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Campanha permanente de combate à misoginia no Ceará
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É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos "Alma Feminina"

Kalina Gondim comportamento

Campanha permanente de combate à misoginia no Ceará

Projeto do deputado Romeu Aldigueri prevê medidas como canais de denúncias e campanhas educativas
Aprovada lei contra à misoginia no Ceará. Foto de apoio ilustrativo (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Aprovada lei contra à misoginia no Ceará. Foto de apoio ilustrativo

No último mês, os deputados estaduais aprovaram um projeto de lei do deputado Romeu Aldigueri (PDT) que institui a campanha permanente de combate à misoginia no estado do Ceará. O projeto de lei prevê medidas como canais de denúncia e campanhas educativas, que têm por intuito esclarecer a população com questões relativas à igualdade de gênero.

A medida é relevante, considerando o expressivo número de violência contra as mulheres e os números alarmantes de feminicídio que, apesar da diminuição recente, ainda são preocupantes e exigem ações contundentes por parte do estado do Ceará.

O conceito de misoginia ainda suscita muitas dúvidas entre homens e mulheres, o que demanda ações de letramento de gênero. Etimologicamente, a palavra tem origem no grego derivando dos vocábulos miseó (ódio) e giné (mulher). Podemos definir de forma ampla, que misoginia compreende todas as ações de preconceitos, menosprezo, aversão e repúdio às mulheres.

Ela está subjacente aos ataques que deputadas e senadoras sofrem em pleno exercício político, assim como nos discursos das redes sociais que humilham e degradam. O objetivo dos ataques misóginos é refrear os avanços que as mulheres vêm obtendo no campo dos direitos. A perda dos privilégios e da monopolização do poder explicam a aderência masculina às ações que visam interditar o progresso feminino.

Vale ressaltar que a misoginia não é exclusiva de alguns perfis psicológicos, ao contrário, ela está inscrita em toda cultura sendo, portanto, histórica e estrutural bem como está presente em todos os países, mas em graus diferenciados.

A subjetividade misógina é construída a partir da interação de distintas instituições e mecanismos estando no cerne do modelo de masculinidade hegemônico pautado na objetificação e inferiorização das mulheres.

Por meio de diversas aprendizagens sociais, a subalternização feminina vai se fortalecendo. A cultura
misógina é uma espécie de pacto invisível, no qual há uma cumplicidade e até naturalização de práticas violentas contra as mulheres.

A misoginia está presente na linguagem, nas estruturas de poder e em tudo o que circunda a existência humana. O caráter estruturante do gênero dissemina a misoginia na política, no mercado de trabalho, no campo da sexualidade e em outros domínios sociais. Muitas vezes, o ódio às mulheres é sutil e imperceptível; noutros são letais, como nos casos dos feminicídios.

Apesar da presença secular entre as mais distintas culturas e sociedades, a misoginia não é instintiva nem está indelevelmente presa à essência masculina. Ela é resultado de um tornar-se homem próprio de um modelo no qual há hierarquização entre homens e mulheres, mas o fato da misoginia ser aprendida
também revela sua potência para ser debatida e desconstruída.

Desse modo, um novo torna-se homem se inscreve no campo das possibilidades, uma nova ética fundada no cuidado e na igualdade é a aposta de um novo vir a ser. Nesse campo, ações permanentes de combate à misoginia se fazem necessárias, e a participação dos homens é imprescindível para a ruptura da cultura e das práticas misóginas.

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