Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
O Datafolha implodiu as estratégias dos candidatos à Prefeitura de Fortaleza, causando verdadeiro terremoto na disputa. O sinal mais evidente desse rearranjo forçado é a artilharia pesada que Capitão Wagner (União Brasil) disparou contra André Fernandes (PL) já no fim de semana, menos de 24 horas depois de divulgada a pesquisa segundo a qual o jovem bolsonarista lidera a corrida pelo Paço. Na operação de guerra, o ex-secretário de Saúde de Maracanaú expôs trechos da biografia de Fernandes que o postulante talvez preferisse manter sob sete chaves, tais como sua controversa atuação como influenciador. Ainda no domingo, 15, houve réplica e tréplica entre eles, ao fim das quais a única certeza que havia restado era que a peleja entrou naquela etapa mais nervosa. Wagner sabe que está em trajetória descendente, logo não pode abrir mão de explorar cada mínima fragilidade do ex-aliado, que o ameaça diretamente. Uma delas é a sua conduta, tanto a de youtuber quanto a de parlamentar, no curso das quais nem sempre se mostrou à altura seja dos códigos de civilidade, seja do decoro de legislador. Cioso dessas brechas, o nome do União resolveu apostar na desconstrução cerrada de Fernandes, apresentando-o como supõe que ele seja, e não como o candidato vem tentando convencer o eleitorado de que é.
Enquanto Wagner e André duelam por uma vaga no 2º turno, Evandro Leitão (PT) assiste à briga de camarote, apresentando suas propostas sem ser fustigado pelos adversários. O petista está num bom momento não só do ponto de vista de seu desempenho, mas também no do quadro eleitoral. Afinal, com volume de presença na TV e no rádio, o presidente da Assembleia tem obtido sucesso ao se fixar na imagem do ministro Camilo Santana e na de Lula. Mesmo com o aumento de rejeição (7 pontos, conforme o Datafolha), o representante do PT pode se concentrar totalmente no seu receituário, que é rigorosamente o mesmo de Elmano de Freitas em 2022. Ao menos por enquanto, tem dado certo.
O prefeito José Sarto (PDT) encara duplo desafio: recuperar tônus e evitar debandada de vereadores. Prevista para hoje, a rodada de conversas do gestor com membros da base já tem objetivo tácito de assegurar a coesão do seu grupo. No mundo político, sabe-se que todos os movimentos se orientam pela expectativa de poder. Se quiser se manter competitivo, então, Sarto precisa reaver terreno perdido. Para tanto, o chefe do Executivo tem de manejar algumas variáveis: mirar em André, mas sem perder Wagner e Evandro de horizonte, tudo isso enquanto ajusta o discurso para atenuar o tom jocoso - sem parecer que está dando um cavalo de pau no seu plano de jogo. Não é tarefa fácil, mas Sarto não tem tanta escolha.
A semana que começa demarca um ponto de mutação na campanha, que se divide entre uma primeira metade durante a qual os candidatos aplicaram estratégias previamente elaboradas; e uma segunda na qual devem assimilar a nova dinâmica do pleito, adaptando-se rapidamente a fim de sobreviveram na batalha. Embora tenha se afunilado, o cenário segue aberto. A esta altura, nenhuma liderança é estável, tampouco a lanterna é condição irreversível. Cada um dos aspirantes tem plena condição de refazer estratégias a par de objetivos de curto prazo. O de Sarto e Wagner, por exemplo, passa necessariamente por identificarem o caminho mais fácil para estarem no 2º turno.
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