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O que o mundo perde com a vitória de Donald Trump
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É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos "Alma Feminina"

Kalina Gondim comportamento

O que o mundo perde com a vitória de Donald Trump

Em seu discurso de posse, Trump deixou explícito o ódio e criminalização dos imigrantes. Uma de suas principais promessas foi promover a maior deportação da história dos EUA
Tipo Opinião
Donald Trump tomou posse como novo presidente dos Estados Unidos (Foto: BRANDON BELL/ AFP)
Foto: BRANDON BELL/ AFP Donald Trump tomou posse como novo presidente dos Estados Unidos

Em outubro do ano passado, fui ao cinema assistir ao filme O Aprendiz, cujo enredo retrata a ascensão de Donald Trump. Chamou minha atenção o perfil psicológico narcisista e disfuncional do homem que agora inicia o segundo mandato como presidente do país mais poderoso do mundo.

O discurso do personagem de O Aprendiz não se desvia do padrão de comunicação falaciosa comum entre bilionários, fundamentado na demonização da política e do Estado.

Entretanto, de forma contraditória, no plano real, esses mesmos indivíduos se utilizam de toda a estrutura estatal para maximizar lucros e acumular riqueza pessoal, recorrendo a diversas formas de corrupção. No filme, fica evidente como o Estado contribuiu para impulsionar os negócios do jovem Donald Trump. Ainda assim, a obra cinematográfica optou por enfatizar o espírito desbravador do protagonista.

É preocupante observar, agora na vida real, a recondução à presidência daquele personagem retratado no longa-metragem.

O segundo governo de Trump evidencia uma vitrine composta por bilionários com patrimônios superiores ao PIB de muitos países, uma casta que o professor Ladislau Dowbor denomina "ultra-ricos".  Este é um momento oportuno para refletirmos sobre quem se beneficia com a demonização, o alheamento e o descaso da população em relação aos assuntos políticos.

Em seu discurso de posse, Trump deixou explícito o ódio e criminalização dos imigrantes. Uma de suas principais promessas foi promover a maior deportação da história dos Estados Unidos, ficaram igualmente evidentes suas pretensões destrutivas no campo das políticas sociais de equidade e inclusão, restabelecendo em seu lugar o discurso meritocrático responsável pela chancela simbólica da guerra de todos contra todos.

Quando a meritocracia ocupa o centro da narrativa, as estruturas sociais e históricas que perpetuam desigualdades são secundarizadas ou apagadas do discurso hegemônico. Trump demonstrou compartilhar da visão de Margaret Thatcher de que "não existe sociedade, apenas indivíduos".

Contudo, o presidente não descuida das técnicas de subjetivação coletiva, para isso, recorre ao discurso nacionalista que tenta unir, no plano simbólico, uma sociedade americana cada vez mais fragmentada e desorientada.

O nacionalismo adotado por Trump atinge o ápice ao reforçar a ideia de que é necessário "ser grande", expulsar o estrangeiro, o diferente, o outro. Porém, essa mesma retórica não hesita em desrespeitar as fronteiras alheias, uma vez que apenas a soberania norte-americana importa. Os outros são os outros…

Ainda falando em fronteiras, a estreita relação de Donald Trump com Elon Musk e Mark Zuckerberg, este último proprietário do Facebook e Instagram, é motivo de preocupação. As ambições dos líderes das redes sociais de ultrapassar os limites da liberdade de expressão podem resultar em uma proliferação desenfreada de ataques racistas, misóginos e em desrespeito à honra e à imagem das pessoas.

A "liberdade" defendida por Musk e Zuckerberg assume um caráter tirânico, que, para se estabelecer, necessita aniquilar países e suas constituições. A ausência de controle nas mídias sociais já aponta para um prognóstico desolador nas eleições brasileiras de 2026, mentiras e desinformações terão livre circulação.

O próprio presidente americano deixou claro que a plataforma TikTok foi crucial para conquistar votos entre os eleitores mais jovens.

Espera-se um recrudescimento da misoginia virtual e sua consequente monetização. Trump declarou que, em seu governo, homens não poderão mais participar de esportes femininos. Trata-se da velha dicotomia entre o masculino e o feminino. Enfim, como o mundo perdeu com a vitória de Trump.

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