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A Amazon demitiu 30 mil, mas quem ficou vai trabalhar dobrado
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Vladimir Nunan é CEO da Eduvem, uma startup premiada com mais de 20 reconhecimentos nacionais e internacionais. Fora do mundo corporativo, é um apaixonado por esportes e desafios, dedicando-se ao triatlo e à busca contínua pela superação. Nesta coluna, escreve sobre tecnologia e suas diversidades

Vladimir Nunan tecnologia

A Amazon demitiu 30 mil, mas quem ficou vai trabalhar dobrado

O maior desafio da Amazon, da Microsoft e do Google não é o medo da IA substituir pessoas, mas o custo astronômico de sustentar essa revolução tecnológica
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Amazon anuncia demissões (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)
Foto: Samuel Setubal/ O Povo Amazon anuncia demissões

A manchete é verdadeira, mas o motivo é outro

A notícia é real. A Amazon demitiu cerca de 30 mil pessoas e a inteligência artificial (IA) está no centro dessa história. Só que a explicação vai muito além da automação.

A versão mais popular é a de que a IA assumiu as tarefas repetitivas e deixou funções humanas obsoletas. Isso até faz sentido, mas é apenas uma parte da história. O que realmente está por trás é uma questão econômica, não tecnológica.

A automação explica uma parte, não o todo

É verdade que a IA está substituindo tarefas operacionais e melhorando processos. Isso reduz custos e aumenta a eficiência.

Mas, ao mesmo tempo, ela também está aumentando a carga sobre quem continua trabalhando. Menos pessoas estão responsáveis por mais tarefas. Em vez de aliviar o ritmo, a automação acelerou.

A máquina não se cansa, mas quem precisa alimentá-la e supervisioná-la acaba exausto. O sonho de “trabalhar menos com a ajuda da IA” ainda está longe de se concretizar.

O problema está no outro lado da planilha

O maior desafio da Amazon, da Microsoft e do Google não é o medo da IA substituir pessoas, mas o custo astronômico de sustentar essa revolução tecnológica.

Manter e treinar modelos de IA exige quantidades enormes de energia e processamento. No centro dessa corrida estão as GPUs da NVIDIA, os chips mais desejados do planeta.

Todo mundo quer o mesmo chip

Microsoft quer. Google quer. Amazon quer. Só que ninguém consegue comprar o suficiente. A demanda é tão alta que até a AWS, divisão de nuvem da Amazon, tem fila de empresas pedindo mais capacidade para rodar seus modelos de IA. A ironia é que a Amazon está perdendo dinheiro porque não consegue atender a demanda.

Bilhões indo embora em chips

Cada GPU custa dezenas de milhares de dólares. Para manter competitividade, a Amazon precisa investir bilhões. E isso destrói suas margens de lucro.

Quando o lucro cai, o mercado reage. Os acionistas cobram eficiência. E a única forma de cortar custos de forma significativa é reduzindo folha de pagamento.

O dinheiro ficou caro

Durante os anos de juros baixos, as empresas tinham fôlego para investir. O crédito era acessível e o crescimento parecia infinito.

Hoje o cenário é outro. Os juros subiram, o capital ficou escasso e o dinheiro perdeu velocidade. O foco deixou de ser expansão e passou a ser sobrevivência.

Quando o dinheiro é caro, as empresas priorizam eficiência e cortam tudo o que pesa. E a folha salarial é o corte mais rápido e mais grande o suficiente para equilibrar a conta.

A lógica mudou: de crescer a resistir

Em 2020, a regra era crescer a qualquer custo. Em 2025, é cortar para sobreviver. A Amazon vive o mesmo dilema de outras big techs: precisa investir bilhões para continuar no jogo da IA, mas sem comprometer o caixa. É uma corrida em que o preço da tecnologia se transformou em ameaça.

A IA que promete aliviar, mas sobrecarrega

A grande ironia é que a IA foi vendida como ferramenta para reduzir esforço humano, mas está tendo o efeito contrário.

Quem ficou no emprego agora tem mais tarefas, mais relatórios, mais pressão e menos tempo. O trabalho não desapareceu, só mudou de forma.

As máquinas automatizam parte da rotina, mas o ritmo e a cobrança aumentaram. O tempo livre que a IA prometia foi ocupado por novas demandas.

A automação não é a vilã

Automatizar é bom. O problema é o contexto econômico em que isso está acontecendo. A automação aumenta a eficiência, mas o que realmente impulsiona as demissões é a necessidade de financiar a própria revolução tecnológica.

Construir a infraestrutura de IA custa caro. Comprar chips, montar data centers e alimentar os modelos consome bilhões de dólares. E as empresas, pressionadas pelos investidores, precisam mostrar lucro.

O paradoxo da Inteligência Artificial

A IA é o motor e o peso desse novo ciclo. As empresas cortam pessoas para investir nela e investem nela para tentar cortar menos no futuro.

É um ciclo contraditório. A mesma tecnologia que promete eficiência está exigindo mais esforço, mais horas e mais adaptação humana.

Em vez de tempo livre, o que surge é uma nova forma de cansaço: o de trabalhar junto com a máquina, tentando acompanhar o que ela não consegue decidir sozinha.

Conclusão: quem paga a conta da inteligência

A inteligência artificial está transformando o mercado de trabalho, mas não da maneira que o discurso otimista sugere.

A automação gera ganhos, mas o verdadeiro motor das demissões é econômico. Com juros altos e margens apertadas, as empresas precisam escolher entre investir ou preservar empregos. E, por enquanto, o investimento ganhou.

A ironia é clara: a IA foi criada para aliviar o trabalho humano, mas, por enquanto, está fazendo o oposto. A Amazon demitiu 30 mil pessoas por causa da IA, e quem ficou vai trabalhar dobrado.

Foto do Vladimir Nunan

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