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Para não esquecer: como manter a memória viva aos 60+
Ciência e Saúde

Para não esquecer: como manter a memória viva aos 60+

Fazer exercícios físicos, estudar algo novo ou mudar pequenas rotinas podem ser táticas para deixar o cérebro menos preguiçoso e retardar o envelhecimento natural
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FORTALEZA, CEARÁ, 04-12-2023: Formas de exercitar a memória. Na foto, Edite, 64 anos, cursa a graduação em Direito e tem em seu cotidiano o hábito da leitura.  (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)




 (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS FORTALEZA, CEARÁ, 04-12-2023: Formas de exercitar a memória. Na foto, Edite, 64 anos, cursa a graduação em Direito e tem em seu cotidiano o hábito da leitura. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)

 

Primeiro é um fato antigo que some da memória. Depois, um evento recente, o nome de um parente ou a localização de um objeto. O "esquecimento" é um problema cognitivo que ocorre geralmente a partir dos 65 anos de idade, mas tem um método para ser prevenido: manter cérebro e corpo em movimento. 

Quem traz o dado e aponta a relação é o neurologista André Lima, membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Conforme o especialista, o cérebro passa por um processo de envelhecimento que acaba afetando algumas funções cognitivas — como a capacidade de guardar lembranças e informações.

 

O desempenho cerebral é afetado pela diminuição, ao longo da vida, de um processo conhecido como "sinapse", que é a comunicação entre os neurônios. "Quando envelhecemos, as sinapses diminuem nas áreas menos usadas do nosso cérebro. Assim, essas regiões 'hipoativadas' começam a atrofiar. Se isso acontecer na área da memória, uma delas, os hipocampos (envolvidos na formação de novas memórias), começa a haver perda da memória. Quando a Sinapse diminui e há atrofia das regiões, é muito difícil recuperar a memória", explica o profissional.

Principais sinais que podem indicar perda de memória

Segundo André Lima, é importante reparar se a pessoa esquece fatos recentes. "Depois, se esquece de eventos mais antigos. Se não lembra onde deixou objetos e/ou se esquece do nome das pessoas. Esses são alguns sinais do problema", destaca ainda o neurologista, que é também diretor médico da Neurovida. 

Essa complicações, no entanto, não são as únicas enfrentadas pelo idoso que sofre com a perda de memória. Um estudo realizado pela Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, publicado neste ano de 2023 e feito com mulheres acima de 60 anos, mostrou que a queixa de memória nessa faixa etária é associada por pacientes a adjetivos negativos como “difícil”, “ruim”, “horrível”, “terrível” e “triste”.

Além disso, o comprometimento cognitivo traz sentimentos como nervosismo, angústia, vergonha e desânimo. Pacientes também sentem medo da solidão, de perderem a autonomia e de ficarem dependentes de outras pessoas para cumprirem tarefas que sempre realizaram, como ir ao médico. 

Modificação do DNA no processo de envelhecimento (Foto: Ckybe / Adobre Stock)
Foto: Ckybe / Adobre Stock Modificação do DNA no processo de envelhecimento

De acordo com Lorena Feijó, psiquiatra e coordenadora do Ambulatório de Psicogeriatria do Hospital de Saúde Mental de Messejana (HSMM), as consequências psicológicas trazidas pela perda de memória do idoso De acordo com a lei, é considerada pessoa idosa o cidadão com idade igual ou superior a 60 anos  afetam áreas muito maiores da vida dele, como o seu circulo social. 

"Os idosos que estão em processo demencial podem apresentar sintomas depressivos e ansiosos no início do quadro por perceberem que estão começando a esquecer. Isso gera um certo sofrimento e desconforto, podendo levar, em alguns casos, até a um isolamento social", explica a profissional. 

 

 

Prevenção: hábitos que ajudam a manter a memória viva

O envelhecimento natural do cérebro pode ser acelerado também por maus hábitos de vida, segundo alerta o neurologista André Lima. Conforme o profissional, a hipertensão, o colesterol alto, o tabagismo e o álcool são fatores de risco para a perda da memória, uma vez que agilizam o desgaste das artérias. "O processo começa com a obstrução nas microartérias, ocasionando perda de sangue em regiões do cérebro, causando pequenas isquemias, e assim os neurônios ficam sem nutrientes e morrem", explica.

A psiquiatra Lorena Feijó destaca que o uso de medicações como "anticonvulsivantes, benzodiazepinicos, relaxantes musculares e anticolinérgicos" pode cursar uma piora do quadro de esquecimento. Ela destaca a importância de prestar atenção aos sinais indicativos do problema. "É (necessário) ficar atento aos pequenos eventos do dia a dia e, se possível, testá-los discretamente sobre os eventos recentes acontecidos na família, noticias assistidas no jornal, para entender se há realmente algum déficit de memória começando", orienta.  

Julião Chaves é graduado em Geografia, pela Uece, e prestou o vestibular do Enem junto com seu filho(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Julião Chaves é graduado em Geografia, pela Uece, e prestou o vestibular do Enem junto com seu filho

Julião Chaves segue quase a risca as orientações. Aos 60 anos, o cearense está no terceiro semestre do curso de Sistema e Mídias Digitais da Universidade Federal do Ceará (UFC) e diz desafiar constantemente o cérebro ao resolver as questões impostas na área, como criar jogos digitais. Ele faz caminhadas e opta, sempre que possível, por fazer trajetos cotidianos a pé. "Enquanto eu tiver podendo fazer isso, eu acho que eu estou pelo menos retardando esses processos degenerativos."

