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O "bode na sala" de Ciro Gomes
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

O "bode na sala" de Ciro Gomes

Aqueles poucos segundos de constrangimento foram suficientes para provocar um curto-circuito nas falanges do conservadorismo, que talvez prefiram cortar os vínculos com Bolsonaro a vê-lo chamuscar todo um rol de nomes com chances de candidatura
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EX-governador do Ceará Ciro Gomes  (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA EX-governador do Ceará Ciro Gomes

Mesmo antes do vídeo no qual Jair Bolsonaro (PL) admite placidamente que meteu "o ferro quente" na tornozeleira eletrônica por "curiosidade", o ex-presidente já era espécie de peso morto que seus potenciais aliados, novos ou antigos, teriam de carregar nas eleições de 2026, seja no âmbito nacional ou no local. A gravação, já consagrada como atestado de culpa, acabou por enterrar qualquer hipótese de defesa pública do ex-capitão, preso preventivamente no sábado por violação do equipamento e virtual tentativa de fuga.

Daí o silêncio que se impôs a lideranças desse campo após a divulgação da peça, que pode se estender também por todo o ano que vem. Sempre tão loquaz, por exemplo, não se ouviu nada de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e cotado para concorrer ao Planalto.

Leia mais: Polícia Federal vê risco de fuga e Bolsonaro está preso

Ora, não é para menos. Aqueles poucos segundos de constrangimento foram suficientes para provocar um curto-circuito nas falanges do conservadorismo, que talvez prefiram cortar os vínculos com Bolsonaro a vê-lo chamuscar todo um rol de nomes com chances de candidatura, quer se trate de Tarcísio, quer de Ciro Gomes (PSDB).

Embora não tenha elos nem estreitos nem remotos com o ex-chefe do Planalto, o ex-ministro tenta se viabilizar politicamente num território no qual alguma lealdade ao bolsonarismo é condição "sine qua non". Logo, até o silêncio neste momento embute significado, sobretudo quando quem se reserva o direito de não expressar nada é alguém com o perfil de Ciro, habituado a distribuir pancadas salomonicamente entre Bolsonaro e Lula.

O preço é alto

Para o tucano, então, esse arranjo é delicado. Falo do custo desse pacto de economia verbal com o bolsonarismo cearense a fim de assegurar a adesão do bloco de direita a si mesmo ou ao ex-prefeito Roberto Cláudio (União) na briga em torno da reeleição de Elmano de Freitas (PT) em 2026. Imagine-se o esforço de Ciro para, a esta altura dos acontecimentos, não sair pelos quatro cantos das redes a dizer o que pensa verdadeiramente sobre esse circo mambembe em que se converteram as últimas horas de Bolsonaro antes de esgotados todos os seus recursos na Justiça. Me refiro aos lances novelescos típicos de um entorno familiar cuja capacidade de produção de patacoadas é praticamente infinita.

Ivo em festa

EX-PREFEITO de Sobral Ivo Gomes (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução EX-PREFEITO de Sobral Ivo Gomes

Ex-prefeito de Sobral, Ivo Gomes comemorou a prisão de Bolsonaro decretada pelo ministro Alexandre de Moraes a pedido da PF. "Nunca vibrei com a infelicidade alheia, mas, como cidadão brasileiro, sinto-me aliviado em ver as leis e a justiça serem impostas ao maior de todos os calhordas da república", escreveu nas plataformas. Filiado ao PSB, o ex-gestor mantém alinhamento com o senador Cid Gomes, de quem Ciro diverge em relação a alianças no plano estadual. Derrotado em Sobral em 2024 com Izolda Cela (PSB) como sucessora, o Ferreira Gomes resiste a uma composição com o grupo do prefeito Oscar Rodrigues. A postura mais crítica de Ivo foi comemorada por governistas, que viram nela sinalização da impossibilidade de entendimento com Ciro.

Girão no jogo

O senador Eduardo Girão (Novo) lança nesta semana sua pré-candidatura ao Governo do Estado. Prevista para 30/11, a agenda se soma aos movimentos de outros quadros da oposição ao petismo no Ceará. A quem lhe pergunte, Girão vem respondendo que será postulante ao Abolição porque avalia que nem Ciro nem RC de fato representam o campo da direita no Estado. Contra ele, porém, há a margem mais modesta de votos na capital cearense, onde fez carreira como empresário e dirigente de futebol, e no interior do Estado, onde ainda é uma grande incógnita política.

 

Foto do Henrique Araújo

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