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As bençãos e os cuidados com a maternidade tardia
Ciência e Saúde

As bençãos e os cuidados com a maternidade tardia

A gestação com mais de 40 anos pode ser um desafio físico, psicológico e social para a mulher. Mas, também, traz novos sonhos e realizações
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FORTALEZA-CE, BRASIL, 21-04-2024: Emanuelle Fernandes é uma gestante com idade acima de 40 anos.  Pauta sobre mulheres com idade materna avançada (40+) (Foto: Júlio Caesar/O Povo)  (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR FORTALEZA-CE, BRASIL, 21-04-2024: Emanuelle Fernandes é uma gestante com idade acima de 40 anos. Pauta sobre mulheres com idade materna avançada (40+) (Foto: Júlio Caesar/O Povo)

Corpos e mentes preparados. São 30 e muitas semanas de gestação. As sensações se misturam: emoção, ansiedade, medo, poder, vivacidade. Uma nova etapa da vida está para começar. E no prontuário pré-parto a observação de gravidez geriátrica.

O termo pode impactar para muitas mulheres e gerar preconceitos. Mas é real. A partir dos 35 anos, a gravidez geriátrica ou gravidez tardia, é também chamada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de idade materna avançada.

Esse termo, cada vez mais, tem estado presente nos relatórios médicos das gestantes. Seja por questões financeiras, profissionais ou pessoais, é fato: as mulheres estão adiando cada vez mais a experiência da maternidade.

Segundo dados do Ministério da Saúde, em pesquisa promovida pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), o número de mulheres que deram à luz a bebês nascidos vivos com idade entre 35 e 54 anos cresceu no Brasil entre todas as faixas etárias pesquisadas. Registrando, assim, um aumento total de 37,5%, a partir de um comparativo entre 2012 e 2022.

Nos comparativos entres 2012 e 2022, o sistema nacional registrou, na faixa etária de 35 a 39, um aumento de 32,67% na quantidade de mulheres que engravidaram.

Já dos 40 a 44 anos, o percentual é ainda maior, 56,84%. Entre 45 e 49 anos, o aumento foi de 42,66%. Em paralelo, o número de mulheres que engravidaram entre 25 e 34 anos em 2012 e em 2022 caiu 6,59%.

Confira abaixo o índice de gestantes com bebês nascidos vivos no Brasil:

O Ceará também segue a tendência nacional. No Estado, o número de mulheres que deram à luz a bebês nascidos vivos com idade entre 35 e 54 anos cresceu 36,27%, ao comparar os anos 2012 e 2022.

No número de mulheres de 35 a 39 anos que deram à luz a bebês vivos subiu 36,08%. Na faixa etária de 40 a 44 anos, o aumento foi ainda maior, de 40,7%.

Compare a quantidade de bebês nascidos vivos de acordo com a idade das mães, no Ceará: 

Segundo a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa), gestante com mais de 35 anos é considerada como médio risco, requerendo uma atenção pré-natal criteriosa, sobretudo se a idade estiver associada a outros fatores.

A classificação é feita pela Estratificação de Risco Gestacional para a Organização da Assistência à Saúde das Gestantes, publicada pela Secretaria.

“O Ministério da Saúde classifica, no cartão de pré-natal da gestante, a idade de 35 anos como um fator de risco, com uma classificação de uma ‘gestante idosa’, no sentido de ser uma gravidez de risco”, explica Rebeca Matos, ginecologista obstetra especialista em ultrassom e pós-graduanda em medicina fetal.

FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL,03.05.2024:Dra. Rebeca Matos, ginecologista e obstetra. Gestação mulheres 40 .(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL,03.05.2024:Dra. Rebeca Matos, ginecologista e obstetra. Gestação mulheres 40 .

A obstetra explica que os folículos dos ovários, indispensáveis para a gestação, começam a se formar ainda na fase embrionária e a quantidade reduz com o passar do tempo, perdendo ainda na barriga da mãe. Os folículos são recrutados mensalmente na ovulação, a cada menstruação.

A relação entre quantidade e qualidade dos folículos atinge o ápice aos 25 anos. Aos 35 anos, o declínio passa a ser ainda mais rápido. Por isso, essa classificação. Os exames de rotina de uma mulher com idade materna avançada não mudam no pré-natal.

