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Festa de Iemanjá encerra com celebração à resistência, na Estação das Artes
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Festa de Iemanjá encerra com celebração à resistência, na Estação das Artes

Como encerramento das celebrações da Festa de Iemanjá, a Estação das Artes foi palco de performances musicais e oficinas de colagens nesse domingo, 17
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DIFERENTES grupos e terreiros se apresentaram   (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal DIFERENTES grupos e terreiros se apresentaram

Até a Constituição de 1988, os terreiros de umbanda ou candomblé optavam muitas vezes pela identificação de "centros espíritas". Era uma forma de evitar perseguições da polícia e prisões por "atentado à moral", previstas na legislação vigente. Da mesma forma, não cantavam pontos em locais públicos.

Há 60 anos na umbanda, Mestre Pai Neto Tranca Rua montou o próprio terreiro sob a “proteção” do espiritismo. Em 1983, fundou o Centro Espírita de Umbanda São Miguel, no bairro Granja Lisboa, em Fortaleza.

Hoje, ele não somente divulga publicamente a casa como um terreiro de umbanda, como relembra das perseguições enquanto ouve pontos serem cantados em um evento público, fomentado pelo Estado, ao qual ele mesmo ajudou a organizar.

Como encerramento das celebrações da Festa de Iemanjá, a Estação das Artes foi palco de performances musicais e oficinas de colagens no último domingo, 17. Apresentaram-se os conjuntos Grupo Cultural Toque de Senzala e Afoxé Filhos de Oyá, ambos com exaltações à história do Ceará, as belezas naturais e as tradições afro-brasileiras.

Confira imagens do evento, abaixo

Público variado

O público era de idades variadas e, dentre os que dançavam com os pontos sobre os orixás, estavam jovens ingressos na religião. Jéssica Pascoalino Pinheiros, 34, aproveitou a oportunidade para convidar o parceiro, Giullian Nicola Lima, 35, para conhecer a religião da qual é adepta.

O homem, por sua vez, levou o filho, Leon Aguiar, de 2 anos, ao saber das programações infantis do evento. Juntos, os três dançavam e movimentavam-se pelo espaço.

“Meu conhecimento é quase zero, mas estou aberto. Estou gostando muito. Se as religiões de matrizes africanas não ocuparem esse espaço dificilmente vão chegar em novas pessoas como eu. Acho que tem que ocupar mesmo”, contou ele, enquanto corria atrás do pequeno Leon.

Havia ampla presença de jovens. Dançarina no Grupo Cultural Toque de Senzala, Emanuelle Silva, 17, é filha de santo de Pai Neto e cresceu na umbanda, rodeada de música e dança. Desde cedo, ela ingressou nas atividades culturais do terreiro e apresenta-se com as colegas em diversos espaços da Cidade.

“Acho bom porque chama o povo. Esse tipo de festa mostra que somos um povo de paz e união. Não estamos com maldade com ninguém”, diz ela, orgulhosa.

Resistência e orgulho

O orgulho é mais que um sentimento, é uma conquista. Vestida com um vestido bufante rosa-choque, Mãe Taquinha de Oyá, 61, relembrou de quando tinha de se esconder para evitar a perseguição policial.

Mãe de Santo há 54 anos, ela também é adepta ao candomblé e à jurema, manifestação religiosa com grandes heranças indígenas. Mesmo com o temor, seguiu no resgate e acolhimento espiritual ao longo dos anos.

Hoje, perde as contas dos filhos e netos de santo tem e, por meio de ações sociais e das danças, deseja simplesmente “resgatar as coisas boas para o mundo espiritual”. “Estamos trabalhando juntos contra o preconceito”, disse, antes de subir ao palco e entoar a própria fé.

 

Organização

A Festa de Iemanjá, em 2025, completa seis décadas de exaltação da cultura africana e indígena, sob as bênçãos da mãe do mar e do amor.

Patrimônio imaterial de Fortaleza, o evento é realizado com apoio da Prefeitura de Fortaleza e do Governo do Ceará, em parceria com o Instituto Dragão do Mar, do Instituto Mirante de Cultura e Arte, do Instituto Cultural Iracema e, claro, das organizações da sociedade civil que, sob olhares de luta, registram a sobrevivência e o alcance de grupos antes totalmente marginalizados.

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