As tecnologias que se popularizam do lado de fora da sala de aula, por vezes, acabam entrando na vida dos estudantes e gerando impacto na educação. É o que ocorre com as diferentes formas de Inteligência Artificial (IA). Com a incorporação desses recursos no dia a dia, torna-se cada vez mais comum o uso da IA para auxiliar o aprendizado de alunos e o trabalho de professores.
Programas que ajudam a corrigir redações, a montar questões para exames, a calcular notas, a gerar relatórios de desempenho de alunos e a fornecer soluções personalizadas de aprendizado já são utilizados em diversos países, inclusive no Brasil.
Em 2019, um documento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) chamado Consenso de Beijing recomendou o uso da IA na educação, mas também indicou aspectos a serem regulados.
- Aprimoramento de aprendizagem
- Maior capacidade de avaliação
- Auxílio na capacitação de docentes
- Melhor coleta e processamento de dados educacionais
- Preparação para o futuro do trabalho na era da IA
Fonte: Unesco
- Garantir a inclusão digital
- Certificar a transparência no uso dos dados
- Melhorar a alfabetização digital
- Criar parâmetros de monitoramento
Fonte: Unesco
A Inteligência Artificial é um ramo da ciência da computação que desenvolve sistemas para realizar tarefas que simulam a inteligência humana com modelos matemáticos e algoritmos. Resolver problemas, entender e traduzir uma língua, perceber padrões, aprender, gerar informações com base nesse aprendizado e tomar decisões são algumas das ações possíveis com a IA.
Dentro do conceito geral, a Inteligência Artificial trabalha com uma série de campos de conhecimento e carreiras:
- Ciência de dados;
- Engenharia de computação;
- Programação;
- Matemática;
- Robótica;
- Big Data;
- Machine learning;
- Internet das coisas;
- Comunicação;
- Entre outras.
O termo Inteligência Artificial é utilizado desde 1956, criado por pesquisadores da Universidade de Dartmouth, nos Estados Unidos. Apesar disso, muitas pessoas só passaram a ter acesso ao termo quando a plataforma Chat GPT viralizou em 2022.
"O Google e outras ferramentas estão usando sistema de IA já faz tempo. O que aconteceu é que essas ferramentas de IA generativa surgiram em massa para as pessoas. Essa é apenas uma das técnicas, a mais popular atualmente", afirma André Neves, professor universitário e doutor em Ciência da Computação.
A IA generativa é aquela que consegue criar conteúdos novos e originais, como textos, imagens, vídeos, sons, ilustrações, fotos, entre outros. A popularização desse tipo de ferramenta incita debates sobre plágio e direitos autorais, já que elas partem de um conjunto de conteúdos autorais para criar uma própria interpretação. Por exemplo, ferramentas de geração de imagem formam conteúdo a partir de um "prompt" (comando) e usam como referência as obras de artistas, que não recebem pelo direito de uso das próprias obras.
Para André Neves, as ferramentas de IA não podem ser ignoradas ou terem o uso reprimido na educação. No entanto, é preciso questionar e debater formas responsáveis de utilizar as tecnologias. "Toda ferramenta tem que ser usada de forma crítica. Esse é o papel da educação: criticar, questionar, inclusive as ferramentas. Nem um quadro negro pode ser utilizado em sala de aula sem uma reflexão sobre ele", afirma.
O documento "Recomendação sobre a Ética da Inteligência Artificial", também publicado pela Unesco, aponta a importância das IA serem debatidas nas escolas para que haja melhor alfabetização midiática e informacional da população. Assim, ela será capaz de entender a tecnologia e tomar decisões conscientes sobre os sistemas. A Unesco defende que treinamentos sobre esse tipo de ferramenta sejam conduzidos por governos, meios de comunicação, universidades, entre outros entes.
Neste mês de agosto de 2023, uma comissão especial foi formada no Senado Federal para analisar projetos de lei sobre os usos da Inteligência Artificial. Um deles, de autoria do presidente da Casa, o senador Rodrigo Pacheco, tem como objetivo proteger os direitos humanos e garantir a implementação desses sistemas de forma segura, confiável e democrática.
O professor André Neves concorda que a regulação da IA é necessária, apesar de reconhecer que o tema é "extremamente complexo". A tarefa de legislar sobre a internet, conforme André, leva tempo. O Marco Legal da Internet, que disciplina o uso da internet no brasil, demorou cinco anos para ser aprovado, já a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que regula o tratamento de dados pessoais, foi aprovada em 2018 e entrou em vigor em 2020. "Demanda um debate grande, amplo, da sociedade como um todo", diz.
O tema desta inforreportagem foi escolhido por professores que compõem a banca do Concurso "Redação Enem: Chego Junto, Chego a 1.000", uma realização da Fundação Demócrito Rocha em parceria com a Secretaria da Educação do Ceará (Seduc-CE). A partir deste tema, estudantes da 3ª série do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) das escolas públicas estaduais são convidados a escrever uma redação no modelo dissertativo-argumentativo, o exigido no Enem. A publicação das cinco inforreportagens, referentes aos cinco temas do concurso, serão publicadas às quartas-feiras.
Os próximos temas são:
30/8 - A importância das minorias sociais na composição da política brasileira
6/9 - Desafios para conter a violência escolar no Brasil