Vladimir Nunan é CEO da Eduvem, uma startup premiada com mais de 20 reconhecimentos nacionais e internacionais. Fora do mundo corporativo, é um apaixonado por esportes e desafios, dedicando-se ao triatlo e à busca contínua pela superação. Nesta coluna, escreve sobre tecnologia e suas diversidades
Foto: Reprodução/Pexels
Vírus Sorvepotel: entenda o novo golpe do WhatsApp e veja como se prevenir
Imagine a cena. É uma terça-feira comum. Você chega ao trabalho, abre o computador, faz login no e-mail, coloca uma música de fundo e, sem pensar muito, escaneia o QR Code do WhatsApp Web para facilitar o dia. A tela carrega e as conversas aparecem. Você troca algumas mensagens rápidas, envia um relatório, responde um cliente. Depois, entra em uma reunião e se concentra no resto da manhã.
Ao sair para o almoço, você bloqueia o computador, mas não fecha as abas. Faz parte da rotina. Quase ninguém lembra de fechar o WhatsApp Web depois de usar.
Enquanto você está fora, alguém aproveita um descuido. Talvez um técnico terceirizado que passa pelo escritório. Talvez um colega de outro turno. Talvez alguém que usa o mesmo computador compartilhado do coworking.
Basta a pessoa abrir o navegador, clicar na aba ainda ativa do WhatsApp Web e, sem precisar de senha ou truque sofisticado, ela tem acesso completo às suas conversas.
A partir desse momento, a arma entra em ação. Invisível, rápida, automática. O vírus Sorvepotel assume a sessão como se fosse você. Ele começa a mandar mensagens para seus contatos, imitando seu jeito de escrever. Ele envia links falsos, arquivos maliciosos e pedidos de transferência com aparência real. As pessoas do outro lado confiam. Atendem. Respondem. Caiem.
Quando você retorna à mesa, tudo parece igual. Mas sua rede inteira já pode estar comprometida. Essa narrativa, infelizmente, já aconteceu com várias pessoas no Brasil nos últimos meses.
E é exatamente por isso que o Sorvepotel ganhou destaque: não porque seja o vírus mais avançado do mundo, mas porque usa algo que ninguém costuma olhar com atenção, algo tão simples que passa despercebido. Ele explora comportamento humano.
Este artigo explica, em linguagem acessível, como o golpe funciona, por que ele é tão eficaz e o que qualquer pessoa pode fazer para se proteger.
O Sorvepotel é um tipo de vírus ligado a golpes que usam engenharia social combinada com automação. Na prática, ele não invade sistemas complexos e tampouco precisa quebrar senhas. Ele trabalha com aquilo que todos nós temos: descuido, pressa, confiança e rotina.
O maior foco do Sorvepotel é explorar sessões do WhatsApp Web que permanecem abertas em computadores que mais de uma pessoa pode usar, ou máquinas esquecidas com abas ativas.
Isso acontece no trabalho, no coworking, na faculdade, no home office compartilhado, ou até na casa de amigos e familiares.
Diferente de golpes tradicionais que dependiam de arquivos anexados ou cliques em links duvidosos, o Sorvepotel consegue agir mesmo quando a pessoa não faz nada. Ele usa a sessão já aberta para realizar ações em nome da vítima.
O que torna o vírus tão eficiente é a automação. Ele é capaz de enviar mensagens para dezenas de contatos ao mesmo tempo, simular conversas, responder de maneira coerente, soar natural, copiar padrões de escrita e pedir pagamentos usando argumentos típicos. É como se uma versão falsa da vítima estivesse conversando com todo mundo.
No Brasil, onde o WhatsApp é central na comunicação pessoal e profissional, isso cria um cenário perfeito para golpes rápidos e convincentes.
Como o golpe funciona na prática no Brasil
Para entender melhor, veja como os golpistas têm usado o Sorvepotel em diferentes cidades brasileiras.
1. A brecha começa em uma aba
A vítima usa o WhatsApp Web no computador e esquece de desconectar. Isso por si só não é um problema se o computador for de uso pessoal. O problema surge quando o computador é compartilhado ou fica em um ambiente público ou corporativo.
Muita gente acredita que bloquear a tela é suficiente. Porém, se outra pessoa desbloquear o computador, mesmo que rapidamente, a sessão do WhatsApp Web continua aberta e ativa.
2. O golpista acessa a sessão
O criminoso não precisa de senha. Ele só precisa abrir a aba do WhatsApp Web que já está logada. Não há barreira técnica. É como se você deixasse sua porta encostada. Com isso, o golpista tem acesso imediato às suas conversas, contatos e grupos.
3. A automação faz o resto
Aqui entra o papel do Sorvepotel. O vírus pega essa sessão e começa a agir automaticamente. Ele pode:
enviar mensagens para contatos próximos;
repetir frases que você costuma usar;
pedir dinheiro, dizendo que é uma emergência;
enviar links que instalam outros vírus;
mandar arquivos falsos com nomes comuns, como “nota.pdf” ou “comprovante.jpg”;
iniciar conversas longas com parentes sem levantar suspeitas;
pedir códigos de confirmação fingindo ser você.
Tudo isso acontece em segundos. Em muitos casos, a vítima só percebe quando alguém liga perguntando sobre o pedido estranho ou quando o próprio WhatsApp começa a bloquear atividades suspeitas.
4. O golpe se espalha para outras vítimas
Pessoas próximas, confiando que estão falando com você, acabam clicando no link ou fazendo transferências. Em alguns casos, elas também têm seus aparelhos infectados, e o ciclo continua.
Esse efeito dominó é o que tem causado tanto prejuízo no Brasil. Um simples descuido inicial pode se transformar em dezenas de vítimas em questão de minutos.
