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Na política do Ceará, 2022 é logo ali
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Na política do Ceará, 2022 é logo ali

Passada uma eleição, já é possível um exercício de projeção sobre a próxima disputa, a partir da realidade de cada ator que será relevante para o pleito na medida em que os dias forem avançando
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Na política do Ceará, 2022 é logo ali (Foto: Robert Daly/Gettyimages)
Foto: Robert Daly/Gettyimages Na política do Ceará, 2022 é logo ali

Uma eleição acaba e, naturalmente, os holofotes da política jogam luz sobre a próxima disputa, algo que costumeiramente ocorre já no ano instalado entre um evento e outro. Nele, 2021, uma série de atores começarão a pensar de modo mais profundo sobre os próximos passos: como irão se movimentar para entrar, permanecer ou mesmo se retirar do trajeto do poder.

É nesse sentido que entra em cena a relevância de alguns deles que, em maior ou menor escala, influenciarão o processo de 2022 no Ceará. Entre eles, Camilo Santana (PT), Roberto Cláudio (PDT), Tasso Jereissati (PSDB), Capitão Wagner (Pros) e Eduardo Girão (Podemos).

A preço de agora, projeta-se para o governador petista a trilha do Senado Federal. Não que ele tenha verbalizado o que quer fazer quando deixar o Palácio da Abolição.

FORTALEZA, CE, Brasil. 29-12-2020: Camilo Santana, governador do Ceará. Governador Camilo Santana visitou as dependências do jornal O Povo na manhã desta terça feira. Camilo foi entrevistado na rádio O Povo / CBn por Maísa Vasconcelos e se reuniu com os jornalistas Arlen Medina Néri, Erick Guimarães, João Marcelo e Henrique Araújo. (Foto: Júlio Caesar / O Povo)
Foto: JÚLIO CAESAR
FORTALEZA, CE, Brasil. 29-12-2020: Camilo Santana, governador do Ceará. Governador Camilo Santana visitou as dependências do jornal O Povo na manhã desta terça feira. Camilo foi entrevistado na rádio O Povo / CBn por Maísa Vasconcelos e se reuniu com os jornalistas Arlen Medina Néri, Erick Guimarães, João Marcelo e Henrique Araújo. (Foto: Júlio Caesar / O Povo)

Com menos assentos que Câmara, a Casa costuma ter humores e debates mais equilibrados, sendo costumeiramente mais frequentada pelos que deixam as administrações estaduais. Casos de Tasso Jereissati e Cid Gomes (PDT), por exemplo.

Afora isso, a disputa em 2022 será mais acirrada. Sobretudo pelo fato de somente uma vaga estar disponível no próximo ano, a de Tasso. Reaproximado do grupo governista, ainda é uma incógnita se o empresário tentará mais um mandato ou se retirará da cena política de vez.

Coordenadora do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Monalisa Soares vê em Camilo um "candidato natural" ao Senado pela boa avaliação, enquanto Tasso, por enquanto, segue com o futuro indefinido. O tucano já ensaiou retirada da política em 2010, ao perder a reeleição para Eunício Oliveira (MDB) e José Pimentel (PT), mas voltou quatro anos depois.

Tasso Jereissati, senador do PSDB (Foto: Aurelio Alves/O POVO).
Foto: AURELIO ALVES
Tasso Jereissati, senador do PSDB (Foto: Aurelio Alves/O POVO).

Não acho que o Tasso vá disputar com o Camilo, não, porque a preço de hoje eu acho muito difícil o Camilo perder uma eleição para o Senado Federal. Acho muito difícil o Tasso, nessa altura do campeonato, enfrentar essa estrutura, até porque ele jogou o PSDB no colo dos Ferreira Gomes”, acrescenta o Cleyton Monte, que, assim como Monalisa, é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem), da UFC.

Ambos lembram ainda que o panorama pode ou não se alterar a depender da permanência ou saída do atual chefe do Executivo do PT. Se migrar para as fileiras do PSB, estará por exemplo livre das amarras que lhe cercam frequentemente. Camilo disse em visita ao O POVO somente que se sente grato ao apoio da população, sem oferecer nenhuma sinalização objetiva. "Temos tempo para pensar em 2022 e avaliar os cenários futuros." 

A chave que passa pelo Abolição

FORTALEZA, CE, BRASIL, 29.12.2020: Roberto Claudio (PDT) visita GCOP Jornal O POVO antes de entregar prefeitura e vai a Radio para entrevista e uma pequena conversa na Presidencia. Em época de COVID-19. (Foto: Aurelio Alves/O POVO).
Foto: Aurelio Alves
FORTALEZA, CE, BRASIL, 29.12.2020: Roberto Claudio (PDT) visita GCOP Jornal O POVO antes de entregar prefeitura e vai a Radio para entrevista e uma pequena conversa na Presidencia. Em época de COVID-19. (Foto: Aurelio Alves/O POVO).

O debate do Senado costuma se resolver com mais clareza quando solucionada uma questão anterior: a de quem disputa o Governo do Ceará.

