Jornalista, repórter do O POVO+ e professor de Linguagens, graduado em Letras/Inglês pelo Centro Universitário Unicesumar. Homem pansexual, foi ativista organizado do Movimento LGBTQIA+ de 2014 a 2021. Em 2020, foi um dos idealizadores do festival artístico Tomada Drag, que mais tarde se tornaria o Coletivo Tomada.
Foto: ANTONIO CRUZ/ABR
Homofobia é crime no Brasil desde 2019, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) a equiparou ao crime de racismo, tornando-a inafiançável e imprescritível, conforme a Lei nº 7.716/89
Não pegou a referência? É que um dos versos da canção fala que vale tudo, “só não vale dançar homem com homem, nem mulher com mulher”.
Na última quarta-feira, 10, um casal de mulheres denunciou ter sido vítima de homofobia após ser expulso do bar por se beijarem. O casal registrou Boletim de Ocorrência e a Polícia Civil do Ceará está investigando.
Um vídeo gravado no momento da abordagem mostra o proprietário do estabelecimento pedindo que as clientes paguem a conta e deixem o local. “Aqui no meu estabelecimento eu não aceito”, afirma o dono.
O mesmo sujeito veio a público, agora, seguindo o roteiro clássico do “quem me conhece sabe”. Com direito a camiseta branca e tudo mais.
No vídeo divulgado nas redes sociais, o homem segue a cartilha clássica do homofóbico pego em flagrante. À guisa de justificativa, veio a infame “tenho até amigos que são” e a óbvia tentativa de culpar as vítimas usando a carta da moral e dos bons costumes.
Ele finge acreditar que um boteco é um “espaço de família” e que para supostamente preservar a integridade das crianças presentes, tentou coibir a prática de um "ato obsceno".
O argumento de "ambiente familiar" não se sustenta, pois, boteco é lugar de adulto. Quer preservar as crianças? Pois as leve a um lugar adequado.
Foto: Reprodução/Leitor Via WhatsApp O POVO
Dono do estabelecimento expulsou casal de mulheres após troca de beijos em bar
O principal risco é que os responsáveis possam ser responsabilizados por colocar a criança ou adolescente em uma situação de vulnerabilidade, ou risco, especialmente se houver consumo excessivo de álcool por parte dos adultos.
Além disso, bares tendem a ter um fluxo grande de pessoas, podendo haver brigas, empurrões, ou o risco de a criança se machucar com copos quebrados, móveis, ou até se perder na multidão.
Se isso não for convincente o bastante, levar a criança a um bar à noite, muitas vezes, interfere diretamente na rotina de sono e descanso, essencial para o seu desenvolvimento físico e mental.
E acredite na palavra de um professor com quase uma década de experiência: expor a criança a um ambiente onde o consumo de álcool é o foco pode, ainda, normalizar o consumo de bebidas alcoólicas em uma idade precoce.
Isso posto, se a preocupação era com as crianças, o beijo entre duas mulheres, ainda que fosse um problema, seria o menor da lista. Agora, se a preocupação era com os frequentadores adultos do boteco, então eu sugiro ao empresário mudar de ramo e aos incomodados que se retirem.
Não sei se essa informação chegou a todos, mas pessoas adultas precisam conviver em sociedade, respeitar seus pares e seguir as leis.
No Ceará, por exemplo, a Lei Estadual nº 17.480/2021 determina que estabelecimentos públicos e privados afixem, em local visível, placas informando que é expressamente proibida a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero.
Mas a prática homofóbica, apesar de absurda, não é novidade. Eu mesmo, em 2022, fui expulso de uma barraca na Praia de Iracema com meu então namorado pelo mesmo motivo.
Além de ser crime, o dano emocional pela humilhação pública é algo que nos acompanha por algum tempo. A sensação constante de que estamos fazendo algo de errado até diminui, mas não some completamente. Para o agressor, quase sempre é só mais uma quarta-feira.
Nesse caso, depois da mídia negativa — para não dizer um esculacho — nas redes sociais, o dono do bar tenta fazer um remendo que colou menos que durex velho. E não convence porque é nítido que ele acredita que está com a razão.
Foto: Aurélio Alves/ O POVO
Imagem de apoio ilustrativo: 4º Pedal do Orgulho LGBTQIA integra a programação do Mês da Diversidade Sexual em Fortaleza
Sua sucessão de erros expõe a estrutura da homofobia e a sensação de poder da heteronormativade, que tenta demarcar quem pertence ou não a determinado espaço.
Sem contar que usar o estereótipo de "violadores da moral" já está cansado. Não se sustenta, além de ser ofensivo e danoso para os LGBTQIA+, demonizados no imaginário público e privados dos direitos humanos fundamentais.
O argumento de "proteção à infância" também tem qualquer solidez. Que vantagem há em, deliberadamente, manter nossos jovens no escuro sobre temas importantes do mundo ao seu redor?
Privá-los de saber que pessoas são diversas e realidades distintas podem coexistir em paz e harmonia só interessa a um tipo de pessoa.
E é justamente desse tipo que nossas crianças devem ser protegidas.
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