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Proprietários de prédio que desabou na Maraponga serão indiciados
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Proprietários de prédio que desabou na Maraponga serão indiciados

Os irmãos Arisol e Solimar Parente Portela responderão na Justiça pelos crimes de desabamento e dano qualificado. Laudo pericial foi divulgado nesta terça, 1°
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PRÉDIO RESIDENCIAL tombou em junho na Travessa Campo Grande, na Maraponga (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima PRÉDIO RESIDENCIAL tombou em junho na Travessa Campo Grande, na Maraponga

Os proprietários do edifício que desabou parcialmente na Maraponga, no último dia 1º de junho, os irmãos Arisol e Solimar Parente Portela, serão indiciados por crime de desabamento, por ter assumido um dolo eventual, e por dano qualificado, pelo prejuízo considerável causado às vítimas.

A informação foi dada na manhã desta terça, 1º, durante coletiva para divulgar o laudo da Perícia Forense do Ceará (Pefoce), na sede da instituição. O parecer aponta que o prédio foi construído sobre uma fossa, em um terreno sensível à presença de água, o que contribuiu para o desmoronamento.

Pelo estudo realizado pela Pefoce, são três as razões para o desastre: o projeto da edificação, a execução das obras e a vulnerabilidade do solo. O terreno estava instável, segundo o laudo, por conta de outros três fatores. O vazamento de água em um imóvel vizinho, diagnosticado pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará; a presença de um sumidouro com despejo de efluentes (esgoto) e do encharcamento do solo devido à quadra chuvosa. As informações são do perito criminal Fernando Viana.

Tudo contribuiu, segundo o perito, para deixar o solo instável para a edificação. A recomendação do engenheiro civil à época da construção era do uso de fundação indireta para o tipo de solo e isso também não foi obedecido. 

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O laudo da Pefoce foi divulgado quatro meses após o desabamento parcial. De acordo com o delegado da Polícia Civil Paulo Félix, titular do 19º Distrito Policial, no Conjunto Esperança, o prazo inicial de 10 dias de inquérito foi ampliado por conta das peculiaridades do caso. E explica que o laudo da Pefoce reforça o indiciamento dos proprietários por dolo eventual pelo desabamento e por dano qualificado. O dolo eventual é um instituto jurídico correspondente a um tipo de crime em que se assume um risco, mesmo sem querer efetivamente o resultado.

O laudo técnico da perícia foi produzido por meio do Núcleo de Perícias em Engenharia Legal e Meio Ambiente (Npelm) da Pefoce. Os estudos apontam que uma série de fatores resultaram no desabamento. Um deles é o fato de que o edifício foi construído sobre um solo com características de possíveis colapsos.

"O geólogo que analisou o solo na época da construção deu duas opções para o engenheiro que fez o projeto, de acordo com a análise do solo. O especialista deixou claro que para fazer a construção mais barata (que foi escolhida) deveria ser feito um acompanhamento com a presença de um técnico, que não foi constatada em nenhum lugar", aponta Félix. O tipo de fundação escolhida para dar sustentação ao prédio, a fundação direta, é mais barata. Recomendação de engenheiro civil para a obra não foi obedecida.

De acordo com o professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, Alexandre Bertini, a fundação indireta é bem mais cara que a direta porque precisa de equipamentos para a escavação. "A indireta requer um conhecimento mais específico e equipamentos para ser realizada. A direta é rasa e a indireta precisa de profundidade. Se faz fundação indireta de cerca de 10 metros e, com isso, a obra fica mais resistente", pontua.

A escolha do tipo de fundação a ser empregado na construção de um prédio, segundo Bertini, deve ser em função da intensidade da carga e da profundidade da camada resistente do solo. A partir destes parâmetros, escolhe-se a opção que for mais econômica, que seja executada mais rápido e que atenda às normas de segurança.

O POVO procurou o advogado dos proprietários do prédio, mas até às 17h20min, não obteve resposta.

Relembre o caso

21/5 - Moradores alertam sobre rachaduras e equipe de engenharia civil, contratada pelos proprietários, faz vistoria técnica no edifício..

24/5- Defesa Civil realiza vistoria técnica no prédio.

26/5 - Defesa Civil retorna ao prédio para nova inspeção, constata inclinação no edifício e sugere nova avaliação de engenheiros.

30/5 - Laudo da visita técnica conclui que não há risco estrutural iminente no prédio.

1º/6 - Prédio desaba parcialmente por volta das 17 horas. Moradores são obrigados a abandonar suas casas às pressas.

3/6 - Dono do imóvel afirma que vai indenizar moradores; Defesa Civil recomenda demolição; BO é registrado no 19º DP; Crea-CE cria comissão para acompanhar o caso.

4/6 - Sobe para 15 o número de casas interditadas no entorno; antes, eram 12.

7/6 - Tribunal de Justiça bloqueia bens dos proprietários do imóvel.

28/6 - Tem início a demolição total do prédio.

1º/10 - Polícia indicia proprietários do imóvel

 

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