Em 2014, por exemplo, a consequência da escolha de Cid Gomes (então no Pros) por Camilo Santana como sucessor foi a saída de José Guimarães (PT) do páreo ao Senado. Mauro Filho (então no Pros) ocupou a missão que resultou em derrota para Tasso.

É então a partir da definição do postulante ao Palácio Abolição que as demais tarefas na disputa costumam ser distribuídas. O primeiro nessa lista, projeta Monalisa, é Roberto Cláudio.

Do alto de uma gestão bem aprovada, o médico terá de se equilibrar entre sair de cena sem sair demais. Segundo a docente, o prestígio existe e, no caso dele, é real, mas também têm validade.

Ela acrescenta ainda: “O primeiro ano do Sarto incide diretamente (na realidade de RC), pelo 'afiançamento' que houve. Eles teriam outros nomes, mas parece-me que pela extensão da disputa, vão precisar de um nome como o do Roberto Cláudio, que já seria encaminhado e com uma aceitação.”

Assim como Camilo, o agora ex-prefeito de Fortaleza, também na sede do O POVO, não deu resposta que permitisse alguma compreensão mais completa acerca dos planos. 

Segundo RC, "nenhuma candidatura ao Executivo depende do desejo, e muito menos do trabalho pessoal de ninguém." Ele afirma que "além de não ter essa obsessão nenhuma por cargo específico, nenhuma missão específica ou obsessão direta, entendo que o meu papel é contribuir dentro de um projeto que tem transformado o Ceará."

Do outro lado

A oposição, por sua vez, registrou crescimento com vitória em três dos cinco maiores municípios do Ceará, o que a faz chegar à corrida com outra estatura. Capitão Wagner é o incontestável líder de um grupo próprio, articulado entre forças dissidentes do PSDB como Roberto Pessoa e Danilo Forte e principalmente com o senador Eduardo Girão.

Até o eleitor cearense menos atento aos desdobramentos políticos saberá que a maior possibilidade é de que, mais uma vez, a polarização se dê entre o grupo de Ciro e Cid e a coalizão de Wagner.

Com mandato na Câmara, é precipitado esperar que o ex-candidato a prefeito de Fortaleza corra o risco de ficar sem um mandato e, em vez disso, tentar o Abolição numa disputa que, como toda disputa, é incerta.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 29.11.2020:  Capitão Wagner (PROS) e Eduardo Girão no comite do PSC para coletiva do 2 turno de Fortaleza. (Aurelio Alves/O POVO)
Foto: Aurelio Alves
FORTALEZA, CE, BRASIL, 29.11.2020: Capitão Wagner (PROS) e Eduardo Girão no comite do PSC para coletiva do 2 turno de Fortaleza. (Aurelio Alves/O POVO)

"Ser oposição com cargo é difícil, sem cargo, é uma tarefa inglória”, resume Monte sobre o dilema para Wagner. “Ele não vai abrir mão de uma reeleição quase que certa para disputa de risco", adiciona.

É sobretudo em razão dessas circunstâncias que o nome de Eduardo Girão ganha força na cotação política-eleitoral. Monte compreende que ele saiu fortalecido de uma disputa política cuja missão, a de articulador, conseguiu executar com algum nível de habilidade.

“Ele conseguiu uma quantidade expressiva de lideranças religiosas, pessoas da sociedade civil que ele conseguiu trazer para a campanha do Capitão Wagner”, exemplifica Monte, para quem no “pior dos cenários”, o ex-presidente do Fortaleza Esporte Clube consolida o nome como liderança estadual.

 

A primeira-dama Michelle Bolsonaro, o presidente Jair Bolsonaro e o vice-presidente, general Hamilton Mourão, durante cerimônia de transmissão da Faixa Presidencial, no Palácio do Planalto.
A primeira-dama Michelle Bolsonaro, o presidente Jair Bolsonaro e o vice-presidente, general Hamilton Mourão, durante cerimônia de transmissão da Faixa Presidencial, no Palácio do Planalto.

Bolsonaro ainda está "à espera" de uma oposição organizada em 2022, dizem analistas

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está na metade do mandato. Dois anos de governo durante os quais mais tropeçou nas próprias pernas do que precisamente em obstáculos colocados pela oposição a ele.

Tem um núcleo fiel de apoiadores, estimado em 30% da população brasileira. Segundo última pesquisa Datafolha, divulgada em 13 de dezembro de 2020, o militar somou 37% de pessoas que o consideram um presidente bom ou ótimo.

Para pesquisadores consultados por O POVO, 2022 de imediato demandará, na perspectiva da oposição, uma ampla conjunção de partidos, da centro-esquerda à direita moderada, que se distinga do mandatário.

Uma coalizão que se reúna em torno de um nome que lidere uma empreitada contra o ultradireitista hoje favorito a mais quatro anos no Palácio do Planalto. Esta é, contudo, a principal questão.

