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Linconly Jesus: "No momento da agressão, meu doutorado não vale"
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Linconly Jesus: "No momento da agressão, meu doutorado não vale"

O babalorixá Linconly Jesus descreve como se dá o racismo religioso, que agride cotidianamente os povos de terreiros. O sagrado afro religioso é desrespeitado, segundo o pai de santo, ainda como parte do processo histórico de escravização
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Credos de Fortaleza - Candomblé - Babalorixá Linconly Jesus (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Credos de Fortaleza - Candomblé - Babalorixá Linconly Jesus

 

 

O vestir é motivo de perseguição. A agressão verbal ou mesmo física, apenas por usar o branco dos pés à cabeça ou deixar os colares de contas (as guias) à mostra. A desconfiança da autoridade policial de querer saber o que o grupo faz na esquina, na encruzilhada, à margem de uma lagoa ou na beira do mar. Eles são questionados sobre "o que carregam", "o que escondem", "quem são". Mesmo que estejam ali num momento sagrado. Na umbanda, no candomblé, a fé é historicamente alvo de racismo.

As histórias, vividas e testemunhadas, são contadas pelo candomblecista Linconly Jesus, de 42 anos, babalorixá e professor universitário. Mais que narradas, são sentidas na pele. Ele diz que hoje estimula seus filhos de santo a se apresentarem como são, o que são: "Eu digo que utilizem as contas (colares), demarquem o território de vocês, sejam quem vocês querem ser. Porque por muito tempo nós estivemos silenciados. Hoje nós vivemos em um cenário de disputa".

Linconly questiona se um padre ou um pastor sofreriam tantas abordagens policiais como ele sofre enquanto pai de santo. Ou se ele poderia realizar um ebó (trabalho de cura) dentro de um hospital, como é permitido a outros líderes religiosos. “Já sofri muitas perseguições no trabalho e também fora”. Alguns desses episódios são relatados nesta entrevista.

"Esse universo do terreiro sofre uma perseguição que é toda estereotipada, por conta do processo histórico de escravização", ensina. “O estado é laico, mas não é laico na prática. Ele é judaico-cristão apenas”.  

 

 

 

 

O POVO - Queria pedir que você se apresentasse.

Linconly Jesus - Eu sou Linconly Jesus. Para o candomblé conhecido como Linconly de Airá ou Linconly de Xangô. Sou babalorixá do Ilé Asé Obá Oladejí, a casa do rei que veio para multiplicar riqueza. Hoje considero essa casa (no bairro Jaçanaú), em Maracanaú, como um terreiro-escola. Sou também professor do Instituto de Humanidades da Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira). Lá fico especificamente no curso de Pedagogia (atualmente ministra três disciplinas: Religiões de matriz africana no Brasil; Cosmovisão africana e da diáspora; Ensino da ginga: capoeira, corporeidade e mandinga). Trabalho com manifestações culturais e religiosas africanas e afro-brasileiras.

OP - Há quanto tempo você é candomblecista?

Linconly - Estou há 23 anos no candomblé e 11 à frente desse terreiro aqui.

       

"Dentro desse cenário afro religioso, em que estou na condição de babalorixá, sim, já sofri muitas perseguições no trabalho e também fora."


 

OP - Como são as situações do racismo pra você? Já passou por ataques, perseguição?

Linconly - É muito importante pontuar que dentro do mundo do candomblé, das religiões de matriz africana, eu me encontro com a ancestralidade mítica. Muita gente não vai entender essa pontuação de racismo, não como intolerância. Falamos de racismo porque estamos falando de um pontinho civilizatório. Neste processo de identificação, esse universo do terreiro sofre uma perseguição que é toda estereotipada, por conta do processo histórico de escravização, principalmente aqui no Ceará, quando eles dizem que não existiam negros, população negra. Dentro desse cenário afro religioso, em que estou na condição de babalorixá, sim, já sofri muitas perseguições no trabalho e também fora. Por abordagens policiais, nas redes sociais, na divulgação de materiais, em vários espaços também.


OP - Você poderia relembrar algum episódio que mais lhe marcou, uma agressão que você se incomoda até em contar?

