Vladimir Nunan é CEO da Eduvem, uma startup premiada com mais de 20 reconhecimentos nacionais e internacionais. Fora do mundo corporativo, é um apaixonado por esportes e desafios, dedicando-se ao triatlo e à busca contínua pela superação. Nesta coluna, escreve sobre tecnologia e suas diversidades
Dinamarca proíbe redes sociais e Suécia volta aos livros
Dinamarca proíbe redes sociais para menores de 15 anos e Suécia investe em livros físicos. Entenda os impactos da tecnologia no desenvolvimento infantil
Pela primeira vez, um país coloca de forma explícita a saúde mental das crianças acima da lógica de engajamento das plataformas digitais.
Esse movimento não surge do nada. Ele acompanha uma preocupação mundial que vem crescendo há anos. Pesquisas mostram que crianças e adolescentes estão expostos a estímulos digitais muito mais intensos do que seus cérebros conseguem processar de forma saudável.
Governos começam a perceber que deixar a formação emocional de uma geração nas mãos de algoritmos não é apenas arriscado. É perigoso.
A virada sueca: quando a tecnologia passa do limite
A Suécia já indicava há algum tempo que algo estava errado. Durante anos, o país apostou em uma educação quase totalmente digital. Tablets e plataformas dominaram as salas de aula, substituindo livros impressos.
Com o passar dos anos, os sinais de alerta apareceram. O desempenho em leitura e escrita caiu. Professores relataram dificuldade de concentração entre os alunos. Muitas famílias começaram a perceber crianças mais agitadas, impacientes e com dificuldade de manter foco em tarefas simples.
Em 2024, o governo sueco decidiu investir milhões de euros para trazer de volta os livros físicos para as escolas. A justificativa foi clara. Crianças precisam de contato com o papel, com a escrita manual e com ambientes menos estimulados para aprender de verdade.
A Suécia não abandonou a tecnologia. Ela apenas reconheceu que o digital precisa de equilíbrio, intenção e limites.
A decisão da Dinamarca está alinhada com um conjunto de evidências científicas. Diversos estudos publicados em revistas médicas internacionais mostram que o uso excessivo de redes sociais está ligado ao aumento de sintomas de depressão em adolescentes.
Psicólogos explicam que a adolescência é uma fase de grande sensibilidade emocional. Neurocientistas reforçam que o cérebro jovem ainda está se desenvolvendo. A área responsável por autocontrole, tomada de decisão e avaliação de risco só amadurece por completo na vida adulta.
Isso significa que crianças e adolescentes reagem de forma mais forte a estímulos intensos, recompensas rápidas e comparações sociais. Quando colocamos isso dentro de aplicativos criados para competir por atenção, o ambiente se torna emocionalmente desgastante e às vezes até prejudicial.
A hiperconexão é mais profunda do que parece
Hiperconexão não significa apenas passar muitas horas em frente a uma tela. Ela é resultado de um conjunto de estratégias de design.
São algoritmos que incentivam rolar a tela sem parar. São notificações constantes que geram pequenas descargas de dopamina. São curtidas que transformam autoestima em números. São comparações sociais que se repetem todos os dias.
Para um cérebro que ainda está se formando, esse ambiente pode gerar ansiedade, perda de foco, impulsividade e dificuldades emocionais.
A decisão da Dinamarca não fala apenas sobre o tempo de uso. Fala sobre o ambiente em que crianças e adolescentes estão sendo expostos e sobre como este ambiente foi construído para moldar emoções e comportamentos.
O retorno ao físico e a força dos livros
Quando a Suécia decide voltar aos livros físicos, ela reconhece algo que a pedagogia já mostra há décadas. A aprendizagem precisa de ritmo e profundidade. Ler no papel é diferente de ler em telas. O papel reduz distrações e melhora o foco.
A escrita manual ativa áreas do cérebro ligadas à memória e ao raciocínio. Professores relatam que alunos que escrevem mais no papel conseguem compreender melhor conteúdos, organizar ideias com mais clareza e manter a atenção por mais tempo.
A decisão de trazer os livros de volta não é nostalgia. É ciência aplicada à educação.
O que tudo isso significa para o futuro das crianças
As decisões da Dinamarca e da Suécia revelam uma mudança importante na forma como entendemos a infância.
Crianças precisam de ambientes equilibrados. Precisam de espaços de silêncio. Precisam aprender a lidar com tédio, frustração e espera. São experiências fundamentais para o desenvolvimento de habilidades emocionais como foco, paciência e autorregulação.
Quando uma geração cresce conectada o tempo inteiro, ela perde parte desses aprendizados essenciais. Isso afeta a vida escolar, a vida social, a construção da identidade e até o futuro profissional. Tecnologia não é vilã. O problema é o desequilíbrio.
Nada disso significa rejeitar tecnologia. Tanto a Dinamarca quanto a Suécia continuam investindo em inovação.
O que mudou foi a consciência. A pergunta deixou de ser quanto mais tecnologia melhor e passou a ser qual é o papel certo da tecnologia na vida de uma criança.
Tecnologia pode ajudar quando usada com propósito. Pode ampliar o repertório. Pode facilitar o acesso ao conhecimento. Mas precisa de limites, orientação e uso consciente.
Estamos criando crianças que vivem no mundo ou no feed
Essa é a pergunta central. A Dinamarca colocou um limite claro. A Suécia mostrou que voltar atrás é possível. A ciência nos lembra que o cérebro infantil é sensível e precisa ser protegido.
O futuro da infância depende dessa nova consciência. Uma consciência que coloca o humano antes do algoritmo. O desenvolvimento antes do engajamento. O bem-estar antes da tela.
Estamos entrando em uma nova fase da sociedade digital. A desconexão consciente talvez seja o passo mais importante para garantir que crianças cresçam inteiras, presentes e capazes de viver plenamente no mundo real.
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