Cofundadora do "Studio Bravika" e "Studio 85", atua entre desenvolvimento de jogos e produção cultural. Formada em Jogos Digitais e pós-graduada em Comunicação e Semiótica, conquistou prêmios diversos e representou o Brasil na Global Top Round Conference (Suécia, 2022) e na Pitch Competition Gamescom Asia (Singapura, 2024).
Foto: Rayanne Reveg
Protótipo do jogo cearense "Heróis do Ceará", do Studio Bravika, sendo testado durante o Siará Tech Summit 2025
Todo jogo tem seu começo a partir de uma pergunta, ela pode surgir desde uma conversa aleatória entre amigos ou até um um “bug” que acabou se tornando uma mecânica. Através de diferentes realidades e motivações, os games indies (independentes) nascem a partir de um questionamento: “E se…?”.
Para quem está do outro lado, os jogadores, fica a impressão que o game já nasceu pronto, com suas fases, menus, artes e trilhas sonoras.
Mas nos bastidores do desenvolvimento indie, a ideia inicial raramente surge como um grande raio de genialidade, são diferentes perguntas, muita observação, inspiração, repetição e diversos testes para chegar a um resultado minimamente esperado!
Como conta Gustavo Rocha, fundador da Alkacer Game Studio e cofundador da Rastrolabs Game Studio, o que lhe move dentro desse universo "é o forte desejo de expressão dentro da mídia dos jogos digitais".
“Jogo videogame desde criança, e muitos desses jogos eu jogava sem entender uma palavra, já que todos que joguei estavam em japonês ou inglês. Apesar da barreira do idioma, isso só aumentou minha curiosidade. Eu me concentrava mais nos desafios e tentava imaginar o significado dos objetivos e das motivações dos personagens apenas pelas imagens, animações e trilhas sonoras", relembra o fundador.
"Por isso, eu diria que meu ímpeto de criar jogos vem da vontade de criar desafios e conquistas que despertem o interesse do jogador por meio de um visual bacana e tentando dar espaço para os jogadores atribuírem seu próprio significado e valor às ações dentro do jogo”.
É importante entender também que a jornada entre “tenho uma ideia” a “tenho um jogo” enfrenta uma etapa considerada não muito “romântica”: transformar o nosso conceito em algo realmente jogável. Essa é a parte que os desenvolvedores precisam responder perguntas que podem se tornar “desconfortáveis” como: “Meu jogo realmente é divertido?” ou “Alguém, além de mim, entenderia meu jogo?”.
É aí que a cultura do testar cedo surge, sendo algo que tanto diferencia os games indies dos grandes estúdios.
Enquanto as empresas grandes possuem bastante recursos, acompanhado de um time gigantesco compondo as mais diversas áreas, que inclusive contam com profissionais dedicados a testar seus jogos.
Os times indies se seguram a multidisciplinaridade e sobrevivem do aprendizado, algumas vezes associados também ao improviso. Nós, indies, precisamos buscar espaços, seja no meio online ou físico, para que baterias de testes sejam executadas, as quais devem ser feitas desde a primeira fase do projeto, os protótipos.
Isso é uma forma responsável de validar se sua ideia realmente consegue engajar o seu público e identificar possíveis melhorias em etapas iniciais para que essas já possam ser trabalhadas, permitindo alcançar a melhor versão do seu game!
O game designer Vinicius Lima, cofundador do Studio Bravika e cofundador do Studio 85, compartilha todo seu processo, que é carregado de observação e pesquisa voltado ao mercado, além de ter uma auto análise sobre os diferenciais da própria equipe.
"E só após isso começamos a de fato concepcionar uma proposta base do jogo, a partir daqui é necessário muito repertório, seja através de livros, filmes e principalmente jogos do segmento escolhido (mas sem excluir outros também), para conseguir criar algo que possa realmente interessar aquele público alvo. Após isso, desenvolvemos uma versão minimamente jogável que possa nos permitir testar a experiência mais básica possível e, se agradar a equipe, e mostrar potencial, aí sim vamos para a fase de planejamento, definição de escopo e muitas etapas até que o jogo seja concluído”.
Ou seja, agora é possível compreender que por mais que os games pareçam apenas criatividade pura, por dentro das etapas de desenvolvimento há muito estudo, busca por repertório e planejamento.
Para Gustavo Rocha, a linha de raciocínio segue um caminho parecido. “Jogar muitos jogos e ler sobre desenvolvimento é fundamental. Grande parte dos problemas que surgem durante a criação de um jogo já receberam ótimas soluções em outros títulos ou artigos. Na maioria das vezes, não há necessidade de reinventar a roda. Embora eu seja formado em música, considero-me uma pessoa muito visual. Gosto de pensar no movimento das coisas. Costumo imaginar primeiro como determinado elemento do meu jogo deveria se comportar visualmente, e só depois penso em como o jogador poderia interagir com ele. Acredito que uma boa apresentação visual cativa as pessoas e torna os elementos do jogo muito mais envolventes e significativos”, afirma.
Com isso, podemos entender que as ideias surgem, mas precisam respeitar e caber no orçamento, nas habilidades do time e no tempo disponível. E fique ciente, o ciclo não termina no lançamento do nosso game!
Jogos indies vivem de comunidade, uma relação que permite alimentar ideias futuras, seja para o título atual, para outras sequências ou propriedades intelectuais. Os feedbacks dos seus jogadores permitem moldar atualizações, expansões e até novos projetos!
Ao fim, a pergunta “Como nascem os games indies?” pode contar com diferentes respostas, mas se fosse para eu resumir, digo que seria o encontro entre curiosidades, superar limitações, entender o mercado e contar algo que ainda não existe por completo!
Enquanto as gigantes da indústria miram no sucesso de bilheteria, nós indies continuamos explorando o desconhecido, em que cada “bug” pode se tornar uma nova mecânica e cada história pessoal também pode se tornar um game!
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