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Camilo, Cid e Elmano a portas fechadas
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Camilo, Cid e Elmano a portas fechadas

O encontro envolto em mistério não é negado nem confirmado. Das duas, uma: ou de fato o trio se dedicou a discutir os arcanos da política cearense, daí tanto mistério; ou tem caroço no angu da aliança
Tipo Análise
Governador Elmano de Freitas, senador  Cid Gomes e ministro Camilo Santana (Foto:  João Filho Tavares, Fernanda Barros, Fábio Lima)
Foto: João Filho Tavares, Fernanda Barros, Fábio Lima Governador Elmano de Freitas, senador Cid Gomes e ministro Camilo Santana

Reza a lenda que o governador Elmano de Freitas (PT), o senador Cid Gomes (PSB) e o ministro Camilo Santana (PT) mantiveram encontro a portas fechadas nesta semana, em dia incerto e horário indefinido, sem constar oficialmente na agenda de nenhum deles.

O curioso nessa história, nem negada nem assumida, é precisamente o caráter penumbroso que cerca uma conversa - presumo que amistosa - entre lideranças cujo apoio recíproco é público e notório. De modo que, nesse caso, qual seria o propósito de tamanho sigilo?

Consultada, a assessoria de Cid respondeu que a reunião "não estava na agenda do senador". Um interlocutor do pessebista acrescentou que "soube de tudo pela imprensa". Já a assessoria do governo fez saber que nenhuma linha se registrava sobre o tema e que Elmano não costuma tratar de tópicos políticos no horário do expediente.

Das duas, uma: ou de fato o trio se dedicou a discutir os arcanos da política cearense, daí tanto mistério; ou tem caroço no angu da aliança – leia-se, há algum possível ruído nas negociações em torno da composição da chapa de Evandro Leitão (PT), em relação à qual - não ao nome, mas ao partido – Cid já dissera que não fazia gosto, preferindo que o “cabeça” saísse de outra legenda. 

O vácuo do PSB e de Cid

Não custa lembrar que esse grau de especulação em torno da formação do bloco aliado para a corrida pela Prefeitura se deu na esteira do silêncio do senador Cid, que se mantém afastado de quaisquer agendas até aqui ao lado de Evandro. Dele não se conhece, por exemplo, uma imagem sequer ou fiapo de conversa com o deputado estadual, escolhido como pré-candidato do PT ao Paço em abril passado, quase três meses atrás.

Nesse intervalo, o PSB, a quem antes caberia a indicação certa da vice, passou a dividir essa condição com o PSD de Domingos Filho, cuja filha, a deputada estadual Gabriella Aguiar, está bem cotada na bolsa de apostas mesmo tendo votação acanhada na capital cearense, para onde mudou seu domicílio eleitoral somente em 2022.

Longa conversa com aliados

Mas não foi apenas com Cid que a dupla Camilo/Elmano se encontrou fora do script nesta semana. Ainda na segunda, 8, os petistas estiveram à mesa com outros aliados, um dos quais o deputado federal Eunício Oliveira (MDB), com quem trataram por algumas horas do cenário eleitoral local - novos arranjos em municípios, ajustes em outros, ou seja, uma infinidade de encaixes nessa difícil engenharia de acomodação dos interesses mais ou menos superlativos no arco de sustentação do Governo de olho em 2024 e 2026.

Depois de Cid e Eunício, a rodada segue com PSD, Republicanos e outras forças do grupo, numa espécie de acerto final antes do início do período das convenções partidárias (20/7).

Oposição e ausência de Sarto

Como já estava precificado, a oposição tem explorado à vontade a ausência do prefeito José Sarto (PDT), que, por uma semana, saiu de férias com a família, transmitindo o cargo não para o vice ou para o presidente da Câmara, que também estavam fora. Quem assumiu? O procurador do município. Até aí, jogo jogado, como se diz.

Não há qualquer esquisitice nem ineditismo na conduta do gestor. Basta consultarem os anais da política recente. O timing da folga, embora breve, é que inspira cuidados. O pedetista deixou a cadeira num momento relativamente espinhoso da disputa pela reeleição, com a temperatura alta e os adversários mordendo seus calcanhares.

Expôs-se gratuitamente, então, abrindo o flanco para que os concorrentes nadem de braçada, a exemplo do que fizeram membros da base de Elmano e o líder nas pesquisas e também pré-candidato Capitão Wagner (União).

Sarto e seus estrategistas, todavia, devem ter se reunido antes e ponderado sobre ganhos e perdas, antevendo toda sorte de vídeos e outras mensagens que seriam produzidos a partir da viagem do prefeito e usados durante a campanha eleitoral (é o que qualquer um faria); e, a despeito disso, concluído que, noves fora esse estrago, valeria a pena dar um descanso merecido ao chefe do Executivo.

 

Foto do Henrique Araújo

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