DURANTE o discurso, Bolsonaro voltou a ser alvo de panelaços em ao menos nove capitais
Foto: Isac Nobrega/Presidência da República
DURANTE o discurso, Bolsonaro voltou a ser alvo de panelaços em ao menos nove capitais

Para Carolina Botelho, doutora em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Flávio Dino (PCdoB), Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT) são nomes consideráveis, embora ela entenda mesmo que não haja atores aptos para a missão agora.

Dino, ela lembra, ainda não conseguiu nacionalmente interlocução com setores à direita liberal. Carolina adiciona que Haddad esbarra em questões domésticas, já que muito associado à agenda petista, como a de livrar Lula das implicações judiciais e torná-lo candidato outra vez, o que não é uma emergência nacional. Já Ciro, conforme ela sublinha, sofre com a resistência do eleitorado petista, relevante na centro-esquerda.

Segundo a docente, a experiência da articulação de Rodrigo Maia (DEM-RJ) em torno de Baleia Rossi (MDB-SP) para a Presidência da Câmara dos Deputados, guardadas as proporções de cada circunstância, mostra que a construção de grandes entendimentos na política não é utópica, mas palpável.

"Quando o Maia chama um cara tipo Baleia Rossi para conjugar essa frente, ele está mostrando para os partidos de esquerda que a agenda de costumes do Bolsonaro não vai ser pautada, mas dando recados para os grupos econômicos mais liberais: ‘Estamos de olho na responsabilidade fiscal, de não ter estado pesado na economia’. Está dando dois recados. E ele está certo”, analisa Carolina.

 Baleia Rossi, entre Aguinaldo  e Rodrigo Maia, após ter o nome anunciado
Foto: LUIS MACEDO/CAMARA DOS DEPUTADOS
 Baleia Rossi, entre Aguinaldo e Rodrigo Maia, após ter o nome anunciado

Para além do exemplo, ainda segundo a pesquisadora, a eleição na Câmara pode determinar um horizonte de facilidades ao presidente, caso Arthur Lira (PP-AL) garanta triunfo frente a Rossi. Com Lira, ela destaca, mais aprovações, mais tranquilidade e, portanto, mais uma missão concluída no objetivo de reeleição.

Para Rodrigo Prando, professor da Universidade Mackenzie (SP), o presidente busca uma marca a ser defendida na disputa, o que ainda não obteve. Mesmo assim, tem base fiel de apoiadores que lhe conferem favoritismo na disputa.

“O presidente tem um cenário que vai ser provavelmente ainda uma consequência grave da pandemia, uma complexa e muito difícil, com relação à economia e também ao resultado da pandemia, as contas públicas, o orçamento público muito dilapidado por conta dos gastos necessários”, ele projeta.

E adiciona sobre a oposição: “É muito difícil que você tenha um nome de consenso, levando-se em consideração que você tem projetos políticos e partidários que não se coadunam em um nome.”

2021, segundo lance para 2022

Conhecidos os resultados eleitorais de 2020, abrem-se as especulações e os movimentos para a eleição seguinte, quando encerrar-se-ão os mandatos de Camilo Santana (PT) e Tasso Jereissati (PSDB). Este já amargurou uma derrota, quando encerrava seu primeiro mandato senatorial, e quando se opunha ao grupo político que estava no poder, nacional e localmente; aquele, por sua vez, encerrará um segundo mandato, quando o Ceará pela primeira vez está desalinhado ao plano nacional.

São estes os dois mais importantes cargos em disputa na próxima eleição. Caso Wagner tivesse sido eleito, o caminho para o Palácio Abolição estaria pavimentado para Girão, que estará na metade do mandato senatorial. Mas, como isso não se deu, o Capitão já sinalizou que “a moçada começa a falar em 2022”.

Temos, pois, dois nomes com capilaridade dentro do bloco opositor, que têm produzido notoriedade na oposição aos “Ferreira Gomes”, que disputarão o legado da oposição. Junte-se a eles players outros que fazem do reacionarismo moral sua bandeira política. A deputada Silvana já “profetizou” o levante da “igreja” para “mudar governo”. Veremos.

Do lado governista, a preço de hoje, a grande aposta parece ser Roberto Cláudio: além de sair com considerável aprovação de sua gestão, foi, exatamente por isso, o primeiro a eleger sucessor na capital. Contudo, dependerá do êxito da gestão de Sarto para tentar minorar os prejuízos que uma campanha competitiva, como o foi a de 2020, lhe trouxe.

Tasso conta apenas com o legado do PSDB, hoje conduzido por nomes de oposição ao grupo que está no poder local, do qual o senador tem se aproximado, e próximos do poder nacional. Roberto Pessoa, Nelinho, Danilo Forte capitalizam votos contra os Ferreira Gomes. Terá o senador força política para a reeleição? A ver o resultado da eleição na Mesa do Senado.

Enquanto Eunício parece jazer em ocaso, Domingos Filho e Acilon Gonçalves despontam numa nova configuração de forças que, em tempos de suposta “nova política”, suscita a permuta de sobrenomes, apenas isso, no jogo político.


Emanuel Freitas da Silva é professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e pesquisador do Laboratório de Estudos de Processos Eleitorais e Mídia, da Universidade Federal do Ceará

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