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Desafios do home office à saúde mental
Reportagem Seriada

Desafios do home office à saúde mental

A nova dinâmica de trabalho implementada tem um impacto grande no bem-estar emocional dos trabalhadores e deve ser visto com cautela, conforme orientam especialistas
Episódio 7

Desafios do home office à saúde mental

A nova dinâmica de trabalho implementada tem um impacto grande no bem-estar emocional dos trabalhadores e deve ser visto com cautela, conforme orientam especialistas
Episódio 7
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“Positivo por um lado, exaustivo por outro”, assim o empresário cearense Delano Macêdo define o sistema de home office. Ele destaca que a nova forma de trabalho representou uma mudança completa em seu estilo de vida. Partindo de duas viagens mensais a São Paulo para até 35 videoconferências por semana, o sócio-fundador da CDP Capital pondera que por estar habituado com reuniões online e ter facilidade com uso de tecnologia acreditou que o processo de adaptação seria mais fácil.

Ele relata que se adaptou bem ao novo sistema, mas que foi preciso um processo de reorganização tanto do ponto de vista pessoal e mental quanto da estrutura da casa. “Eu me cobrava muito, achava que por estar em casa não estaria produzindo, então no começo tinha essa pressão muito grande”, comenta. Cobrança essa que representa um sinal de alerta, conforme Raquel Nascimento, psicóloga especialista em temas trabalhistas. 

“O home office também está associado a uma sobrecarga mental e de trabalho. Há uma pressão muito grande para provar que estamos trabalhando, além claro do aumento de demandas e da extrema dificuldade em separar a vida profissional da pessoal”, detalha a psicóloga. Para tentar contornar o problema, Delano relata que foi preciso reforçar a conversa com a família, incluindo a adoção de horários específicos para algumas atividades em conjunto, como o almoço.

O empresário conta ainda que buscou estudar técnicas de organização, métodos de concentração e recorreu ainda ao auxílio de aplicativos que o ajudassem a compor melhor a rotina, tentando evitar a exaustão mental e buscando formas de manter a produtividade sem deixar de lado a vida pessoal. “Acho que depois desse processo de adaptação, eu com certeza estou trabalhando bem mais, porém com mais qualidade”, argumenta o empresário.

Raquel pondera que a adaptação forçada para o home office foi responsável por uma elevação significativa do estresse de muitos trabalhadores, sendo potencializado pelo cenário de calamidade vivido mundialmente. Ela afirma ser fundamental a construção de redes de apoio entre os moradores da casa e mesmo com outras pessoas de forma remota, para que essas frustrações, anseios, estresse, tudo seja compartilhado.

Delano Macedo, sócio-fundador da CDP Capital
Foto: Aurelio Alves
Delano Macedo, sócio-fundador da CDP Capital

Reforçando a importância desse apoio familiar, Delano comemora a aproximação que teve com a família com o home office, mas pontua que é preciso muita paciência e compreensão para que um não invada o espaço do outro e a convivência em tempo integral possa ser tranquila. “Estamos interagindo e conversando mais e discutindo menos. Há muita conversa pelo WhatsApp também, pra manter contato dentro de casa sem atrapalhar as reuniões de cada um. Agora eu sei de tudo pelos emotions”, brinca.

Enquanto empresário, Delano pontua ainda que a implementação do home office fez com que a empresa adotasse uma nova forma de gestão. “Atribui maiores funções, reorganizei o fluxo, interrompemos as cobranças diárias, o que importa é a entrega de resultado e equacionando melhor a vida pessoal e profissional, dando apoio a nossos funcionários tivemos um avanço no rendimento”, detalha frisando que mesmo com desafios e problemas, a nova forma de trabalho deve ser encorajada, especialmente pelo fato de apresentar menores risco de contaminação pela Covid-19.

 

 Como cuidar do bem-estar mental estando em home office

Com base na conversa com a psicóloga Raquel Nascimento, O POVO elaborou uma lista com alguns alertas de como se adaptar melhor à rotina do home office, sem negligenciar a saúde mental, respeitando o máximo possível os limites das vidas profissional e pessoal. Confira:

>> É preciso organizar o máximo possível um ambiente minimamente adequado para se trabalhar, criar uma rotina e conversar com todos na casa. Adoção de aplicativos de organização e exercícios de concentração podem auxiliar.

>> Tentar criar horários para atividades exclusivamente pessoais, com interação com familiares, buscando uma rede de apoio é fundamental para manter o bem estar físico e emocional.

>> Sintomas como dor de cabeça constante, dores na região do pescoço e costas, sensação de adoecimento, sentimento de exaustão emocional estão associadas ao aumento excessivo de estresse e requerem atenção.

>> Dentro da rede de apoio emocional é importante a adoção de válvulas de escape, de forma conjunta ou individual, com atividades associadas ao lazer como jogos de cartas e tabuleiros, consumo de filmes, séries, livros entre outras atividades culturais e relaxantes.

>> Dividir as tarefas do lar, em respeito aos horários de trabalho de cada um é uma forma de tentar impedir o exercício do trabalho muito além do horário previsto.

>> Mesmo com aumento da carga de trabalho, é importante respeitar os limites mentais, físicos e de infraestrutura para o trabalho remoto e evitar que uma autocobrança aumente ainda mais pressão sobre o trabalhador.

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