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Operação segue sendo tratada como "mega" na imprensa
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É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política

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Operação segue sendo tratada como "mega" na imprensa

Enquanto se desenrola a disputa política pelo controle da pauta da segurança pública, a cobertura ainda escorrega no uso de alguns termos e na maneira de lidar com a "Operação Contenção"
Tipo Opinião
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Policiais escoltam suspeitos presos durante a Operação Contenção para fora da favela Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, Brasil, em 28 de outubro de 2025. Pelo menos 2.500 agentes participaram da operação para prender traficantes de drogas do Comando Vermelho (CV). (Foto: MAURO PIMENTEL / AFP)
Foto: MAURO PIMENTEL / AFP Policiais escoltam suspeitos presos durante a Operação Contenção para fora da favela Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, Brasil, em 28 de outubro de 2025. Pelo menos 2.500 agentes participaram da operação para prender traficantes de drogas do Comando Vermelho (CV).

Deflagrada há quase 20 dias nos Complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, a “Operação Contenção” segue em evidência nos noticiários da segurança pública e da política brasileiros.

A ação que resultou na morte de 121 pessoas teve debate desdobrado ao longo da última semana nas movimentações no Congresso que discute o PL Antifacção e na divulgação das primeiras pesquisas após a operação que aferiram o peso da crise na avaliação do governo Lula e nas intenções de voto do eleitor para 2026.

Os números identificaram um cenário em certa medida esperado diante das sondagens realizadas logo nos dias seguintes à operação, que mostraram o apoio da maioria das pessoas à ação conduzida pelo Governo do Rio de Janeiro. Os levantamentos da última semana indicaram um freio na aprovação do governo Lula - que estava alta nos últimos meses - e uma redução da vantagem do presidente para os possíveis adversários em cenários eleitorais para o próximo ano.

Enquanto se desenrola a disputa política pelo controle da pauta da segurança pública, o jornalismo ainda escorrega no uso de alguns termos e na maneira de lidar com a Operação Contenção. Um exemplo disso é como a todo momento ela é referenciada como “megaoperação”. E isso vale para praticamente todos os principais veículos de imprensa brasileiros. Com O POVO não é diferente, tanto em matérias que chegam das agências quanto as que são de produção própria.

O prefixo “mega” carrega consigo o peso de dar ares de grandiosidade e imponência a algo. Nas próximas semanas, você provavelmente será impactado na TV ou no celular por “mega saldões” ou “mega descontos” da Black Friday buscando lhe convencer a fazer “mega compras”.

É verdade que pode ser usado como justificativa para o emprego do prefixo “mega” o grande contingente de policiais mobilizados na operação. Se você está entre os que defende ações do tipo, com alto grau de letalidade, provavelmente concorda e não vê grandes problemas com o emprego de “megaoperação”.

No entanto, é inegável que o uso do “megaoperação” confere quase que de forma colateral uma ideia de êxito. Algo com potencial para mexer com a percepção das pessoas em relação a ela. Sendo a segurança pública cada vez mais desenhada como principal tema das próximas eleições, é ruim para o jornalismo cair em termos desequilibrantes os quais poderiam ser evitados.

O que configura uma "atitude suspeita"?

Pegando um outro caso, mas seguindo no mesmo campo de discussão. Muitas vezes, os termos e expressões utilizadas na imprensa são meramente reproduzidos, partindo originalmente de fontes policiais ou de notas emitidas por órgãos de segurança.

Ao repeti-los de maneira quase automática, algumas questões deixam de ser problematizadas. A matéria do O POVOHomem suspeito de expulsar moradores de suas casas na Pacatuba é preso”, publicada na última segunda-feira, 10, ilustra isso.

O caso é de um homem que fora preso no sábado, 8, na Beira Mar, em Fortaleza. De acordo com a Polícia, ele foi localizado por agentes do Batalhão de Policiamento Turístico (BPTUR), que teriam visualizado o "homem em atitude suspeita". Ele tentou fugir ao perceber a aproximação, mas foi detido, levado à Delegacia e identificado como membro de uma facção criminosa e de ter expulsado moradores de suas casas em Pacatuba, na Região Metropolitana.

Obviamente que o ponto não é se ele deveria ser preso ou não. Não é disso que se trata. Mas sim de replicar jargões e vícios como “homem em atitude suspeita”, que informam muito pouco ou nada. Qual “atitude suspeita” foi essa? Não ficou claro se a reportagem buscou mais detalhes dessa abordagem.

Ao não cobrar dos órgãos de segurança mais informações sobre os critérios adotados em abordagens policiais e reproduzir termos nebulosos (para dizer o mínimo), O POVO acaba naturalizando procedimentos questionáveis que são sabidamente colocados em prática de forma corriqueira por agentes de segurança.

10 anos da Chacina do Curió

Na última terça-feira, 11, a Chacina do Curió completou 10 anos. Efemérides “redondas” costumam ser ocasiões aproveitadas no jornalismo para resgatar fatos históricos e dar-lhes um outro olhar, tanto de retrospectiva, quanto da releitura dos fatos com as lentes do agora.

Contudo, a data dos 10 anos dos crimes foi lembrada de maneira discreta no O POVO. Na edição do impresso de terça-feira, 11, uma matéria tratou da efeméride puxando pela “8ª Semana Estadual de Prevenção aos Homicídios de Jovens no Ceará”, promovida pela Assembleia Legislativa do Ceará (Alece). O texto foi acompanhado de um breve resumo do caso. Ficou um pouco a sensação de que se não fosse o evento, a data teria passado batida.

O POVO cobriu como nenhum outro veículo este caso e seus desdobramentos ao longo da última década. Os fatos mais recentes foram os julgamentos de agentes de segurança condenados como executores ou por se omitirem diante dos crimes cometidos.

Uma sequência de barbaridades que até hoje mexe com o imaginário de Fortaleza. Não é exagero posicionar a Chacina do Curió como o episódio da cobertura de segurança pública mais emblemático dos últimos anos. E olha que são muitos concorrentes.

O repórter e colunista de segurança pública do O POVO+ Lucas Barbosa foi quem produziu nos últimos dias material mais aprofundado sobre os 10 anos da chacina. Mas um assunto dessa envergadura merecia também uma reportagem com profundidade, sem depender unicamente da iniciativa dos colunistas. Um tema que fala muito sobre o ontem, mas principalmente sobre o hoje.

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