Marília Lovatel cursou Letras na Universidade Estadual do Ceará e é mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará. É escritora, redatora publicitária e professora. É cronista em O Povo Mais (OP+), mantendo uma coluna publicada aos domingos. Membro da Academia Fortalezense de Letras, integrou duas vezes o Catálogo de Bolonha e o PNLD Literário. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2017 e do Prêmio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ 2024. Venceu a 20ª Edição do Prêmio Nacional Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil - 2024.
Foto: Arquivo pessoal/Marília Lovatel
Quadro Rachel de Queiroz
Na quarta, tive a sensação de que deveria redobrar a vigilância interna. Explico: verifiquei a necessidade premente de estar atenta à essência, ao pensamento, às percepções sensoriais finas, para preservar o que não pode ser perdido e nos define como seres humanos.
Refiro-me ao permanente, ao constante, mesmo com o passar dos anos, àquilo que resiste às metamorfoses de nós todos.
Essa atenção que eu me exigi decorreu da observação de mim em relação ao mundo, nas menores circunstâncias, pequenas ações, ao longo de 24h. Por exemplo, quando concluí precipitadamente ser um aborrecimento o assunto do áudio recebido logo cedo.
Tratava-se de uma delicada gentileza; quando, depois, fiz a predição de uma notícia ruim e, em seguida, vieram duas boas; quando mais tarde calculei de modo equivocado os gestos e as intenções de outrem.
Notei algo errado comigo naquele dia útil, cuja utilidade maior foi o freio que me dei, ao parar diante do quadro, junto à estante de livros, e ver a carta de Rachel de Queiroz assistindo da parede ao desconcerto.
Era o meu rosto refletido no vidro sobre as palavras dela, escritas em novembro de 1992, após a leitura de minhas primeiras histórias.
A carta termina assim: “Vale a pena lê-las: a mensagem de otimismo e a coragem que nos trazem são como uma lufada de esperança, amenizando estes duros tempos que são os nossos.”
A quarta-feira anulou todo o otimismo, após a votação eleger a prepotência, a misoginia, a lógica xenofóbica; o resultado das urnas exilou minha coragem.
Precisei resgatar bons sentimentos, reaver a crença na leveza, abrir a janela interior e liberar a lufada de esperança nesse início de novembro de 2024.
Restaurar a fé na humanidade ameniza os duros tempos que são os nossos.
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