Linconly - Tem dois momentos que são bem pontuais pra mim. Uma vez em que estávamos na casa do meu babalorixá na época. Estávamos iniciando os rituais lá e essa casa começou a receber uma chuva de pedras. Os tambores começaram e logo em seguida a chuva de pedras em cima da casa porque a gente estava fazendo o nosso candomblé. Esse foi um momento bem pontual. Outro momento é o de abordagens policiais. Nesse momento meu título de doutor não vale nada. Sou babalorixá, sou iniciado, sou candomblecista, mas aí eu sou macumbeiro.

OP - Você estava paramentado?

Linconly - Sim. Estávamos eu e vários filhos de santo fazendo um ritual numa lagoa que é aqui perto da minha casa. E a Polícia chegou e logo com a escopeta, né, apontada pra gente. Eu disse: "Qual o problema, o que tá acontecendo?". E ele "o que vocês estão fazendo aí?". Eu disse: "Um ritual religioso. O senhor pode esperar que eu termine?". Aí, ironicamente, a pessoa que fez a abordagem ainda disse: "Olha aqui, sargento. Ainda tá mandando a gente esperar". Eu disse: "Sim, eu tô concluindo um ritual religioso. Se o senhor puder? A gente não tá cometendo nenhum crime. Então eu queria saber qual o problema?". Aí dei continuidade e ele me esperou terminar. Mas ninguém merece. Eu fico me perguntando se um pastor ou um padre que estivesse, por exemplo, batizando uma pessoa nas águas, ou fazendo qualquer coisa, se eles receberiam a mesma abordagem que eu recebi.

OP - Isso foi recente?

Linconly - São histórias recentes. Essa da abordagem tá com uns três anos. A das pedras tá com um tempinho a mais, tem uns dez anos.

OP - Eu pergunto dessa temporalidade porque são coisas que não se desfazem, elas se repetem.

Linconly - É, elas se repetem, por exemplo, quando a gente vai ao mar fazer algum ritual. A Polícia sempre para, sempre pergunta, sempre quer ver o que é, mesmo vendo as indumentárias. Perguntam "o que vocês estão levando aí?", "o que vocês estão fazendo aqui?". Aquele espaço pra gente é sagrado. Se eu for para uma encruzilhada e passar um carro de Polícia, ele vai passar nos parando e querendo ver o que é que a gente tá fazendo. Ele não vai respeitar, por exemplo, como é que na lagoa que fica na esquina da minha casa sempre tem os evangélicos batizando as pessoas nas águas e eles não recebem a mesma abordagem. Então por quê? Essa perspectiva é que nós apontamos como racismo. Porque vem toda uma estrutura basilar de subalternização, tanto da religião quanto da população negra, que é a nossa ancestralidade mítica, aqui dentro do candomblé, da umbanda e das religiões de matriz africana em geral.

Credos de Fortaleza - Candomblé - Babalorixá Linconly Jesus
Foto: Thais Mesquita
Credos de Fortaleza - Candomblé - Babalorixá Linconly Jesus

OP - Quando você faz os rituais, as giras...

Linconly - Giras na umbanda, ou baias, mas no nosso caso, no candomblé, são as obrigações, os toques, as festas.

OP - Pois quando você faz as festas, os rituais, cria alguma situação de proteção, temendo algum possível ataque?

Linconly - Independentemente de ter ou não ataque, em todo momento do ritual isso é feito. Se a porta da casa tá aberta, Exu é o primeiro que come. Porque ele é o dono da proteção, é quem está na porta espiritualmente, dando toda a proteção realmente para a casa, para o terreiro. Espiritualmente, Exu, Ogum e todos os demais encantados e orixás que vão estar protegendo o terreiro. Mas, materialmente, sim, também tem uma pessoa que fica na porta para ver, pra nos ajudar em relação até ao próprio controle de quem entra e sai da casa.

OP - Você orienta seus filhos de santo, os demais participantes, para evitar saírem paramentados se não for para o ritual? Você chega a se limitar por conta do racismo?