5. O golpe é rápido e costuma terminar antes que a vítima descubra
Como tudo é automatizado, os golpistas conseguem agir antes que a vítima volte para o computador ou perceba qualquer alteração. Eles enviam mensagens, coletam respostas, pedem valores e somem logo depois. Por isso, o Sorvepotel tem sido tão usado: ele é eficaz, veloz e difícil de perceber imediatamente.
Por que o golpe funciona tão bem
Para muitas pessoas, ainda parece estranho imaginar que alguém cairia em um golpe assim. Mas o sucesso do Sorvepotel se baseia em três fatores simples.
1. Ele imita perfeitamente o jeito da vítima escrever
Com o avanço da inteligência artificial, o Sorvepotel consegue adaptar padrões da sua escrita. Isso significa que frases comuns, abreviações, jeito de falar e até emojis costumam aparecer nas mensagens enviadas pelo vírus. Isso aumenta muito a credibilidade do golpe.
2. Ele aproveita urgência emocional
Mensagens como: “Amigo, tô precisando resolver algo agora”, “Pode me ajudar com uma transferência? Eu devolvo em seguida” e “Estou com um problema urgente” são usadas porque ativam nossa tendência natural a ajudar quem está próximo.
3. Ele age antes que a vítima perceba
Quando o golpe acontece sem o clique da vítima, sem aviso, sem pop-up estranho, sem notificação de erro, fica quase impossível perceber que algo está errado a tempo.
Como identificar sinais de que sua conta pode estar comprometida
Mesmo com a automatização avançada, existem pistas que podem indicar que algo está errado. Observe:
mensagens enviadas sem que você tenha escrito;
contatos perguntando sobre pedidos que você não fez;
arquivos que aparecem enviados sem você ter anexado;
alertas do WhatsApp sobre ativação em outro aparelho;
atividades em horários em que você não estava usando o computador;
grupos recebendo mensagens suas que você não reconhece.
Se qualquer uma dessas situações ocorrer, aja imediatamente.
Como se proteger do golpe de forma simples
A boa notícia é que a proteção não exige conhecimento técnico. Pequenas ações reduzem drasticamente o risco.
1. Verifique onde o WhatsApp está conectado
Abra o WhatsApp no celular e vá em: Configurações Aparelhos Conectados.
Ali você vê todos os lugares onde sua conta está ativa. Se encontrar algo estranho, toque em “Desconectar de todos os aparelhos”.
2. Nunca deixe o WhatsApp Web aberto em computadores compartilhados
Se você usa um computador no trabalho, no coworking, na faculdade ou em um ambiente público, lembre-se de:
abrir o WhatsApp Web quando for necessário;
usar;
fechar a aba antes de sair;
clicar em “Desconectar” ao fim.
É simples e evita a maioria dos casos do golpe.
3. Ative a verificação em duas etapas
No WhatsApp:
Configurações Conta Verificação em Duas Etapas
Ative.
Crie um PIN seguro.
Anote em lugar protegido.
Esse PIN impede que sua conta seja transferida para outro aparelho.
4. Desconfie de qualquer pedido urgente
Sempre confirme por áudio ou ligação quando alguém pedir dinheiro, transferência, código, link, senha e informações pessoais. Golpistas dependem da pressa. Se você desacelera, você se protege.
5. Não clique em links sem confirmar
Mesmo que venha de alguém próximo. Se estiver com dúvida, basta perguntar: “Foi você que enviou isso?”.
6. Use antivírus e mantenha o navegador atualizado
Essas ferramentas ajudam a bloquear arquivos falsos e scripts usados pelo Sorvepotel.
7. Evite salvar senhas em computadores públicos
Isso inclui: e-mail, redes sociais, WhatsApp Web e sistemas corporativos. Computadores compartilhados são terreno fértil para golpes.
O que fazer se você já foi vítima do golpe
Se você desconfia que caiu no golpe, siga imediatamente os seguintes passos:
Abra o WhatsApp no celular e desconecte todos os dispositivos.
Ative a verificação em duas etapas se ainda não estiver ativada.
Avise contatos próximos sobre o golpe para evitar novas vítimas.
Procure sua operadora ou banco se dados sensíveis tiverem sido compartilhados.
Atualize seu antivírus e rode uma verificação completa.
Se for necessário, registre um boletim de ocorrência.
Avisar as pessoas rapidamente evita que o golpe continue se espalhando.
Por que falar sobre isso é importante
O Sorvepotel é um alerta para todos nós. Ele mostra que:
os golpes estão evoluindo rapidamente;
a automação facilita crimes em grande escala;
nosso comportamento é a primeira linha de defesa;
a desatenção abre portas maiores do que imaginamos;
qualquer pessoa pode ser vítima.
Por isso, compartilhar informação é fundamental. Quando uma pessoa aprende a se proteger, ela ajuda a proteger toda sua rede.
Conclusão: pequenas atitudes evitam grandes prejuízos
O Sorvepotel não é assustador porque é tecnicamente sofisticado. Ele é preocupante porque sabe usar nossas brechas humanas. Ele pega a rotina, o hábito, a pressa, o descuido, e transforma tudo isso em oportunidade.
Mas, assim como o golpe depende de comportamento, a defesa também depende. Desconectar sessões antigas, fechar abas, desconfiar de pedidos urgentes, verificar aparelhos conectados e adotar atenção básica são práticas simples que bloqueiam o caminho do vírus.
Em um país onde o WhatsApp é parte essencial da vida de milhões de pessoas, cada gesto de cuidado conta.
A tecnologia pode evoluir, os golpes podem mudar, mas a atenção continua sendo nossa maior proteção. Compartilhe esse conteúdo. Informe outras pessoas. Quanto mais gente souber do Sorvepotel, menos espaço ele terá para agir.
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