Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade
O tempo mostra que gargalhar alto e com vontade será sempre permitido. O esmalte pink da cor do verão - de adolescente, como já ouvi - lembra o que é mais importante no tempo: as sensações
Olhei para as minhas mãos e levei um susto. As rugas no rosto e o cabelo branco eu já havia percebido mais presentes, mas ainda não tinha prestado atenção nas minhas mãos. Pele mais fina e veias sobressalentes em meio ao esmalte colorido e aneis de prata. Eu envelheço, me entendo e me permito mais com os novos anos que chegam. Mas as marcas deles continuam, sim, sendo tabu. Até para mim!
Por que seguir o rumo natural - que acontece para todos os seres da natureza - é algo tão complexo para as mulheres? Chegar aos 30 é quase que obrigatoriamente passar a falar sobre botox e preenchimento… quando, como, com quem e pagando quanto. Boca, testa, sobrancelha, bumbum. Tudo vira uma preocupação.
Mesmo para mim, que estou muito satisfeita com o corpo que adquiri fazendo ginástica duas vezes na semana, com personal online e as crianças correndo na varanda. Mesmo para mim, que assumi minha mecha branca, mas fico encarando-a no espelho. Mesmo para mim, que já entendi que o melhor das pessoas não está na estética.
Olho para minha foto de 20 anos atrás, com o rosto lisinho, penso, consigo ver as diferenças, mas não sinto falta. Me deparo com o presente de uma mulher mais livre, mais segura, mais forte, mãe, filha, trabalhadora, amiga. Consigo perceber, hoje, que o corpo se funde a outras características do ser, independentes do envelhecer: o riso, as conversas, os interesses, as interações. Tenho 41 ou 25? Tenho quase 42.
Minhas mais de quatro décadas mostram que a pele bronzeada estará mais fina e que as conversas na mesa do bar terão mãos coloridas e fortes gesticulando. Os anos deixam claro que gargalhar alto e com vontade será sempre permitido. O esmalte pink da cor do verão - de adolescente, como já ouvi - lembra o que é mais importante no tempo: as sensações.
Se libertar de estereótipos e quebrar padrões não é fácil. Aparência e jovialidade são exigências da sociedade para as mulheres, que são levadas a acreditar que é preciso seguir padrões estéticos de acordo com a faixa etária. E mesmo depois de me desconstruir tanto e provar um outro tanto, ainda sinto a necessidade de seguir regras. Que não são impostas aos homens.
Um homem de 50 anos solteiro é um charmoso e uma mulher com a mesma idade, na balada, ainda é considerado desespero. Olhe para o lado, veja bem como o machismo e o etarismo estão mais presentes do que imaginamos nas falas, olhares e brincadeiras. Mas na contramão, estou eu, fazendo, vendo e avaliando o tempo do que eu bem quiser.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.