“Mas o médico tem que levar em consideração que ele tem que ser mais atento no olhar, justamente pelo risco aumentado que essa paciente naturalmente já tem, de ter alguma alteração, alguma malformação, algumas síndromes genéticas. Mas os exames são os mesmos”, reforça Rebeca.

O pré-natal em si também é igual, a não ser que tenha alguma alteração durante o acompanhamento que exija um olhar mais atento. No caso de uma mulher de 40 anos que apresenta um quadro de pressão alta, por exemplo, ao invés das consultas serem realizadas uma vez por mês, o indicado passa a ser um encontro a cada duas semanas.

Rebeca reforça que toda gravidez é única. “Uma moça de 25 anos pode engravidar, teoricamente os riscos são bem menores, e ela pode ter várias complicações. Se tornando uma gravidez de alto risco do mesmo jeito.”

Em paralelo, não faltam exemplos de idade materna avançada sem complicações nem alterações. A obstetra cita como exemplo uma paciente sua com mais de 40 anos. "Era um pré-natal de alto risco por conta da idade, mas não se tornou de alto risco porque não teve nenhuma alteração”, descreve.

Mãe aos extremos

A paciente citada por Rebeca é Emanuelle Pacheco Fernandes, 45, que em 2023 teve sua cabeça e sua casa agitadas por um fluxo menstrual irregular. Ao tirar férias, a analista de sistemas aproveitou para fazer os exames de rotina passados pela ginecologista mas, por conta do tempo, não conseguiu retornar para apresentar os resultados.

“Será que eu já estou entrando na menopausa?”, ela se questionava. No retorno com a médica, explicou a situação e informou um incômodo nos seios.

“Ela disse que eu meu endométrio estava fino, querendo dizer que eu já estava entrando na menopausa. Os exames continuavam muito parecidos com os do ano anterior, sem alteração. Quanto à menstruação, ela pediu para eu esperar mais um mês. E eu pensando: ‘Oh, meu Deus. Eu queria um beta (hCG) e não tive coragem de pedir’”, relata, rindo.

Dias depois, um enjoo enorme, até do tão apreciado café. E pensava: “Se isso não for gravidez, eu tenho que ir para um ‘médico de menopausa’”. Até que um exame de farmácia sinalizou: Emanuelle e o marido Sergio de Sousa da Silva, 56, estavam grávidos.

A reação do esposo, ela conta, foi de medo, tanto pela idade quanto pela continuidade da gestação. “Ele ficou meio que com vergonha, parecia que era algo proibido, porque era muito ‘tarde’”, diz.

O casal esperou para contar aos amigos e familiares, exceto para uma pessoa especial: a filha de 25 anos do casal.

FORTALEZA-CE, BRASIL, 21-04-2024: Emanuelle Fernandes é uma gestante com idade acima de 40 anos.  Pauta sobre mulheres com idade materna avançada (40 ) (Foto: Júlio Caesar/O Povo) (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR FORTALEZA-CE, BRASIL, 21-04-2024: Emanuelle Fernandes é uma gestante com idade acima de 40 anos. Pauta sobre mulheres com idade materna avançada (40 ) (Foto: Júlio Caesar/O Povo)

Até então, Emilly Fernandes da Silva era a única filha dos dois. Segundo Emanuelle, suas experiências como mãe são “extremas”. Emilly nasceu quando ela tinha 19 anos. O casal passou um tempo separado, Sergio teve outro relacionamento e outro filho, mas reatou anos depois.

E o sonho de aumentar a família, principalmente de ter um casal de filhos, nunca saiu da cabeça de Emanuelle, mesmo com a resistência do marido.

Durante toda a gestação, a analista de sistemas só teve, nos quatro primeiros meses, o chamado sangramento de implantação, mas foi o tempo todo acompanhada pela obstetra. O período foi de angústia. “Era aquela ansiedade de saber se eu ia passar para o próximo mês”, relata.

As 39 semanas foram saudáveis, com índices glicêmicos na média, pressão regular e um ganho de peso de aproximadamente 13 quilos. Ao contrário da primeira, que Emanuelle pariu naturalmente, assistida pelo SUS, nessa segunda gravidez ela preferiu a cesariana. 

Com uma diferença geracional entre os filhos, Emanuelle não perde o bom humor ao falar sobre o novo momento. “A gente acha que tem experiência, mas todo filho é diferente. Até a gestação agora é por semana. O que a gente dizia que era para fazer, hoje em dia não é mais para fazer", brinca.

