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Por que o voto de mulheres é tão valioso
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Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.

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Por que o voto de mulheres é tão valioso

Nunca se ouviu falar tanto em creche e autismo como nos últimos meses. Marca de um, bandeira de outro, propostas mirabolantes e muitas "mãezinhas" a serem acolhidas. O que parece cuidado também pode significar anulação, conformismo, falta de acesso e de efetividade de políticas
Tipo Opinião
FORTALEZA-CE, BRASIL, 02-09-2024: Inauguração do posto de saúde do Cidade Jardim II.  (foto: Fabio Lima/ OPOVO) (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA-CE, BRASIL, 02-09-2024: Inauguração do posto de saúde do Cidade Jardim II. (foto: Fabio Lima/ OPOVO)

O último fim de semana foi de prioridade em busca do voto feminino em Fortaleza. Caminhada, carreata, diferentes cores, nomes e pautas tentaram fazer com que André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) se aproximassem do que seria uma representatividade feminina em suas campanhas uma semana antes do segundo turno. Ambos em busca da maioria do eleitorado, pois somos 52% do total. Mas por que o voto de mulheres é valioso?

A avalanche de propostas, discursos, ideias e mudanças apresentadas pelos candidatos têm foco nos serviços públicos municipais: saúde, educação, infraestrutura, patrimônio público, entre outros… e a maioria desses serviços tem as mulheres como principais usuárias e interessadas. Elas podem ser facilmente identificadas nas filas de espera por atendimento em posto de saúde, vaga em creche, consulta com especialista médico, regularização de documentos, participação em projetos infantis e de empreendedorismo.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é um bom exemplo disso. Em 2019, a Pesquisa Nacional da Saúde (PNS) constatou que 69,9% das pessoas que procuravam a Atenção Primária à Saúde (APS) eram mulheres, 53,8% não tinham uma ocupação e 64,7% tinham renda familiar per capita inferior a um salário mínimo. A avaliação deste eleitorado sobre a principal política de uma gestão, que é a sobrevivência saudável de sua população, é sem dúvida uma importante conquista.

Nunca se ouviu falar tanto em creche e autismo como nos últimos meses. Marca de um, bandeira de outro, propostas mirabolantes e muitas "mãezinhas" a serem acolhidas. O que parece cuidado também pode significar anulação, conformismo, falta de acesso e de efetividade de políticas.

E essa noção acaba não sendo vista nos atos de campanha nas ruas de Fortaleza — nem no conhecimento que os gestores precisam ter sobre as reais demandas de mulheres e crianças. Ressalto: muitas destas demandas são resultados de desigualdades sociais históricas que impõem a elas a responsabilidade sobre casa, filhos e sustento familiar.

Em sabatinas no O POVO, na última semana, o tema vagas em creches esteve presente. Na fala de ambos candidatos, há uma lista de espera na rede municipal que soma de 11 mil a 15 mil crianças. As propostas contemplam um número que teria sido repassado, segundo eles, por gestores municipais, estaduais e até federais. Os dados sobre a demanda por creches na Capital, porém, são outros e merecem diferentes análises de quem pretende enfrentar o problema.

De acordo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2023, das 46 mil crianças de 0 a 3 anos em Fortaleza, apenas 16 mil estão na educação infantil. Número está presente em um panorama educacional elaborado pela ONG Todos Pela Educação.

Um estudo da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, que cruzou dados econômicos e de condições sociais e familiares das crianças nesta faixa etária, construiu um Índice de Necessidade de Creche Estados e Capitais (INC), onde 41.462 crianças precisariam de creche em Fortaleza.

Não há um número concreto de vagas que precisam ser criadas ou preenchidas, principalmente por que muitas famílias e mães sequer acham que podem ter acesso a uma. “Realizar, periodicamente, em regime de colaboração, levantamento de demanda por creche para população de até 3 anos, como forma de planejar a oferta e verificar o atendimento da demanda manifesta” é uma das estratégias do Plano Nacional de Educação (PNE), que está prestes a ser renovado para a próxima década sem cumprir muitas metas da última.

Importante que o futuro prefeito saiba mais sobre realidade. Importante que saiba que investir na educação infantil é, acima de tudo, planejar de forma qualitativa o futuro, para o mercado de trabalho e para o bem-estar social. É dar mais chances de crescimento saudável às crianças, impactando nas condições sociais da população e, portanto, podendo ter mais saúde, educação e segurança. É mais do que uma política para mulheres eleitoras e a necessidade de ter onde deixar o filho para trabalhar.

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