Jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Atua em redações desde 2014, quando participou do programa Novos Talentos, no O POVO. É repórter do caderno de Cidades, onde tem ênfase na cobertura de segurança pública. Escreve ainda para Esportes O POVO. Mestrando em Avaliação de Políticas Públicas, na UFC.
Foto: FCO FONTENELE
FORTALEZA, CE, BR - 06.11.25 Frases de advertência do comando vermelho no bairro Jangurussu (Fco Fontenele/O POVO)
No fim de semana que passou, o Comando Vermelho (CV) voltou a demonstrar que caminha a passos largos para conquistar a hegemonia na guerra travada entre as facções criminosas que atuam em Fortaleza.
A mudança de facção na Colônia não é trivial. Trata-se de uma região que, por anos, apresentou forte oposição ao CV, inicialmente sob a bandeira da extinta Guardiões do Estado (GDE).
Além da Colônia, rumores indicam que áreas antes controladas pelo TCP devem passar para o domínio do CV em bairros como Jangurussu e o Jardim das Oliveiras e em municípios como Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza.
Nesse contexto, diante da perspectiva clara do TCP deixar de atuar em Fortaleza de a Massa/Neutros ficar restrita a algumas poucas comunidades, resta conjecturar o que será da Capital com a hegemonia do CV sobre o crime organizado.
A esperança, claro, é de que haja uma queda no número de homicídios, já que se reduziria a principal força motriz dos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs): a rivalidade entre facções.
É possível imaginar uma cidade em que cruzar determinadas fronteiras deixe de representar uma sentença de morte em potencial? É o que esperam os moradores da Colônia, agora, em tese, "autorizados" a circular em regiões como o Morro Santiago e a comunidade do Gueto.
O problema é que as facções são, por excelência, agências de resolução violenta de conflitos. Desacordos sempre existirão na convivência humana e, em uma realidade na qual um grupo criminoso é responsável por ditar todo um ordenamento normativo, a tirania está sempre à espreita.
Veja-se o exemplo das cobranças de "pedágios" a comerciantes e prestadores de serviços, como fornecedores de internet. Tais extorsões são realizadas no próprio seio do território "dominado", e não em áreas “inimigas”.
Consolidado o domínio do CV nas comunidades fortalezenses, é plausível imaginar a "institucionalização" dessas práticas extorsivas em mais regiões, talvez, até mesmo, com uma maior diversificação das atividades alvo dos criminosos. Como já se viu, opor-se a esse jugo também é motivação para assassinatos.
Nos próprios discursos faccionais, conceitos como ganância, cobiça e traição são frequentes e paranoicamente repetidos. Afinal, trata-se de uma existência pautada por ideais de lucro rápido e transgressão de regras.
São frequentes os episódios que demonstram que os valores propagados pela chamada “ética do crime” não são seguidos à risca, como poderia supor uma leitura ingênua dos "estatutos" dessas organizações.
O CV se expande, sim, por sua força, mas sobretudo pelas fragilidades internas da antiga GDE, que não foram sanadas nem mesmo durante sua fase como TCP. E quem garante que aqueles que viram correligionários e até familiares serem mortos pelos agora ex-inimigos aceitarão pacificamente essa nova realidade?
Além disso, vale lembrar que o Interior tem dinâmicas criminosas autônomas em grande medida autônomas em relação à Capital. O TCP ainda é majoritário em diversas localidades interioranas e o PCC está bem estabelecido fora de Fortaleza. Há ainda a Massa, presente de forma robusta, sobretudo, em Caucaia, um dos territórios mais deflagrados da guerra das facções no Ceará.
Pode-se atribuir a redução de 7,07% no número de assassinatos — na comparação entre janeiro e novembro deste ano e o mesmo período de 2024 — à prisão de mais de 2.300 suspeitos de integrar organizações criminosas durante este ano de 2025.
Entretanto, essa diminuição se dá em cima de um ano que havia registrado crescimento no número de homicídios. Quando se compara com 2024, houve, nos onze primeiros meses de 2025, 3,03% mais assassinatos. Em relação a 2023, o aumento é de 2,35%.
São números que deixam claro que o Estado ainda corre atrás de um receituário capaz de frear o avanço das facções, caminho esse que União e municípios também deveriam estar procurando.
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