Corpos e mentes preparados. São 30 e muitas semanas de gestação. As sensações se misturam: emoção, ansiedade, medo, poder, vivacidade. Uma nova etapa da vida está para começar. E no prontuário pré-parto a observação de gravidez geriátrica.
O termo pode impactar muitas mulheres e gerar preconceitos. Mas é real. A partir dos 35 anos, a gravidez geriátrica ou gravidez tardia é também chamada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de idade materna avançada.
Esse termo, cada vez mais, tem estado presente nos relatórios médicos das gestantes. Seja por questões financeiras, profissionais ou pessoais, é fato: as mulheres estão adiando cada vez mais a experiência da maternidade.
Segundo dados do Ministério da Saúde, em pesquisa promovida pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), o número de mulheres que deram à luz a bebês nascidos vivos com idade entre 35 e 54 anos cresceu no Brasil entre todas as faixas etárias pesquisadas. Houve um aumento total de 37,5% a partir de um comparativo entre 2012 e 2022.
Nos comparativos entres 2012 e 2022, o sistema nacional registrou, na faixa etária de 35 a 39, um aumento de 32,67% na quantidade de mulheres que engravidaram.
Já dos 40 a 44 anos, o percentual é ainda maior, 56,84%. Entre 45 e 49 anos, o aumento foi de 42,66%. Em paralelo, o número de mulheres que engravidaram entre 25 e 34 anos entre 2012 e 2022 caiu 6,59%.
O Ceará também segue a tendência nacional, de acordo com o DataSUS. No Estado, o número de mulheres que deram à luz a bebês nascidos vivos com idade entre 35 e 54 anos cresceu 36,27%, ao comparar os anos 2012 e 2022.
No número de mulheres de 35 a 39 anos que deram à luz a bebês vivos subiu 36,08%. Na faixa etária de 40 a 44 anos, o aumento foi ainda maior, de 40,7%.
Segundo a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa), a gestante com mais de 35 anos é considerada como médio risco, requerendo uma atenção pré-natal criteriosa, sobretudo se a idade estiver associada a outros fatores.
A classificação é feita pela Estratificação de Risco Gestacional para a Organização da Assistência à Saúde das Gestantes, publicada pela Secretaria.
“O Ministério da Saúde classifica, no cartão de pré-natal da gestante, a idade de 35 anos como um fator de risco, com uma classificação de uma ‘gestante idosa’, no sentido de ser uma gravidez de risco”, explica Rebeca Matos, ginecologista obstetra especialista em ultrassom e pós-graduanda em medicina fetal.
A obstetra explica que os folículos dos ovários, indispensáveis para a gestação, começam a se formar ainda na fase embrionária e a quantidade diminui com o passar do tempo, perdendo-se ainda na barriga da mãe. Os folículos são "recrutados" mensalmente na ovulação, a cada menstruação.
A relação entre quantidade e qualidade dos folículos atinge o ápice aos 25 anos. Aos 35 anos, o declínio passa a ser ainda mais rápido. Por isso, essa classificação. Os exames de rotina de uma mulher com idade materna avançada não mudam no pré-natal.
“Mas o médico tem que levar em consideração que ele tem que ser mais atento no olhar, justamente pelo risco aumentado que essa paciente naturalmente já tem, de ter alguma alteração, alguma malformação, algumas síndromes genéticas. Mas os exames são os mesmos”, reforça Rebeca.
O pré-natal em si também é igual, a não ser que apareça alguma alteração durante o acompanhamento que exija um olhar mais atento. No caso de uma mulher de 40 anos que apresenta um quadro de pressão alta, por exemplo, ao invés das consultas serem realizadas uma vez por mês, o indicado passa a ser um encontro a cada duas semanas.
Rebeca reforça que toda gravidez é única. “Uma moça de 25 anos pode engravidar, teoricamente os riscos são bem menores, e ela pode ter várias complicações, se tornando uma gravidez de alto risco do mesmo jeito.”
Em paralelo, não faltam exemplos de idade materna avançada sem complicações nem alterações. A obstetra cita uma paciente sua com mais de 40 anos. "Era um pré-natal de alto risco por conta da idade, mas não se tornou de alto risco porque não teve nenhuma alteração”, descreve.