Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Foi uma semana de esforço nas linhas de oposição para dar como superado o episódio de crise que se abriu no domingo com os ataques inesperados da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro à aliança do PL local com Ciro Gomes. Pode-se dizer, porém, que a coisa anda longe de estar normalizada, por mais que as aparências tentem nos convencer do contrário.
A coluna fez seu esforço de ouvir, no off, gente que se movimenta no âmbito oposicionista para entender como estão as conversas internas depois da barulhenta passagem de Michelle por aqui. Para além dos almoços protocolares, reuniões apressadas e fotos montadas, que buscam criar uma imagem pública que tranquilize quem precisa ser acalmado, sem que necessariamente correspondam de fato àquilo que acontece entre paredes, a portas fechadas. A verdade real é que o clima não esfriou.
Entende-se que Michelle Bolsonaro até pode ter levantado pontos realmente problemáticos da aproximação que aconteceu no Ceará com gente que até outro dia mantinha um discurso agressivo em relação ao ex-presidente, seus familiares e seguidores. Porém, a forma que ela escolheu de levantar o debate sobre a questão constrangeu desnecessariamente as lideranças locais e deixou especialmente irritado o deputado federal, e presidente da executiva estadual, André Fernandes.
Inclusive porque tudo que tem sido trazido à baila por ela estava meio precificado, eram manifestações públicas de Ciro, assim como há críticas e ataques no sentido contrário igualmente relativizadas. Haveria, no tempo certo, como trazer o tema ao debate político numa perspectiva mais serena em que se poderia tentar explicar as razões e a necessidade do movimento.
A paz que reina no ambiente público e nas declarações publicáveis, dá pra dizer sem medo de errar, é apenas aparente. André Fernandes, o mais exposto pela situação, decidiu absorver tudo com disciplina, evitando ampliar a crise, como deve fazer alguém com a responsabilidade de comandar o processo, caso dele, mas não se espere que na sua perspectiva a coisa esteja dada por superada de maneira definitiva. Está tudo anotado em seu caderno e, quando a oportunidade surgir, a resposta virá.
André Fernandes dá novas mostras de que não é mais aquele voluntarioso político que surgiu um tempo atrás, no rastro do bolsonarismo, acreditando no purismo como método. Ainda muito jovem e exercendo apenas o segundo mandato popular, já parece perceber que a única forma de viabilizar seus projetos é somando forças e, eventualmente, alinhando-se com quem diverge a partir de um objetivo comum traçado. Não tira pedaço, desde que sejam acordos aceitos à luz do dia, como tem sido neste caso desde os primeiros gestos de um bloco em direção ao outro. É tudo do jogo.
O que surpreende de verdade em tudo, olhando para o outro lado da crise, é a postura cuidadosa que Ciro Gomes, tão atacado, decidiu adotar. O silêncio aqui fala muito e indica uma disposição de sua parte em evitar contribuir para ampliação do problema, o que certamente aconteceria caso optasse por responder e, em especial, se o fizesse no seu característico estilo língua solta.
Há, dentro da articulação política do governo estadual, quem localize no Iguatu o maior problema a ser administrado para o ano eleitoral de 2026. Fracassaram todos os esforços de pacificação entre os deputados aliados Agenor Neto (MDB) e Marcos Sobreira (PSB) e cada evento oficial é um drama para ser organizado. A justificativa oficial é outra, mas, de verdade, o governador Elmano de Freitas decidiu não ir ao município na última quinta-feira para assinar a ordem de serviço para obra de um Hospital Regional porque havia risco de constrangimento relacionado a manifestações de militantes dos dois lados, um contra o outro. Vai ser difícil Elmano, se candidato à reeleição, passar por lá em campanha.
