Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Ciro não cravou sua postulação em 2026, mas em meio ao duro discurso que mirou prioritariamente o ministro Camilo Santana, a sensação de quem esteve presente ao evento é que ele disputará a sucessão de Elmano
Foto: FÁBIO LIMA
ANDRÉ Fernandes, Alcides Fernandes e Ciro Gomes
Não há dúvida de que o ministro da Educação Camilo Santana foi o grande alvo de Ciro Gomes (PSDB) no ato de filiação ao PSDB nessa quarta-feira, 22, na capital cearense. Afinal, as declarações mais duras do ex-presidenciável foram endereçadas ao petista, e não ao governador Elmano de Freitas, por exemplo, a despeito de o chefe do Abolição ter sido referido com predicados mais baixos.
Mas o centro do discurso foi mesmo o titular do MEC. "Vou tirar sua máscara, Camilo Santana", prometeu Ciro, aplaudido por fauna política diversa. Estavam ali, espremidos no auditório e se acotovelando na entrada, bolsonaristas, ciristas e antipetistas de gradações variadas, todos convergindo para uma perspectiva que começa a eletrizar esse campo: a hipótese de Ciro concorrer ao Executivo.
No palco, no entanto, o ex-governador evitou cravar que será postulante na sucessão de Elmano, mantendo-se numa zona cinzenta que lhe permitirá sair tanto para brigar pelo Governo quanto para tentar novamente a Presidência. De suas palavras, é possível extrair elementos que sustentam uma possibilidade e também outra, sem que pareça que Ciro estará dando um cavalo de pau.
Ocorre que, pela temperatura política que se viu ontem no evento tucano, esse trem já partiu, ou seja, Ciro já é candidato para a maioria das lideranças de oposição. Ora, esse mundaréu de gente não se deslocou até um hotel na Beira Mar no meio da semana para ouvir a prosa do ex-prefeito José Sarto, agora convertido ao tucanato.
Eles estavam lá por causa de Ciro. Especialmente, porque veem na sua postulação uma chance concreta, conforme admitiu Tasso Jereissati, patrono dessa estratégia, de derrotar as forças governistas. E, por fim, porque essa engenharia partidária que pretende aglutinar PSDB, PP, UB e PL numa só chapa é de difícil execução, dando-se em condições muito específicas e tendo como pivô um quadro cujos atributos superam os de outros nomes desse espectro ideológico.
Dito em bom português: a viabilidade de uma composição tão ampla de legendas para 2026 estaria seriamente comprometida se houvesse uma mudança de rota.
Campo minado
E, no entanto, a eventual escolha de Ciro como concorrente ao Governo não elimina de todo as arestas entre atores que, num momento como o dessa quarta, evidenciaram-se mais. É o caso da vocação crítica do ex-ministro, que só a custo se conteve para não incluir Bolsonaro entre os destinos de seus ataques, como mais de um interlocutor notou.
Trata-se de contorcionismo que Ciro se impôs em benefício dessa coalizão anti-PT, é verdade, mas cuja continuidade no longo prazo é mais difícil de assegurar. Outro fator de instabilidade no horizonte diz respeito ao senador Cid Gomes, hoje a principal liderança do PSB, embora não seja dirigente da sigla, função de Eudoro Santana, pai de Camilo.
A pretexto de denunciar o que considera como cumplicidade do partido com figuras como os ex-prefeitos Bebeto do Choró e Braguinha - um foragido da Justiça e outro cassado e preso -, Ciro estará descarregando sua artilharia menos sobre Eudoro e mais sobre Cid.
Não apenas: o grupo, encabeçado por Ciro, Tasso, RC, Capitão Wagner (União Brasil) e André Fernandes (PL), deve explorar uma comparação direta entre os chamados "governos das mudanças" e os quase 20 anos de Cid/Camilo/Elmano, com foco na economia e na segurança pública, uma área de resto bastante sensível para as gestões petistas no estado.
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