Linconly - Não, não. Muito pelo contrário. É muito importante que a gente não esteja mais em uma condição de silenciamento. E, aí sim, uma condição de demarcação do nosso corpo, demarcação de quem nós somos, da imagem que nós temos, do que defendemos e vivenciamos no cotidiano. Que é o terreiro, que são os orixás, que são os nossos encantados. Muito pelo contrário. Eu digo que utilizem as contas (colares), demarquem o território de vocês, sejam quem vocês querem ser. Porque por muito tempo nós estivemos silenciados. Hoje nós vivemos em um cenário de disputa. Tudo que eu escrevo, tudo que eu vivencio, tudo que eu falo, tanto na minha sala de aula, no terreiro, nas redes sociais, é justamente isso. Cobrando hoje e demarcando um espaço de reposicionamento cognitivo. Reposicionamento das ideias. O nosso intuito hoje dentro do terreiro, pelo menos na minha sociedade, na minha ebé, é justamente o de projetar uma outra sociedade, outros modelos de sociedade que nós queremos.

OP - Mudar o que está posto, mudar situações de perseguição, de preconceito.

Linconly - O principal ponto de tudo, no meu caso, eu que sou educador, é o diálogo. O diálogo se torna fundamental para que a gente possa compreender como é que vamos possibilitar que todo aquele imaginário social que foi construído com base na estrutura racista, e que hoje ainda alimenta toda a perseguição que a gente sofre, como é que ele vai ser desconstruído. Ou seja, como vamos descolonizar tanto a mente quanto o corpo dessas pessoas.

 

"O estado é laico, mas não é laico na prática. Ele é judaico-cristão apenas. E aí é uma situação extremamente complicada."

 

 

OP - Você acha que faltam direitos para vocês ou punições para quem comete isso? Falta o olhar da lei? Falta o quê para que você se sintam livres para fazer como outras religiões, que conseguem exercer seus ritos, suas práticas, sem serem incomodadas?

Linconly - Eu acredito que não é faltar direito. O direito, ele já existe. As leis existem. Nós precisamos hoje fazer cumprir a lei. Os movimentos sociais estão organizados pra isso. Pra fazer esse processo de pontuação e de impulsionamento para que as leis sejam realmente cumpridas. Por exemplo, a lei contra o racismo está aí. A da intolerância religiosa está aí. As leis de aplicação que são relacionadas à educação, que vão nos ajudar a rever todo esse processo histórico. Elas estão aí, mas não são implementadas.

OP - O estado é laico.

Linconly - O estado é laico, mas não é laico na prática. Ele é judaico-cristão apenas. E aí é uma situação extremamente complicada. Por exemplo: sou um educador, você chega para orientar os alunos de estágio na universidade… e o primeiro momento em que as crianças chegam na escola, eles vão fazer a oração inicial e essa oração é o Pai Nosso. E o Pai Nosso é uma oração o quê? Candomblecista ou judaico-cristã? A gente tem que entender que a catequização das pessoas ainda está sendo feita em um cenário público, que é a escola. Como é que você vai desconstruir todos os valores racistas que existem em relação às religiões de matriz africana, se nós ainda somos vistos não como povos de terreiro, mas sim como os macumbeiros?

OP - Falando sobre a quantidade de terreiros que existem em Fortaleza, você estima que sejam quantos?

Linconly - Em Fortaleza eu considero que existam milhares de terreiros.

OP - Essa é uma conta que ninguém sabe?

Linconly - Ninguém sabe. Porque agora é que estamos tentando fazer um processo de aproximação com a realidade. Através de uma pesquisa que foi feita por uma organização. Eu fui analista de dados nessa pesquisa. Ela aponta um número considerável de terreiros no Estado do Ceará e uma forma expressiva dentro de Fortaleza e Região Metropolitana. Os povos de terreiro estão dentro da cidade. Eles estão dentro da zona urbana e periférica, mas eles também estão na área rural. Se você for ver, nós temos um levantamento de milhares de terreiros, com mais centenas de pessoas que também são iniciados, iniciadas e adeptos frequentadores. Mas por que essas pessoas não se declaram? Por que esses espaços (terreiros) são escondidos ainda? É esse o mote da questão que se precisa investigar.

Credos de Fortaleza - Candomblé - Babalorixá Linconly Jesus
Foto: Thais Mesquita
Credos de Fortaleza - Candomblé - Babalorixá Linconly Jesus

OP - Todos esses terreiros desaparecem se formos buscar pelo dado público.