O vereador Barbosa Neto (PT) diz ter sido surpreendido ao fazer uma pesquisa no arquivo da Câmara de Juazeiro do Norte e descobrir que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não tem título de cidadão honorário do município. Injustiça, diz ele, com um político que ao longo dos seus três governos viabilizou obras e ações importantes para a região do Cariri. Por isso, protocolou projeto na terça-feira concedendo a homenagem e espera parecer favorável das comissões para levá-la adiante. Com oposição já anunciada do colega Boaz das Rotatórias (PL), até hoje inconformado com o fracasso de sua tentativa de sugerir honraria semelhante à ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. Proposta sua nesse sentido acabou retirada de pauta em meio a muitas críticas e, convenhamos, não sei se há a equivalência que ele sugere entre as duas situações.
Sinal de alerta está aceso no governo com as falas mais recentes do senador Cid Gomes (PSB) que demonstram pouco entusiasmo com a tendência, que até confirma, de estar no palanque da aliança oficial ano que vem. A ideia de um recolhimento dele à Serra da Meruoca para se manter distante do ambiente eleitoral, repetindo 2022, a cada dia vai ganhando mais corpo nas conversas do entorno governista. O que dá ainda alguma tranquilidade, segundo uma fonte petista, é que se entende não existir perspectiva de o parlamentar, com a forte liderança que segue exercendo, reforçar o palanque oposicionista. Mesmo que seu irmão, Ciro, seja candidato.
No PT, há quem vislumbre um quadro futuro com a deputada Luizianne Lins fora do partido. Para breve inclusive, existindo quem já imagine a parlamentar nas urnas do próximo ano com seu nome vinculado a uma outra legenda. Faz tempo que Luizianne dá sinais públicos de incômodo com a pouca atenção que entende receber de um partido ao qual esteve vinculada em toda sua vida pública e, em especial, com a forma de liderança exercida por Camilo Santana. Psol e Rede, segundo especula-se, estariam entre os destinos possíveis dela, que, inclusive, andaria dando sinais de que topa uma candidatura ao Senado.
O senador cearense Luiz Eduardo Girão (Novo) transformou a bandeira do impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) numa das prioridades de seu mandato, especialmente na segunda metade dele, relacionada aos quatro últimos anos. É quase uma obsessão e parece pouco, no que parece ser normal dentro da política, para levar alguém à vitória numa disputa majoritária, como a que ele deve ter em 2026 como candidato ao governo do Ceará.
Claro que ele não iria perder a chance de cobrar do atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (PSD-RR), agora em rota de colisão com os ministros do STF, sua "falta de coragem" por não ter, antes, levado adiante nenhum dos vários pedidos de afastamento apresentados à mesa diretora nos últimos anos.
Em outros tempos da política cearense, Heitor Férrer, hoje deputado estadual pelo União Brasil, era uma das vozes mais críticas ao estilo Ferreira Gomes de tocar o poder. Ao ponto de ter deixado o PDT, após longa trajetória brizolista, incomodado, à época, com a entrada na legenda do então governador Cid Gomes, a quem fez oposição implacável, tanto quanto eficiente, durante quase todo o tempo em que durou a gestão.
Por tudo isso, chama atenção que ele demonstre hoje até algum entusiasmo com a ideia de Ciro Gomes, irmão de Cid, vir a ser o candidato oposicionista ao governo em 2026. Seu vaticínio é claro e definitivo: "sem ele não temos esperança; não temos chance na disputa pelo governo do Ceará".
No julgamento da bancada do PL na Assembleia Legislativa do Ceará, que começou no TSE e já tem o primeiro voto pela cassação dos deputados Carmelo Neto e Alcides Fernandes, dá-se um efeito colateral que deveria chamar mais atenção. Corre o risco de sobrar para o ex-presidente do partido no Ceará, Acilon Gonçalves, que pode sair do processo inelegível, apesar de nem mais filiado ser.
De volta ao PSB desde outubro último, Acilon tem planos eleitorais para o próximo ano e, caso consiga se livrar do imbróglio legal, disputará uma das 22 vagas na Câmara Federal em disputa para a bancada cearense. Aliás, seria uma perda grande para o partido já que era considerado um dos possíveis puxadores de votos.
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