Esses hábitos, segundo ele, têm o ajudado a diminuir episódios de esquecimento que já teve, como não lembrar de rotas ou conteúdos estudados. Edite Ferreira, 64, é outra que conta ter lapsos de memória, mas assim como Julião busca retardar o declínio cognitivo. Ela está no segundo semestre do curso de Direito da Universidade de Fortaleza (Unifor) e na semana reveza o aprendizado com sessões de hidroginástica.

Edite Ferreira, 64 anos, faz graduação em Direito e inseriu o hábito da leitura no seu cotidiano(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Edite Ferreira, 64 anos, faz graduação em Direito e inseriu o hábito da leitura no seu cotidiano

"Quando a gente chega nessa idade não podemos parar, porque se a gente parar aparece tudo, aparece doença, dor aqui e acolá. (A memória) Melhorou bastante com os estudos, porque aí você vai lendo artigos e trabalhando mesmo a mente, tem que ativar bastante as leituras. Eu aconselho que muitas das pessoas que hoje estão paradas voltem a estudar", explica.  

Dicas de como estimular o cérebro para manter a memória viva

 

 

Perda de memória x falta de atenção x Alzheimer: entenda a diferença

Esquecer nomes ou coisas pode não estar associado apenas à perda de memória. Às vezes, esse processo ocorre devido à falta de atenção do indivíduo, que não absorve corretamente a informação que recebe. Em outras situações, pode ser algo mais grave, como um sintoma indicativo de início de Alzheimer.

Segundo o neurologista André Lima, a falta de atenção ocorre quando a informação não é armazenada, não “entra na memória". Ele pontua que isso é provocado por fatores como estresse e depressão. Já a perda de memória acontece quando a informação é “perdida”. Isso ocorre, por exemplo, quando se esquece o nome de parentes ou de outras pessoas com as quais se convive há muito tempo. 

A atividade física é fundamental para prevenir a perda da memória(Foto: Marcela Ruty Romero / Adobre Stock )
Foto: Marcela Ruty Romero / Adobre Stock A atividade física é fundamental para prevenir a perda da memória

De acordo o médico, esse processo é um dos sintomas iniciais do Alzheimer, "uma das doenças degenerativas do cérebro que mais crescem entre os idosos". De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a doença apresenta aproximadamente 70% dos casos de demência registrados no Brasil.

"(O Alzheimer) manifesta-se através de uma demência progressiva, os sintomas começam lentamente e se intensificam ao longo dos anos. É um conjunto de sintomas que provoca alterações do funcionamento cognitivo (memória, linguagem, planejamento e habilidades visuais-espaciais), físico (problemas de marcha e deglutição) e também do comportamento (apatia, agitação, agressividade, delírios, entre outros), limitando progressivamente a pessoa nas suas atividades diárias", explica Lima. Porém, ele lembra que nem todo mundo com perda de memória tem Alzheimer. "Só uma avaliação médica trará o diagnóstico. Avaliação clínica e com exames", frisa. 

 

 

Futuro: impacto da Covid-19 no agravamento do déficit cognitivo

Os lapsos de memória relatados por Julião Chaves e Edite Ferreira começaram a se intensificar depois que eles tiveram Covid-19, segundo observaram. A relação entre o problema cognitivo e a doença já foi apontada e comprovada por meio de diversos estudos, como o coordenado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pela Universidade de São Paulo (USP), publicado em 2022. 

"A Covid pode acelerar um processo demencial já em curso como também causar déficit cognitivo em até 50% a 70% dos casos. Alguns estudos demonstraram que o vírus, através de uma proteína específica da sua superfície, ataca as células neuronais causando um processo inflamatório e/ou destruição das células, principalmente na área do hipocampo, responsável pela nossa memória", explica a psiquiatra Lorena. 

Representação simbólica da perda de memória de da diminuição da função mental(Foto: Sasint / Adobre Stock)
Foto: Sasint / Adobre Stock Representação simbólica da perda de memória de da diminuição da função mental

De acordo com a especialista, as infecções por Covid no futuro ainda são imprevisíveis, pois o vírus sofre mutações ao longo dos anos. "Mas provavelmente teremos, sim, que ficar atentos e prevenir ao máximo a contaminação para evitar essas sequelas neuropsiquiatras, principalmente nos idosos", pontua. 

A profissional destaca, no entanto, que existem algumas causas de esquecimento que são reversíveis, como a depressão, o déficit de vitamina B12 e da hemoglobinúria paroxística noturna (HPN), doença rara. "Se tratadas (causas), a perda de memória pode ser revertida. No caso das demências, não há medicação para voltar o que foi 'perdido'. São doenças neurodegenerativas que progridem independente das medicações existentes", diz Lorena, coordenadora do Ambulatório de Psicogeriatria do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM).

CÉRBERO ATIVO

Os exercícios diminuem fatores de risco ao promover maior vascularização cerebral, "aumentando a ação dos neurotransmissores", conforme a psiquiatra Lorena Feijó.

QUADROS

Principais sinais que podem indicar perda
de memória

Esquecer um aniversário de alguém próximo;

Deixar queimar alguma comida no fogão;

Não saber onde guardou alguns objetos em casa;

Esquecer
de pagar contas;

Esquecer senhas de banco;

Fonte: Lorena Feijó, coordenadora do Ambulatório de Psicogeriatria do Hospital de Saúde Mental de Messejana (HSMM).

Dicas de como estimular o cérebro para manter a memória viva

Manter a alimentação saudável e o controle do colesterol e da glicemia;

Ter um sono reparador;

Ter uma vida social ativa;

Praticar exercícios físicos;

Controlar o estresse e a ansiedade (o estresse e a ansiedade atrapalham muito a memória e a atenção);

Aprender coisas novas, sair da rotina.

Fonte: André Lima, Neurologista, membro da Academia Brasileira de Neurologia e diretor médico da Neurovida.

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