Linconly - É. Nós voltamos à questão do racismo. Por que elas são invisibilizadas? Por que são silenciadas? Por que essas pessoas não se declaram? Porque é difícil você assumir que você é um afro religioso. Que você é umbandista, que é candomblecista, que você é quimbandeiro. Porque vem o peso estrutural aí dessa perspectiva basilar de opressão, que é o racismo. No nosso caso, o racismo religioso. Limitado pelo racismo institucional e epistêmico. Imagine uma pessoa do terreiro que está doente. Um pastor tem direito e ele pode ser muito bem aceito para ir num hospital fazer uma oração. Eu, enquanto afro religioso, será que vou ser bem aceito no hospital para fazer um ebó, para fazer um processo de cura? Mesmo que dê certo, como vai ser? Mesmo sendo um direito meu, ainda tem que ser um processo de luta, de explicação, de convencimento de toda uma classe médica, que não vê as nossas medicinas também como ciência, mas se apropriou de todos os nossos conhecimentos para estruturar essa medicina moderna. Mas ela não compreende que nossas medicinas são fundamentais para a vida de todas as pessoas, por exemplo, que chegam e não têm acesso à saúde pública. Elas vêm se curar onde? Dentro do espaço do terreiro.

OP - Você acredita que isso é uma questão superável por lei, por conversa, por educação ou um fardo que ainda vai ser carregado por muito tempo?

Linconly - Se eu deixar de ter a esperança nessa superação, eu não sou mais educador. Esse é um ponto fundamental. Eu prefiro entender que estamos num processo de desenvolvimento da sociedade, não de evolução. Evolução é quando você descarta o mais fraco, a intenção aqui não é descartar ninguém. O desenvolvimento da humanidade, da nossa sociedade, desse contexto civilizatório, ele é um dos processos que nós acreditamos fervorosamente dentro das religiões de matriz africana. Mas é um processo educativo que acontece tanto interno quanto externo. Tanto interno dentro do terreiro, com as pessoas que chegam, cotidianamente aprenderam todos os saberes, as tecnologias, as filosofias presentes nos terreiros, quanto fora na sociedade, desconstruindo essa base racista. O terreiro é um espaço de vida, de luta pela vida. Porque ele sempre foi organizado pra isso, para que as pessoas sobrevivessem. E hoje, pela estrutura que ele é montado, estruturado, repensado, é justamente para a gente fazer um processo e um projeto de disputa. Um processo e um projeto, porque é processual, nessa sociedade que estamos hoje, para uma transformação planetária. Se eu não acredito nisso, não sou afro religioso, não sou educador, não sou o babá Linconly.

 

"Você vai ver os espaços de terreiros, a maior parte deles não são legalizados. Porque eles estão em zonas periféricas."


 

OP - Você também nunca buscou a formalização do seu terreiro?

Linconly - Exige um processo burocrático todo que, se eu não tenho interesse em fazer isso hoje pela burocracia, imagine quem não tem condições ou não tem a compreensão de todo esse cenário. Você vai ver os espaços de terreiros, a maior parte deles não são legalizados. Porque eles estão em zonas periféricas. A população tanto não entende como não é explicado, como não tem interesse por conta da burocracia.

OP - Há estímulo?

Linconly - Burocraticamente, em relação ao Estado, a gente não recebe aproximação nenhuma de alguém chegar aqui e nos ajudar nesse contexto.

Credos de Fortaleza - Candomblé - Babalorixá Linconly Jesus
Credos de Fortaleza - Candomblé - Babalorixá Linconly Jesus (Foto: Thais Mesquita)

OP - Isso acaba gerando o sombreamento de informações nos dados oficiais.

Linconly - Isso. E, na verdade, se você for ver, nenhum órgão público tem interesse de vir aqui no espaço do terreiro promover um processo educativo para demarcar aqui como território legalmente instituído como organização religiosa. Cadê a lente das políticas públicas para isso? Ou ela está sendo direcionada para quem? Para as igrejas que recebem terras de doação? Para as instituições neopentecostais, que recebem da mesma forma? Porque pra gente não chega nenhuma. A gente é sempre um espaço de disputa. E esse espaço de disputa é muito intenso aqui.

