Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Parcela significativa do bloco que sustenta o Abolição resolveu fazer o que no jargão político se chama de "passar o recibo"
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO
GOVERNADOR Elmano de Freitas
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Havia muitas maneiras por meio das quais a base governista poderia ter reagido à filiação de Ciro Gomes ao PSDB. Uma delas era o silêncio. Mas uma parcela significativa do bloco que sustenta o Abolição resolveu fazer o que no jargão político se chama de "passar o recibo", isto é, deixar claro que tinha acusado o golpe.
E talvez nem fosse para tanto. Afinal, embora tenha dito o que disse sobre o governador Elmano de Freitas e o ministro Camilo Santana (Educação), Ciro foi estrategicamente evasivo quanto à possibilidade de candidatura ao Governo do Estado ano que vem.
Logo, antecipar a artilharia era e é ocioso num cenário hipotético de encontrá-lo na briga pela sucessão. Daí que o tipo de resposta dos aliados não haja sido calibrado com inteligência, como se viu nas investidas contaminadas pela emotividade e sem ancoragem numa defesa eficaz do que seja a marca da gestão petista nos últimos 12 anos, que é o que, ao fim e ao cabo, interessa realmente.
Em resumo: a base acabou jogando mais água no moinho de Ciro do que pretendia, fazendo com que o novo (velho) tucano se mantivesse em alta no dia seguinte ao ato das oposições. Àquela altura, quem ainda não soubera que o Ferreira Gomes tinha se filiado ao PSDB e agora era cotado para o Executivo haveria de se deparar fatalmente com a novidade, parte pelo esforço dos adversários do governismo, parte pelo empenho do próprio governismo, que colaborou para que o episódio permanecesse aquecido por 48 horas.
À coluna, o presidente nacional do PSDB, ex-governador Marconi Perillo, confirmou que a intenção é que Ciro seja de fato postulante ao Governo do Ceará ano que vem. "É o que temos de informação", acrescentou o dirigente. Dentro da legenda, contudo, há quem considere que tudo dependerá de uma série de variáveis, tanto locais quanto nacionais.
Para lideranças cujo objetivo é reconstruir a agremiação tucana, por exemplo, é fundamental que o PSDB volte a apresentar uma chapa para a corrida presidencial no próximo pleito, de modo a assegurar uma articulação nos estados com uma campanha pelo Planalto, mas também de olho na eleição de uma bancada de deputados e senadores.
Outro arranjo sob análise é a tentativa de composição com uma força situada nesse campo da centro-direita e da direita, a exemplo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), com quem a cúpula social-democrata tem conversado. Os caminhos estão abertos, então, ainda que a via da disputa pelo comando do Executivo cearense continue mais palpável como futuro.
Uma briga daquelas
Marcadas para domingo, 26, as eleições para a Prefeitura de Santa Quitéria escalaram em animosidade, elevando a pressão no arco do governo de Elmano, a quem cabe administrar esse princípio de incêndio.
Embora seja natural que o gestor petista se resguarde de manifestar predileções numa queda de braço doméstica, é possível que, a depender do resultado do pleito, as fissuras no casco da embarcação palaciana comecem a se tornar mais visíveis - sobretudo se houver descontentamento entre petistas com as movimentações do senador Cid Gomes, que está disposto a fazer do PSB a maior estrutura política do Ceará, deixando o PT de vez para trás e pavimentando a estrada até 2030.
Aliás, eis uma situação sui generis sobre a qual já falei: é o caso raro no qual o mesmo partido está no Governo e na Prefeitura da Capital, além de no Governo Federal e no Ministério da Educação, mas não é a maior sigla no seu próprio quintal.
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