A telemedicina já era uma realidade antes da pandemia do novo coronavírus, para orientações médicas que dispensam o contato físico e pessoas com dificuldade de locomoção, entre outras situações. Com a necessidade do isolamento social e o risco de contaminação em ambientes hospitalares, tornou-se ainda mais necessária e passou a ser mais aceita pela sociedade, tanto no Brasil quando no mundo.
Um exemplo prático de como a tecnologia pode ser aliada da saúde e transformar a rotina de profissionais da área, além das experiências e resultados dos pacientes. Muito além da telemedicina, o mercado de healthtechs — startups especializadas no setor — engloba inteligência artificial e outros recursos para diagnóstico, prevenção, tratamento de doenças e otimização dos processos internos em hospitais e clínicas.
No Brasil, o segmento duplicou nos últimos cinco anos, segundo a pesquisa Distrito Healthtech Report Brasil 2020, realizada pela Distrito, empresa que mantém um ecossistema de inovação. O levantamento também mostra que foram investidos US$ 430 milhões no Brasil. No mundo, foram US$ 40 bilhões, desde 2014. Ao todo, foram mapeados 542 negócios. O Ceará detém 1,10% desse total.
Já pela contagem da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), das pouco mais de 13 mil startups no País, 469 são voltadas para saúde e bem-estar. São Paulo concentra a maior parte (155) e o Estado contabiliza 11.
O economista, médico e professor de medicina da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Marcelo Gurgel, pondera que o Ceará tem se destacado nesse mercado, na formação de profissionais em universidades públicas locais e, também, com os polos de inovação do Porangabussu, em Fortaleza, e no município de Eusébio, com Polo Industrial e Tecnológico da Saúde (Pits) do Estado.
"O Governo tem dado e incentivo e captado as empresas. Esse é um diferencial importante frente aos outros estados", observa. No Pits, por exemplo, foi instalada uma Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19, da Fiocruz Ceará, com potencial para realizar 10 mil testes por dia.
"No Brasil, o setor tem um componente importante do Produto Interno Bruto (PIB), tanto pela condição diversificada e pela tecnologia nele inserido. As empresas têm muito interesse em oferecer esse serviço, que é um bem mais do que necessário", explica.
Outro ponto, acrescenta, é que ferramentas tecnológicas em saúde têm alto custo, inclusive, com inflação superior à geral. "Consome muito mais recursos, mas retorna para sociedade em bem-estar. E isso impacta social e economicamente. A população mais saudável, consequentemente, é mais produtiva", frisa.
O vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-CE) e conselheiro do projeto Ninna Hub, Delano Macêdo, reitera e lembra que as startups mais evidentes estão nas áreas financeiras (fintechs), educação (edutechs) e saúde (healthtechs).
"Dentre elas, a saúde vem evoluindo muito. É algo que mexe direta e indiretamente com a vida da pessoas. Procedimentos como esperar dias por exames, nos dias de hoje, são arcaicos. Esses negócios trazem melhorias como organizar prontuários, entre outras, que mudam a vida de pacientes e médicos", observa.
Ele complementa que, além do aumento da produtividade e qualidade de vida da população, as ferramentas podem ajudar a reduzir os gastos públicos. "No Ceará, o ambiente é propício em diversos setores, embora ainda seja incipiente. Mas o Governo do Estado vem incentivando isso", afirma.
Nesse contexto, o diretor-executivo da Abstartups, José Muritiba, destaca que o Brasil é o maior mercado a América Latina e o sétimo maior do mundo, com mais de US$ 42 bilhões aplicados anualmente em cuidados de saúde no setor privado.
"Aquecido e carente de soluções de base tecnológica para suprir suas necessidades, vemos crescer, nos últimos anos, as startups com produtos e serviços para esse mercado", avalia. Muritiba ainda diz que, diante do cenário de pandemia, os olhares da população e do mercado se voltaram para a saúde, dando mais visibilidade às healthtechs.
A global busca pela cura e uma vacina contra a Covid-19 e a necessidade de produzir soluções diversas para o campo da saúde, como equipamentos de proteção individual (EPIs) usando impressoras 3D, até a melhoria dos fluxos hospitalares, enfatizaram o papel dessas empresas.
"O segmento já era um dos principais aqui no Brasil, e sente o reflexo do holofote (que atrai investimentos, inovação e novas iniciativas). Entre os destaques, o topo da lista está com a telemedicina, que ganhou aprovação legal do Senado, em março", analisa.
São Paulo - 43,10
Minas Gerais - 10
Rio Grande do Sul - 9,80
Rio de Janeiro - 8,50
Santa Catarina - 7,40
Paraná - 5,50
Pernambuco - 3
Goiás - 1,80
Distrito Federal - 1,70
Bahia - 1,50
Ceará - 1,10
Rio Grande do Norte - 0,70
Pará - 0,40
Piauí - 0,40
Paraíba - 0,40
Espírito Santo - 0,40
Mato Grosso do Sul - 0,40
Maranhão - 0,20
Alagoas - 0,20
Rondônia - 0,20%
Sudeste - 64
Sul - 23,70
Nordeste - 7,60
Centro Oeste - 4,02
Norte - 0,60
Farmacêutica e diagnóstico 57/10,50
Telemedicina 53/9,80
Relacionamento com pacientes 36/6,60
Medical devices 36/6,60
Inteligência artificial (AI) & big data 35/6,50
Wearables & internet das coisas (IoT) 21/3,90
Marketplace 74/13,70
Acesso à informação 94/17,30
Gestão e prontuário eletrônico 136/25,10
do paciente (PEP)
Total: 542 healthtechs
Fonte: Distrito Healthtech Report