OP - Qual o valor cultural do terreiro para além da religião?

Linconly - Se você me perguntar, o terreiro é religião? Eu vou lhe dizer "não só isso". A religião está dentro do terreiro. Porque estamos falando de um contínuo civilizatório. Estamos falando de vários povos que se uniram para sobreviver. Eles trouxeram suas tecnologias sociais, suas medicinas, suas filosofias, a matemática, a forma de resistir e de potencializar a vida. Então não estamos falando só de religião. Porque para esses povos a religião não era vista isoladamente. O que o catolicismo e as religiões judaico-cristãs fizeram? Eles isolaram. Deram base para que o capitalismo se expandisse. E essa expansão vai sectarizar e subalternizar quem não está dentro daquele modelo. Se você pegar a possibilidade de etnodesenvolvimento, que é justamente a disputa dos modelos de desenvolvimento que nós temos, e queremos evidenciar isso hoje em dia. Para a sociedade, a gente potencializa a vida de milhares de pessoas. Por exemplo, as medicinas desenvolvidas aqui, as curas. Elas vêm a ter uma demanda todo dia dentro do terreiro. Todo dia. E as pessoas, quando vêm pra cá, é porque não conseguem resolver lá fora. É o ebó, é o aconselhamento de jogo de búzios, os banhos, os defumadores, os trabalhos. Eu não trabalho com passes. Tem pessoas de terreiros que trabalham com passes. O que a gente faz aqui? O jogo de búzios, o ebó, dependendo da necessidade da pessoa ela pode ir para outro ritual. Se você vai para a umbanda, aí tem o passe, o banho, a defumação, todo aquele processo.

Estamos falando do terreiro que é esse espaço de compreensão da vida. A religião está lá dentro como um dos elementos. Onde ficavam as mulheres que eram expulsas da sociedade? Elas não queriam mais ser estupradas, não queriam mais apanhar dos maridos, não queriam mais depender do casamento e eram acolhidas nas casas de prostituição. Minha pombagira foi uma dessas. Ela foi uma mulher de uma zona de garimpo, uma cigana, e ela se transformou na Dama do Ouro. Ela foi expulsa de seu grupo por conta de um amor e jogaram ela na porta de um cabaré. E nesse cabaré ela se destacou pela beleza e se tornou a Dama do Ouro. Ela era parteira, era feiticeira, era benzedeira. Ela cuidava das mulheres e era dona do cabaré também porque tinha que lutar pela vida dela e das outras mulheres. E esse é o atendimento que ela faz hoje. Ela atende a todas as mulheres que chegam sofrendo por amor. Ela faz curas de amor.

PERFIL

Linconly Jesus conversou com O POVO no galpão principal de seu terreiro, em Maracanaú. O espaço chama Ilé Asé Obá Oladejí, tem um letreiro no portão de entrada. É amplo, sombreado por muitas árvores, com pinturas internas e externas. Há vários ambientes (pequenas salas e altares) que, segundo ele, pertencem às entidades encantadas, exus e orixás, que frequentam o local durante os ritos.

Ele tem doutorado (UFPB) e mestrado (UFC) em Educação, é graduado em Pedagogia (UVA) e licenciado em Física (UFC). Na Unilab, ensina três disciplinas: Religiões de matriz africana no Brasil, Cosmovisão africana e da diáspora, e Ensino da ginga: capoeira, corporeidade e mandinga. O terreiro chega a ser usado muitas vezes como sala de aula.

Vários da vizinhança são evangélicos e católicos — alguns até com imagens sacras na fachada das casas. Há também os que frequentam o terreiro. Linconly disse que mantém boa relação com todos, inclusive com distribuição de alimentos após os dias de celebrações. Do portão do terreiro, que também é sua residência, dá para ver o espelho d'água da Lagoa de Jaçanaú, a poucos metros.

O babalorixá Linconly Jesus foi uma das fontes ouvidas na série "Credos da Cidade", produzida pela Central de Jornalismo de Dados do O POVO - DATADOC e publicada entre janeiro e fevereiro últimos. Os cinco episódios da reportagem seriada podem ser acessados em mais.opovo.com.br/reportagens-especiais/credos-da-cidade/


 

 

 

 

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