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"A força do amor vai nos salvar"
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Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..

"A força do amor vai nos salvar"

Da tristeza pelos assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira nasce a esperança que eles estejam encantados. Como a dizer: "E o sol então rebrilhará"
INDÍGENA do Brasil se manifesta em Bruxelas com imagens de Dom e Bruno (Foto: KENZO TRIBOUILLARD / AFP)
Foto: KENZO TRIBOUILLARD / AFP INDÍGENA do Brasil se manifesta em Bruxelas com imagens de Dom e Bruno

Tenho andado triste esses dias pelos assassinatos de Dom Phillips e Bruno Pereira, mas não desesperançada. Os dois eram desconhecidos para mim, mas, após a morte brutal, é como se eles tivessem participado de minha vida toda. O sentimento que eles tinham pela floresta é meu também, o respeito que eles mantinham pelos ensinamentos dos nossos ancestrais indígenas também está no meu coração; a busca por personagens para contar histórias e a tentativa de denunciar coisas estranhas também fazem parte de minha profissão.

A melancolia vem por sentir que a vontade de fazer um mundo mais coletivo, em harmonia com os bens da natureza, parece que está se perdendo. Ao matar o jornalista e o indigenista, os dois homens pensaram em exterminar também o cuidado que eles tinham com a floresta. Se eles não tiverem receio de matar, esquartejar e enterrar os dois, que tinham uma imaginária proteção ao seu redor, não teriam escrúpulos para exterminar cada um dos que vivem naquela comunidade. Eu me pergunto como na canção de Chico César: “ Como esta noite findará? Onde estará o meu amor?”. Ou onde estará o amor deste País?

Mas, ao mesmo tempo, tenho visto demais o canto de Bruno sentado no meio da floresta em que ele aparece sozinho, mas não está solitário. Naquele mantra bonito e espontâneo, que conta sobre uma mãe Arara chamando seus filhos para o ninho, o indigenista não estava só. Ali também estavam os espíritos da floresta. Eles aparecem nas folhas que balançam, no olhar para trás, na felicidade dele naquele instante com corpo e pés fincados na terra. Também tenho visto a foto em que o indigenista está com o laptop nas pernas, lanterna na cabeça e um curumim encosta o braço no ombro dele com a confiança de quem sente que ali tem um ‘irmão’ .


Tenho visto ainda vídeos das aulas de Dom no curso de inglês, que ele ministrava de forma gratuita em uma comunidade pobre de Salvador. Lá ele também cantava para atrair aqueles que estavam se iniciando no idioma. O saber dele não era egoísta. Parecia querer agradecer por ter aprendido a amar esta terra e decidido permanecer como um de nós. Como ele disse em última frase escrita em rede social: “Amazônia, sua linda”.

A tristeza então ganha um fio de esperança. A força dos dois deve permanecer por aqui, pairando sobre a floresta, como encantados. A vida deles será contada que nem história de trancoso. A fé renasce de novo ao ouvir na TV a frase simples da canção de abertura do desenho “Miraculous: as Aventuras de Ladybug: “A força do amor vai nos salvar”. A confiança permanece com a resposta para a noite na música citada acima: “E o sol então rebrilhará/ Estou pensando em você (s)”.

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