E completa: “Quando você é muito nova, você tem muito receio, muito medo. Eu me lembro quando a Emilly nasceu que se ela suspirasse mais alto eu já estava ali em cima do berço achando que ela não estava respirando”, relembra.

Sobre o que fará de diferente, ela acredita que terá mais paciência, mais tranquilidade no dia a dia, sem ansiedade, aproveitando as fases com mais atenção e menos pressão. Por outro lado, ela deseja repetir alguns pontos da criação da primeira filha.

“Eu criei ela assim, conversando. Eu dizia que quando fosse avó, ia dar tudo, porque não precisa de tanta regra. Só que a Emily é o que é hoje, ela é meu orgulho, ela trabalha, ela é dono da vida dela,  por conta das regras que foram impostas para ela.”

Em 2024, Emanuelle comemora o seu primeiro Dia das Mães como mãe de dois, de um casal de filhos. Bernardo chegou há algumas semanas, no dia 25 de abril, cheio de saúde.

“Ser mãe é a melhor coisa do mundo. É uma mistura de preocupação com amor, com responsabilidade. Por eles, faço tudo que eu acho que devo fazer. Se tem uma coisa que eu posso fazer que não vai fazer mal, eu faço”, relata.

Cuidados maternos

Segundo Luciana Patrício, ginecologista obstetra com especialização em gestação de alto risco, a idade materna avançada carrega ou pode carregar algumas condições e particularidades, atreladas a algumas situações.

“Por isso, que a gente separa idade materna avançada e gestação na adolescência das demais, porque têm particularidades, têm situações que podem levar a um risco. No caso do outro extremo, da adolescência, é uma vulnerabilidade”, explica Luciana.

Na lista de riscos, Luciana elenca o abortamento espontâneo, o aumento de chances de anomalias cromossômicas ou congênitas, a morbidade perinatal, associado ao baixo peso ao nascer ou à prematuridade, e gestações múltiplas, por ser uma faixa etária que as mulheres realizam mais procedimentos de fertilização in vitro (FIV).

Também há mais chances da mulher desenvolver diabetes gestacional e pré-eclâmpsia (aumento da pressão arterial na gravidez). No caso de mulheres que já têm diabetes tipo 2 ou que já são hipertensas, mas as controlam com medicações, os cuidados com a saúde também devem ser maiores.

Porém, mesmo com uma lista extensa, Luciana reforça que, independentemente da idade, os cuidados para quem planeja uma gravidez ou quem já está gestante são os mesmos.

“Primeiro são hábitos de vida. Se você não tem bons hábitos, é preciso modificar e melhorar a dieta. Segundo é a prática de atividade física. E tem também a questão de sobrepeso ou obesidade”, explica Luciana. A perda de 5 a 10% do peso já reduz consideravelmente esses riscos, em especial a hipertensão.

Outro cuidado indicado para a saúde tanto do feto quanto da mãe é a realização de exames. O primeiro ultrassom morfológico está na lista dos mais esperados, já que analisa o marcador de translucência nucal.

Através dele são analisados marcadores de ducto venoso e válvula tricúspide (do coração) e faz o cálculo de risco das principais cromossomopatias, a trissomia do cromossomo 13, conhecida como síndrome de Patau; a trissomia do cromossomo 18, chamada de síndrome de Edwards, e a trissomia do cromossomo 21, a síndrome de Down.

“Além de calcular o risco de cromossomopatias, a gente também vai calcular o risco para desenvolver pré-eclâmpsia precoce, que seria antes de 34 semanas. Com a idade materna avançada, a gente sabe que esse risco pode aumentar, se essa é a primeira gestação”, descreve Luciana.

A soma dos fatores idade, primeira gestação e fertilização in vitro resultam nos critérios para realizar profilaxia para a pré-eclâmpsia. A prevenção conta com um procedimento simples, que consiste em uma dose diária de aspirina durante a gestação, assim como a reposição de cálcio.

Já a diabetes gestacional pode ser acompanhada desde o início da gestação e o controle da produção de insulina é feito muitas vezes apenas com uma alimentação saudável e a prática de atividades físicas. Caso contrário, se faz necessário o uso da substância. 

