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Mulher vota em mulher, mas não em qualquer uma
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Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.

Sara Oliveira comportamento

Mulher vota em mulher, mas não em qualquer uma

É preciso saber exatamente qual representatividade as mulheres necessitam nos locais de poder onde se criam leis e executam políticas públicas. Muito dificilmente um homem saberá de fato trabalhar para que a vida das mulheres seja mais igualmente considerada
Na foto: Rosa da Fonseca, política, e Maria Luiza Fontenele.
Foto: João Carlos Moura, em 21/04/1993 (Foto: João Carlos Moura, em 21/04/1993)
Foto: João Carlos Moura, em 21/04/1993 Na foto: Rosa da Fonseca, política, e Maria Luiza Fontenele. Foto: João Carlos Moura, em 21/04/1993

Que a conta sobre igualdade de gênero entre a maioria do eleitorado e a maioria das candidaturas nas Eleições 2024 não bate, não há dúvida. Somos 52% do total de votantes no Ceará e 35% entre as pessoas que podem ser eleitas para cargos no Legislativo e Executivo do Município. Não há dúvidas de novo: mulheres precisam votar em mulheres, mas há de termos calma para saber que tipo de representatividade queremos e, principalmente, precisamos.

Nesses meses de campanha foi possível ver diferentes discursos, propostas, referências e formas de tentar angariar votos femininos. Houve inúmeros nomes de registro de candidatura de mulheres que “são” de fulano ou ciclano, parte de uma lógica de referência política extremamente dependente. Teve dancinha, rede social, discurso sobre a família, empreendedorismo, construção de creche, violência doméstica, fila no atendimento em saúde dos filhos, educação.

Fazendo uma análise comparativa, vi bem menos propagandas eleitorais sobre direitos reprodutivos, abuso sexual, misoginia, aborto. Pouco também sobre igualdade de responsabilidades na manutenção da vida doméstica e na criação dos filhos. Quase nada sobre invisibilidade. Mas teve muito, em cores, vestimentas e simbologias, diferentes discursos religiosos.

É preciso saber exatamente qual representatividade as mulheres necessitam nos locais de poder onde se criam leis e executam políticas públicas. Muito dificilmente um homem saberá de fato trabalhar para que a vida das mulheres seja mais igualmente considerada. Com suas nuances históricas crueis tão impregnadas no dia a dia.

Uma mulher eleita significa inúmeras vitórias muito antes de sua candidatura. A luta partidária é árdua. Conseguir apoio e dinheiro para investir em campanhas desiguais e violentas já é um feito estatisticamente reduzido. Passar pelos ataques preconceituosos e inadmissíveis é “via de regra”, não tem escolha.

Há algumas décadas, as mulheres nem podiam votar. Até 1962, precisávamos de autorização dos homens para trabalhar. Ainda temos decisões sobre nossos corpos tomadas por quem não os respeita. Ainda ganhamos menos, mesmo trabalhando mais, sustentando mais, cuidando muito mais. Somos cobradas demais e valorizadas de menos. Somos mães sozinhas, violentadas, exaustas. Somos vítimas de violência, em casa e nas ruas.

São muitas as demandas, que atrasadas, geram realidades que exigem ainda mais empenho na hora de escolher uma mulher que nos represente. Os passos dados à frente quando se fala em políticas não podem retroceder, as conquistas legislativas para proteção de vidas, a voz para falar de abusos, as poucas liberdades adquiridas na base da “cara, coragem e luta”... não podemos retroceder. Portanto, vote em mulher, mas não em qualquer uma.

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