É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política
É imprescindível que O POVO estabeleça e siga protocolos para averiguar e eventualmente atualizar as identificações de articulistas convidados. Ou mesmo das fontes que venham a ser citadas em matérias
Foto: Saeed Qaq / AFP
Barco da Flotilha Global Sumud, interceptado pelas forças israelenses no mar Mediterrâneo, próximo às águas da Faixa de Gaza, chega ao porto de Ashdod, no sul, em 2 de outubro de 2025
O fazer jornalístico é composto por uma série de elementos, ações e conceitos que, reunidos, contribuem para dar sentido ou uma melhor compreensão daquilo que é produzido. Um crédito, por exemplo, pode ser entendido como registro de autoria de uma imagem. Em matérias, reportagens ou mesmo artigos de opinião, é possível considerar outro significado para crédito, este com função de identificar um personagem presente neste material.
Essa identificação exerce um papel fundamental na construção de um produto jornalístico. Quando a fala de um ou de uma especialista num determinado assunto é utilizada numa matéria, esse crédito de quem está se expressando pode conferir um argumento de autoridade àquilo que é dito. O mesmo vale quando este ou esta profissional está vinculado (a) a uma determinada instituição, entidade ou órgão. Indicar essa relação na assinatura de um artigo, por exemplo, serve para reforçar a credibilidade do que é dito.
Alguns médicos que integram o “Coletivo Rebento” procuraram o ombudsman no último domingo, 28 de setembro, criticando a associação feita ao grupo na assinatura do artigo “A flotilha da liberdade e o Ceará”, publicado naquele mesmo dia.
Autor do texto, o médico e psiquiatra Maximiliano Ponte foi creditado no O POVO também como membro do Coletivo Rebento. Em discordância com o teor do artigo, os médicos apontaram a associação indevida na assinatura, feita sem anuência do grupo.
Pouco depois, ainda na tarde de domingo, o próprio autor entrou em contato com o ombudsman, também em tom de protesto, dizendo estar sendo criticado injustamente no meio de profissionais da saúde e argumentando não ter sido ele a fazer tal ligação de seu nome com o coletivo. Além disso, mostrou capturas de tela comprovando o envio do artigo por e-mail ao O POVO identificando-se apenas como “médico psiquiatra”.
“O artigo é de minha autoria exclusiva. No material que enviei, identifiquei-me apenas como médico psiquiatra. Em nenhum momento mencionei ou autorizei qualquer vinculação a grupos, coletivos ou entidades. Apesar disso, fui identificado pelo jornal como ‘membro do Coletivo Rebento – Médicos e médicas em defesa da Ética e do SUS’. Tal informação é falsa”, escreveu ao ombudsman, afirmando ainda que deixara o grupo há quatro anos “justamente por divergências relacionadas ao conflito Israel-Palestina”.
“Trata-se, portanto, de uma associação indevida, que cria um grave equívoco quanto à minha posição pessoal e expõe o próprio Coletivo a constrangimentos que não lhe cabem”, acrescentou, reivindicando espaço para errata e retratação do jornal.
No dia seguinte, 29 de setembro, O POVO reconheceu a falha e publicou Erramos na editoria Farol, afirmando que o artigo foi enviado “com o autor se identificando de maneira correta, sem o vínculo, e a edição é que incluiu, equivocadamente, dados desatualizados”. Além disso, as menções nos créditos que o associavam ao coletivo foram corrigidas em todas as versões digitais do texto.
Na mesma edição de segunda-feira do impresso, a Diretoria de Opinião disponibilizou espaço para um novo artigo assinado por Maximiliano Ponte com o título “Eu não sou mentiroso”, no qual o autor torna pública sua versão do caso e reitera as críticas ao O POVO pelo erro “gravíssimo e vexatório” que “abriu uma lacuna” em sua credibilidade.
A saída possível
Diante da situação, a saída encontrada em publicar um “Erramos” e oferecer espaço para um artigo-resposta foi a melhor dentro do que ainda era possível ser feito. O articulista teve o direito de manifestar sua insatisfação e esclarecer o caso e O POVO reconheceu o equívoco.
A situação foi indesejada a todos os envolvidos. Para o autor que tem razão em criticar o jornal pela associação indevida; para o coletivo de médicos que viu seu nome ligado a um artigo com o qual não compartilha ideias; e o próprio O POVO que tem a credibilidade posta em dúvida por um equívoco que expôs um articulista colaborador.
Diretor de Opinião do O POVO, Guálter George explica que houve um “erro de operação”. “O articulista enviou uma descrição correta e, na hora de editar, fez-se uma ampliação com base em artigo que ele publicara no passado, de uma época em que, de fato, fazia parte do movimento com o qual terminou identificado”, aponta.
Questionado a respeito dos procedimentos adotados pela Diretoria de Opinião para evitar novos erros na identificação dos articulistas que escrevem no O POVO, Guálter aponta que as medidas já foram tomadas. “Não haverá mais, a partir de hoje, qualquer intervenção nossa no descritivo dos articulistas que não esteja autorizado pelos próprios. Toda dúvida que surgir terá que ser, necessariamente, confirmada com o próprio autor, mesmo que isso venha a significar uma reprogramação do texto para outra data”, complementa.
Em seu artigo-resposta, Maximiliano Ponte pontua que “é preciso cuidado redobrado, sobretudo com aqueles que colaboram de forma espontânea e, ao fazê-lo, se expõem ao tratar de temas tão sensíveis”.
Ele tem razão. É imprescindível que O POVO estabeleça e siga protocolos para averiguar e eventualmente atualizar as identificações de articulistas convidados. Ou mesmo das fontes que venham a ser citadas em matérias.
É muito comum que ocorram mudanças em cargos ou posições que esses colaboradores ocupam em suas respectivas profissões e espaços na sociedade. Políticos, vira e mexe, estão trocando de legenda em uma dança das cadeiras na qual em um mês um deputado está num partido e migra para outro no seguinte.
Na área acadêmica, para citar um outro exemplo de tantos, um pesquisador pode mudar de universidade. O jornalismo precisa estar atento a essas constantes atualizações. Construir mais essa rotina de checagem se faz necessário para evitar situações com potencial de gerar constrangimentos a quem colabora com ele.
Um aviso aos leitores
No próximo domingo, 12, excepcionalmente esta coluna não será publicada por questões pessoais de saúde deste ombudsman. Nada que cause preocupação. Muito em breve estarei de volta a responder os leitores que entrarem em contato pelo e-mail ombudsman@opovodigital.com e pelo Whatsapp (85) 98893-9807. Conto com a compreensão de todos e todas. Até já.
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