Luciana explica ainda que a escolha da via de parto é regada a muitos mitos e medos, sejam eles pela longa caminhada na fertilidade, por perdas gestacionais prévias ou até por desinformação. “A via de parto vai de acordo com o status materno fetal na reta final da gestação”. 

As indicações de cesariana acontecem apenas em casos e condições mais graves, como pré-eclâmpsia associada à Síndrome de Hellp, apresenta a obstetra. 

E completa: "A nossa classe leva a mulher a acreditar que optar e permitir um parto normal, fisiológico e seguro, é como se estivesse colocando em risco a saúde do bebê”.

“Não existe ausência de risco. A gente fala de gestações de risco habitual, porque o risco ele já existe, só de estar vivo, já existe. Pensar que uma uma via de parto que é fisiológica, que é o parto normal, ser mais arriscada que uma cirurgia, é muito errado”, completa.

Confira alguns mitos e verdades relacionados à gestação em mulheres com idade materna avançada:

A realização de um sonho

Munida de informações e com o coração aquecido por um desejo que sempre esteve presente, Tânia Patrício decidiu abrir mão da sua vida de calmaria, como a própria conta, para realizar um sonho.

Hoje com 53 anos, a empresária cearense que reside em Natal, no Rio Grande do Norte, teve dois casamentos sem filhos. Outros projetos vieram e a maternidade foi sendo adiada.

“Com o passar do tempo, com 36 anos, me deu um estalo. A maternidade é um sonho. Quando que vai ser realizada? Não sei. Quando me separei, pensei: deixa a coisa fluir naturalmente, porém, me deixe pensar no meu tempo.”

Tânia Patrício engravidou aos 51 anos(Foto: Divulgação/Giovana Rego)
Foto: Divulgação/Giovana Rego Tânia Patrício engravidou aos 51 anos

E Tânia sabia que o tempo biológico não estava em sincronia com os seus desejos pessoais e momentos ideais. Por isso, decidiu congelar os óvulos, fecundados com espermatozóides de banco de sêmen.

Então, 15 anos depois, a chave virou. “Eu já estava em outra relação, com um parceiro maravilhoso, com família constituída e com vasectomizado. Foram muitos sinais que me diziam que a maternidade é única e unilateral, que você não depende de ninguém para constituir a sua família, e de fato foi assim”, conta.

Na fertilização in vitro, os embriões congelados possuem três caminhos: a inseminação, a doação ou o descarte. Esta última, para a empresária, não era uma opção e a doação seria uma alternativa após tentativas.

O primeiro passo, então, foi se consultar com a sobrinha e obstetra Luciana Patrício, em Fortaleza. O acordo era seguir em frente com a realização do sonho se o corpo da empresária permitisse. Caso contrário, os embriões seriam doados. A resposta mais desejada permitiu que Tânia desse outro passo.

Em seguida, em São Paulo, foi verificada a saúde dos óvuloscongelados. Quatro se mostraram saudáveis e, por conta da idade da paciente, só dois foram transferidos para o útero.

O primeiro positivo veio logo depois, confirmando a gravidez. O pré-natal foi acompanhado pela sobrinha e por um outro médico em Natal. A escolha dos profissionais se deu por perfis que fugissem do modelo convencional, que respeitassem suas decisões.

O parto de Tânia Pacheco, empresária, foi uma cesária humanizada (Foto: Divulgação/Acervo pessoal  )
Foto: Divulgação/Acervo pessoal O parto de Tânia Pacheco, empresária, foi uma cesária humanizada

“Eu apenas me entreguei, estava preparada para tudo. Inclusive, para nada”, confessa Tânia. E com o passar das semanas, a gravidez seguiu evoluindo. Sem enjoos, vômitos, azia nem noites mal dormidas devido à gestação.

Mesmo com todos os riscos, a empresária recebeu o diagnóstico de diabetes gestacional, que foi controlada apenas com a alimentação e a prática de atividades físicas, sem a necessidade de tratamento com insulina.

“Foi lindo, eu tive uma barriga linda, morro de saudade da minha barriga. Não engordei, saí da maternidade com 10 Kg a menos.”

Sobre o primeiro trimestre, Tânia revela o sentimento de insegurança. “Eu não vou dizer assustador. Mas é um período muito incerto. Ele te coloca em uma posição de frágil. É uma coisa que você não tem controle. Na gravidez toda, você não tem controle de absolutamente nada”, relata.

