Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.
Nunca se ouviu falar tanto em creche e autismo como nos últimos meses. Marca de um, bandeira de outro, propostas mirabolantes e muitas "mãezinhas" a serem acolhidas. O que parece cuidado também pode significar anulação, conformismo, falta de acesso e de efetividade de políticas
O último fim de semana foi de prioridade em busca do voto feminino em Fortaleza. Caminhada, carreata, diferentes cores, nomes e pautas tentaram fazer com que André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) se aproximassem do que seria uma representatividade feminina em suas campanhas uma semana antes do segundo turno. Ambos em busca da maioria do eleitorado, pois somos 52% do total. Mas por que o voto de mulheres é valioso?
A avalanche de propostas, discursos, ideias e mudanças apresentadas pelos candidatos têm foco nos serviços públicos municipais: saúde, educação, infraestrutura, patrimônio público, entre outros… e a maioria desses serviços tem as mulheres como principais usuárias e interessadas. Elas podem ser facilmente identificadas nas filas de espera por atendimento em posto de saúde, vaga em creche, consulta com especialista médico, regularização de documentos, participação em projetos infantis e de empreendedorismo.
O Sistema Único de Saúde (SUS) é um bom exemplo disso. Em 2019, a Pesquisa Nacional da Saúde (PNS) constatou que 69,9% das pessoas que procuravam a Atenção Primária à Saúde (APS) eram mulheres, 53,8% não tinham uma ocupação e 64,7% tinham renda familiar per capita inferior a um salário mínimo. A avaliação deste eleitorado sobre a principal política de uma gestão, que é a sobrevivência saudável de sua população, é sem dúvida uma importante conquista.
Em sabatinas no O POVO, na última semana, o tema vagas em creches esteve presente. Na fala de ambos candidatos, há uma lista de espera na rede municipal que soma de 11 mil a 15 mil crianças. As propostas contemplam um número que teria sido repassado, segundo eles, por gestores municipais, estaduais e até federais. Os dados sobre a demanda por creches na Capital, porém, são outros e merecem diferentes análises de quem pretende enfrentar o problema.
Um estudo da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, que cruzou dados econômicos e de condições sociais e familiares das crianças nesta faixa etária, construiu um Índice de Necessidade de Creche Estados e Capitais (INC), onde 41.462 crianças precisariam de creche em Fortaleza.
Não há um número concreto de vagas que precisam ser criadas ou preenchidas, principalmente por que muitas famílias e mães sequer acham que podem ter acesso a uma. “Realizar, periodicamente, em regime de colaboração, levantamento de demanda por creche para população de até 3 anos, como forma de planejar a oferta e verificar o atendimento da demanda manifesta” é uma das estratégias do Plano Nacional de Educação (PNE), que está prestes a ser renovado para a próxima década sem cumprir muitas metas da última.
Importante que o futuro prefeito saiba mais sobre realidade. Importante que saiba que investir na educação infantil é, acima de tudo, planejar de forma qualitativa o futuro, para o mercado de trabalho e para o bem-estar social. É dar mais chances de crescimento saudável às crianças, impactando nas condições sociais da população e, portanto, podendo ter mais saúde, educação e segurança. É mais do que uma política para mulheres eleitoras e a necessidade de ter onde deixar o filho para trabalhar.
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