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Aceitação não é condescendência
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Psicoterapeuta sistêmico com especialização em Psicologia Transpessoal e Psicoterapia Somática Integrada. Viveu na Índia onde se aprofundou em diversas abordagens terapêuticas e de meditação. Fez cursos e supervisão em Constelação Familiar com Bert e Sophie Hellinger e foi o introdutor da Constelação no Ceará; Ashara atende individualmente e ministra cursos de formação em Constelação em diversas cidades do Brasil. Veja mais: www.ashara.com.br

Guilherme Ashara comportamento

Aceitação não é condescendência

Porque será tão difícil reconhecer, aceitar e sentir nossas feridas emocionais? Uma das razões principais é que sentir nunca é bem aceito pela sociedade. E sentir emoções negativas é mais condenado ainda.
Tipo Análise
Aceitação  (Foto: Rossandro Klinjey)
Foto: Rossandro Klinjey Aceitação

No meu artigo anterior “Entre ‘haters’ e ‘lovers’ “, faço comentários sobre ‘aceitação’ dizendo que "a grande alquimista das emoções é a aceitação". Neste artigo eu gostaria de discorrer uma pouco mais sobre o significado de aceitação.

Aceitação em uma frase e no contexto que trago aqui significa dizer "sim" para o que está acontecendo neste momento. Quando falo isso nos meus atendimentos terapêuticos, alguns clientes costumam perguntar: “e se alguém me faz um mal, como eu posso dizer sim a essa pessoa?”

E sempre respondo: “não confunda aceitação com condescendência. Se alguém lhe agride e você se sente ofendido, aceitar não significa concordar com ele ou com a agressão que ele praticou, e sim reconhecer que você se sente ofendido, por exemplo. Então, você diz sim ao seu sentimento e responde de acordo com ele”. Se seu sentimento é de raiva e você quer dizer para aquela pessoa que lhe ofendeu para ela parar com aquilo, você diz.

E isso é exatamente o contrário de condescendência. Ser condescendente é ceder aos desejos ou aos sentimentos de alguém. Enquanto na aceitação eu reconheço e aceito os meu sentimentos. E respondo dizendo sim ou não. Aceitação não é somente dizer sim.

Quando trabalho com atendimentos terapêuticos, uma das grandes dificuldades que vejo dos meus clientes é reconhecer e ter consciência das emoções. Quando pergunto, por exemplo, o que você está sentindo agora com relação a essa pessoa que está lhe importunando? Ela diz que sente que precisa ser mais direta com ela ou gostaria que ela não fizesse mais aquilo. Isto é, ela olha para a pessoa ao invés de olhar pra si mesma e reconhecer o seu sentimento com relação àquela pessoa.

Nesse momento eu ressalto, “você percebe que está falando da outra pessoa!?” Ela se assusta e reconhece admirada. Peço então que ela feche os olhos, respire mais profundamente e procure perceber o seu próprio sentimento. Ela então fala que sente medo da outra pessoa, por exemplo.

Agora nós estamos nos entendendo e podemos trabalhar a questão que ela traz. Antes dela se conectar com seus sentimentos e dizer sim a eles, tudo que falarmos é apenas parte de um jogo mental que não leva a nada. No momento em que ela aceito seus sentimento, podemos dar passos em direção à cura e integração daquela carga emocional.

 

"Então, aprendemos a negar nossos sentimentos e reprimir nossas emoções. Aprendemos a esconder o que não é aceito socialmente e mostrar somente o que nossos pais ou nosso grupo social aprova." Guilherme Ashara, terapeuta

 

Esse é talvez um dos grandes tropeços dos psicoterapeutas, o de ser condescendente com seu cliente. Como o cliente traz para a consulta normalmente uma ferida emocional, é muito fácil para o terapeuta ser benevolente com o cliente. Hoje eu compreendo que essa tolerância não ajuda o cliente, pelo contrário, vai manter viva essa ferida emocional.

Porque será tão difícil reconhecer, aceitar e sentir nossas feridas emocionais? Uma das razões principais é que sentir nunca é bem aceito pela sociedade. E sentir emoções negativas é mais condenado ainda.

Quando você sentiu raiva quando criança, o que você ouvia dos pais ou educadores? Eles diziam, “não seja raivoso (a); raiva é feio; ninguém gosta de uma menina raivosa”. Se sentia tristeza, eles diziam: “besteira, isso vai passar logo; engula o choro; você tá horrível chorando; você não é homem não?”.

Então, aprendemos a negar nossos sentimentos e reprimir nossas emoções. Aprendemos a esconder o que não é aceito socialmente e mostrar somente o que nossos pais ou nosso grupo social aprova. Em outras palavras aprendemos a ser falsos. Quando sentimos uma coisa, mostramos outra. Esse treinamento desde a primeira infância nos afasta dos nossos sentimentos verdadeiros, da nossa verdade interior. E o resultado de tudo isso é que nos afastamos da nossa natureza essencial. Passamos a gerir nossa vida pelo que os outros pensam e não pelo que a minha ‘voz interior’ fala.

E isso tudo gera consequências desastrosas na nossa vida. Perdemos a nossa espontaneidade, humanidade, criatividade. Nossa autoestima fica estremecida, nossa autoconfiança abalada. Viver tendo o outro como exemplo, como referência é na verdade, viver a vida do outro, perdendo, por conseguinte a nossa própria vida.

Quando trabalho com Constelação Familiar encontro muitos casos onde o filho ou filha assumem o papel do pai ou da mãe. Todo o nosso trabalho é mostrar para esse cliente que ele não está vivendo a própria vida, está vivendo a vida dos pais. Pedimos então que ele devolva o que assumiu pelos pais. Quando ele faz o movimento específico de devolução, ele se sente leve e pronto para olhar e assumir a própria vida.
Está claro para você que só podemos viver a nossa própria vida? Se não, é provável que você esteja vivendo a vida de alguém. E muito provavelmente você não se sente feliz com isso.

E lembre-se, sempre é hora de reconhecer tudo isso e começar a viver a sua própria vida. Sempre é hora de começar a trilhar o caminho que lhe leva à sua felicidade.

Namastê!

 

 

 

Foto do Guilherme Ashara

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