Outro ponto que Tânia destaca de uma gestação para mulheres com idade materna avançada é o que ela chama de “Campanha da negatividade”, com comentários etaristas e preconceituosos.

“É um conservadorismo arcaico de pessoas que não se permitem uma evolução. Elas não são acolhedoras. É o tempo todo você se justificando para dar uma satisfação de um padrão. Isso foi o mais triste. A maternidade é uma decisão única. E se eu não estivesse com parceiro nenhum, eu ia deixar de ser mãe? Não!”, afirma com convicção.

Tânia, 53, realizou o procedimento de fertilização in vitro. Martina nasceu em 2022.(Foto: Divulgação/Acervo pessoal Tânia Pacheco)
Foto: Divulgação/Acervo pessoal Tânia Pacheco Tânia, 53, realizou o procedimento de fertilização in vitro. Martina nasceu em 2022.

No dia 14 de setembro 2023, Martina, nome que significa “pequena guerreira”, chegou ao mundo via cesariana e foi direto do útero para o colo da Tânia, ainda ligada pelo cordão umbilical, pele com pele. Para a empresária, a maternidade tem sido uma descoberta e um aprendizado diários.

“É muito lindo, porque a minha família e os meus amigos foram incríveis. Martina tem uma família gigante, de muito carinho, de muito acolhimento, de muito amor. E ela sabe disso. Que todas as mulheres se permitam fazer o mesmo e ter suas decisões respeitadas.”

O cuidado com a saúde mental

Florence Façanha de Oliveira, psicóloga com pós-graduação em psicologia perinatal, acredita que, assim como é importante a mulher cuidar da saúde física antes e durante a gravidez, também é essencial buscar uma ajuda psicológica ao longo do processo, principalmente em casos de fertilização in vitro (FIV).

Essa preparação, ela explica, é chamada de pré-natal psicológico. “Tudo isso envolve muitos tipos de investimento: financeiro, social, emocional. E principalmente esses casos de FIV tem muita ansiedade, porque é um processo cheio de esperas", apresenta.

O ideal, completa, é o fortalecimento emocional antes mesmo de tentar. Inclusive para pensar em recursos e estratégias de enfrentamento para lidar com o processo de uma forma mais saudável, equilibrada. Porque a ansiedade e o estresse vão vir.

A prevenção, ela explica, prepara a mulher também para o período gravídico puerperal, que conta com questões emocionais muito específicas, que podem ser trabalhadas com a construção da relação com o bebê, envolvendo, se possível, o companheiro ou a companheira.

O ciclo gravídico puerperal é um dos três períodos potenciais de crise na vida da mulher para o desenvolvimento de transtornos psicológicos, conforme explica Florence. O primeiro é a primeira menstruação, a menarca; o segundo é o ciclo gravídico puerperal e o terceiro é a menopausa.

“São três períodos que existem muitas mudanças acontecendo na vida da mulher, no corpo, no fisiológico, no emocional, no social. Além de ser um processo de transição existencial. Eu não vou ser mais só filha, vou ser também mãe. Então há um processo de mudança até mesmo de identidade, de reconstrução dessa identidade", descreve.

Confira abaixo dicas para cuidar da saúde mental durante a gravidez:

Conforme explica Florence, a ansiedade é uma emoção comum entre as mulheres que vão tentar engravidar de uma forma mais tardia.

“Elas entendem o risco e outras questões, como diabetes gestacional, parto prematuro, pré-eclâmpsia… Então já chegam com essa demanda, com essa ansiedade, esse medo, essa angústia.”

O trabalho consiste, primeiramente, em acolher esses sentimentos e trabalhar com a questão de que não necessariamente esses riscos irão se concretizar. O foco é no momento presente, além de questões como autocompaixão e resiliência, além da culpa.

Outra questão vivenciada pelas mulheres, principalmente as de idade materna avançada, é o julgamento. “Por que engravidou com essa idade?”, “Por que está passando por isso?”, “Isso é culpa dela, que nessa idade quis engravidar” estão entre as frases que Florence diz serem ouvidas pelas pacientes.

“Então há muito julgamento e pouco acolhimento, pouca validação. E só aumenta mais esse sofrimento, porque se não tem quem acolha, quem compreenda, quem ampare, e esse sofrimento pode se intensificar e de fato afetar a saúde mental”, conclui.

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