Da atração ao café de Moraes: os bastidores do julgamento do golpe
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João Paulo Biage é jornalista há 13 anos e especialista em Comunicação Pública. De Brasília, acompanha, todos os dias, os passos dos parlamentares no Congresso Nacional e a movimentação no Palácio do Planalto, local de trabalho do presidente. É repórter e comentarista do programa O POVO News e colunista do O POVO Mais
Da atração ao café de Moraes: os bastidores do julgamento do golpe
Advogado de Mauro Cid apelou para a aparência de Fux; Milanez tirou Moraes do eixo e fez Zanin virar o rosto. Andrew deu a Cármen Lúcia o que ela queria.
Foto: Rosinei Coutinho/STF
ADVOGADOS fizeram brincadeira e chegaram a elogiar ministros
Começou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal. A terça e a quarta foram dias do mais absoluto caos no STF. Da chegada à partida, tudo parecia desencaixado, fora do lugar. Tempo, clima, movimentação pela anistia e bastidores da sessão: acompanhar tudo dava nó no pescoço e escaldava a cabeça, já desatinada pelo sol tórrido da Capital Federal.
O sol, aliás, parecia ser um para cada jornalista presente. A estrela-mor refletia nas janelas espelhadas do Anexo 2 da Suprema Corte e fazia ferver uma cobertura já quente e tensa. As tendas montadas pela assessoria do tribunal não davam conta da quantidade de jornalistas - mais de 500 credenciados. Debaixo delas, os sotaques e idiomas denotavam que os olhos do Brasil e do mundo estavam voltados para lá.
O medo de perder qualquer coisa na entrada era latente. Não podia chegar um sedan executivo preto que a imprensa corria. Advogados, deputados e senadores desciam de modelos como esse e, antes de entrar no STF, precisam driblar o amontoado feito pela imprensa. O desespero era tanto que até o representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) simulou uma entrevista.
No primeiro dia, quase não subi para o local do julgamento. Entradas ao vivo e a busca por informações pela articulação da Anistia me deixaram do lado de fora do julgamento em 70% do tempo. Não foi ruim. Era preciso ligar para os deputados, entender como se daria essa tramitação e onde o governo tinha sido derrotado parecia ser tão importante quanto a exposição do relatório de Alexandre de Moraes.
De longe, o que chama a atenção é aquilo que dá para ver na TV. Os elogios, quase apaixonados, de César Bittencourt, advogado de Mauro Cid, a Luiz Fux tiraram risadas até de um correspondente europeu. "Sempre amoroso, sempre simpático, sempre atraente, como são os cariocas", declarou-se Bittencourt ao ministro. O jornalista estrangeiro, que fala português, chegou a questionar se 'atraente' tinha algum outro significado.
Ontem, mais vagas surgiram e lá fui eu para meu lugar na turma. Meu foco passou a ser não tanto nas palavras, mas nas reações. E as primeiras já apareceram junto das alegações de Matheus Milanez - advogado do general Augusto Heleno - e estreante do segundo dia. Não era, porém, a primeira vez que ele peitava Alexandre de Moraes.
Durante os interrogatórios, ele pediu mais tempo para jantar e tomar café da manhã e tomou uma patada. Na quarta-feira, ele se aproveitou do silêncio forçado de Moraes. Ao questionar o modus operandi do ministro, Milanez chamou o relator de 'inquisidor'. Ele fez Zanin revirar os olhos e Dino reagir negativamente com a cabeça. Era como se o discurso dos grupos de aplicativos de conversa ganhasse voz.
Moraes, por sua vez, tomava um café atrás do outro, como se as xícaras o acalmassem e o impedissem de falar. Parava só para anotar o que os advogados diziam. Certamente, para responder a todos durante o voto, que será lido na semana que vem.
O ápice, porém, veio depois, quando Cármen Lúcia fez um simples questionamento a Andrew Farias - advogado do ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira. Ao ouvir uma espécie de confissão, a ministra se deu por satisfeita. Andrew disse que Nogueira tentou demover de Bolsonaro as ideias golpistas. Ou seja, uma das defesas confessou que o plano entrou em ação. E é como Gonet disse: se o presidente se envolveu, é porque a tentativa de golpe estava avançada.
O sorriso no canto do rosto de Moraes não negou a satisfação. O próximo capítulo é na terça-feira que vem, com Xandão como protagonista.
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