinham gasto toda no esforço inócuo de convencer os colegas de que fazia sentido a medida de Trump já que entre os objetivos estava deixar o líder político deles em paz.
Há quem tenha saído da conversa com o ex-prefeito José Sarto, convidado da semana para o Café com a Oposição na Assembleia Legislativa, certo de que ele prepara uma volta para a política no ano que vem.
A surpresa é que captou-se indicação de quer o plano do experiente político é de voltar à vida pública disputando uma cadeira na Câmara Federal, o que seria uma novidade na sua trajetória, que teve antes mandatos como vereador em Fortaleza, deputado estadual e, mais recentemente, de prefeito entre 2021 e 2024.
Certo é que ele demonstra ter superado a decepção do ano passado, quando sequer foi ao segundo turno em sua tentativa de reeleição.
É meio vergonhoso, convenhamos, que os deputados estaduais cearenses não tenham conseguido segurar o quórum nas sessões mesmo com a decisão tomada lá atrás de adotar o modelo hídrico. Ou seja, permitiu-se ao deputado ausente que pudesse participar remotamente, inclusive com direito a votar em determinadas situações.
Pois se conseguiu a proeza de não manter o plenário funcionando na última quarta-feira devido à falta de presença mínima, somados os registros físicos e virtuais, havia apenas 15 parlamentares presentes, abaixo do número de 16 exigido pelo Regimento Interno. A partir de agora, inclusive, o modelo híbrido valerá apenas para 3ª e 5ª, enquanto na 4ª apenas a presença física será aceita. O desafio do quórum, portanto, passará a ser maior.
Lá como cá. O presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou que vai judicializar decisão tomada pelo Senado na última quinta-feira à noite, impondo-lhe uma série de derrotas em votações de matérias econômicas. Nos temas mais importantes, na base do 56x0, ou seja, o governo não conseguiu um só voto de apoio para resistir àquilo que considera ataque às bases de sua austera política fiscal, já que, dentre outras coisas, está previsto um aumento para os ganhos dos aposentados.
A semelhança entre os dois casos acaba por aí. A reação dos apoiadores de Javier Milei às sérias derrotas que ele sofreu tratam a decisão dos senadores no padrão golpe institucional. Na parte civilizada, porque entre os apoiadores militantes o clima é de guerra com o Congresso.
Gente com quem o presidente vive em conversas, em podcast e outros espaços, correu às redes sociais para defender coisas do tipo: tanque nas ruas já, que alguém solte uma bomba no prédio com deputados e senadores dentro, que se forme uma milícia armada para fechar o parlamento. Tudo em nome da liberdade, no conceito esquisito que eles abraçam.
Com o ano eleitoral de 2026 se aproximando um dia após o outro, forma-se um clima diferente no Ceará para receber o presidente Lula em mais uma passagem dele pelo Estado, prevista para a próxima sexta-feira. A depender de como se desenvolva a crise com os Estados Unidos ao longo da semana, a passagem por aqui do petista para vistoriar as obras da Transnordestina e da transposição do São Francisco, tem tudo para ser marcante e dominada pela política.
Marco Aurélio Carvalho, o advogado que lidera o Grupo Prerrogativas, vem mesmo a Fortaleza e, de fato, será homenageado na Assembleia Legislativa, conforme a coluna noticiou uma semana atrás. Porém, ao contrário do que se informou, equivocadamente, tudo está previsto para acontecer apenas no dia 4 de agosto próximo. Inclusive o jantar na casa do advogado Inocêncio Uchôa.
Cid Gomes (PSB), senador que é o principal fiador da pré-candidatura de Júnior Mano à cadeira que ele ocupa hoje, segue, até o momento que a coluna é escrita, sem dizer nada sobre o evento policial que envolveu seu apadrinhado na semana. O que se diz é que seu entorno mais próximo voltou a se empolgar com a possibilidade dele abandonar a ideia de não tentar reeleição. Pesquisas internas apontam que Cid seria muito favorito caso decidisse entrar na briga pelas duas vagas em disputa.
André Fernandes (PL-CE), para lembrar aos desavisados, votou na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara Federal pela aprovação da tal Moção de Louvor e Regogizo ao presidente Donald Trump, dos Estados Unidos. Talvez seja o caso de, pelo menos, retirar o termo Defesa Nacional da nomenclatura da comissão, já que ela não tem se prestado a colocar o interesse do País, real, como uma prioridade objetiva. Com apoio de gente como o deputado cearense.
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