Considerado um patrimônio cultural e econômico do Ceará, o caju mantém o Estado na liderança de maior produtor brasileiro de castanha, com 68,9 mil toneladas, representando 56% do total nacional.
Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com a estimativa de safra de 2022 em julho. Estudo do Caderno Setorial da Etene, de junho deste ano, produzido pelo Banco do Nordeste (BNB), complementa esse cenário em relação à área de 271.636 mil hectares de produção e ao valor estimado de R$ 346.087 mil.
Porém, conforme o LSPA do IBGE, a maior área plantada é ocupada por plantios antigos e envelhecidos, que, ano a ano, vêm sendo cortados e aproveitados como lenha.
"No entanto, a área ocupada pelo caju anão vem apresentando aumento, com reflexos positivos na produtividade, em decorrência dos incentivos dos órgãos ligados à pesquisa e extensão do Estado", detalha a pesquisa.
Atualmente, a maior parte da produção cearense ainda se origina de cajueiros antigos, pouco manejados tecnicamente pelos produtores e, portanto, de baixa produtividade. Outra característica é que a atividade impacta a geração de renda principalmente para pequenos produtores, mas é extremamente dependente do clima.
Mas mesmo tendo passado por alguns problemas nos últimos anos como estiagem, pragas, mortalidade de plantas, transferência de indústria para o Exterior, entre outros, a crise no setor arrefeceu e há preparação para um novo momento no Estado. É o que acredita o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Amílcar Silveira.
“A estimativa é de produzirmos, neste ano, 65 mil toneladas de castanha de caju. Podemos passar a produzir 100 mil toneladas em cerca de até dois anos”, afirma Silveira, informando que o Ceará já chegou a 140 mil toneladas.
Os passos para a retomada da cajucultura já estão dando sinais por todo o Estado com o aumento, ainda tímido, das plantações de cajueiro-anão precoce ao invés do comum.
Isso irá possibilitar mais resistência ao estresse hídrico e maior produtividade, pois pelo seu pequeno porte, favorecerá maior rentabilidade com a possibilidade do aproveitamento do pedúnculo, aquela parte maior do caju, na forma in natura, como caju de mesa; ou processado, como suco, cajuína e doce.
No Estado, os números mostram que a área com cajueiro-comum vem reduzindo continuamente, totalizando uma queda de 154,8 mil hectares, entre 2012 e 2022. No mesmo período, tivemos um leve acréscimo do cajueiro-anão de apenas 26,1 mil hectares.
Para uma compensação entre os dois é necessário plantar uma área com cajueiro-anão cinco vezes maior que a existente até agora.
Este é um dos pontos levantados pelo presidente da Faec, a introdução da tecnologia e da inovação neste tipo de cultura. “O cajueiro-anão precoce é mais produtivo do que o cajueiro comum. Já existem experiências em grande densidade e isso aumenta a produtividade”, atesta Silveira.
Para que isso avance no Ceará, serão feitas cinco Unidades Demonstrativas (UDs) ao redor da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A ideia é que estejam em funcionamento até o fim deste ano.
“Já estamos vendo as mudas com a Embrapa, cursos de capacitação com o Senar, ações com o Governo do Estado e parcerias com os industriais. Convidaremos, logo após o período eleitoral, prefeitos de 22 municípios para verem quem tem a viabilidade de municipalizar as ações”, antecipa.
O presidente da Câmara Temática do Caju, Jose Ismar Girão Parente, também informa que foi elaborado o Plano Tático Operacional para a Sustentabilidade do Agronegócio Caju do Estado do Ceará. “Além das estatísticas, ele aponta algumas estratégias necessárias para retomada do crescimento desse agronegócio”, diz.
Entre as sugestões do plano estão a concentração de ações nos polos e municípios para proporcionar a sustentabilidade da cajucultura. Atualmente, os polos dividem-se em Litoral Leste com Aracati, Beberibe, Fortim, Icapuí e Palhano; Metropolitano com Barreira, Cascavel, Chorozinho, Ocara e Pacajus.
E, também, Litoral Oeste com Amontada, Itapipoca, Trairi e Tururu; Baixo Acaraú com Acaraú, Bela Cruz, Cruz, Itarema, Marco e Morrinhos; e Extremo Norte com Granja e Camocim.
Parente considera necessário, ainda, apoio financeiro não apenas das linhas convencionais, mas, principalmente, de crédito com juros e prazos adequados ao setor. Que aconteçam via programas de desenvolvimento regional e territorial como o Agronordeste, Prodeter e Prin.
"Deve-se salientar ainda o Sebraetec e o Siscoop que têm relevância para atender as micro, pequenas e médias empresas e, também, o fortalecimento das cooperativas agroindustriais da cadeia do caju", destaca Parante.
A engenheira Agrônoma do BNB e mestre em Economia Rural, Simone Brainer, responsável pela pesquisa da Etene, cita, ainda, que um grande apoiador do trabalho da cajucultura local é o IBGE no Ceará, que proporciona recortes diferentes de outros estados o que facilida a compreensão do mercado. Ainda neste ano, o instituto passará a ter estatísticas em relação ao pedúnculo, parte muito importante do caju.
Além da castanha e do pedúnculo, outros itens como podem ser aproveitados do pseudofruto e beneficiados como a amêndoa da castanha de caju, que tem alto valor nutritivo, o líquido da casca da castanha-de-caju, que serve de matéria-prima básica para a fabricação de vernizes, tintas, plásticos, lubrificantes e inseticidas.
O presidente da Associação dos Cajucultores do Estado do Ceará (Ascaju), Wagner Jucá, destaca que como a castanha de caju já tem uma produção própria, a associação está trabalhando em prol do pedúnculo.
“Enquanto não se aproveitar o pedúnculo, o produtor não vai ter renda suficiente para fazer um bom custeio e ter uma boa produtividade no seu pomar. Com ele pode ser trabalhado o mel de caju, que tem um grande potencial fitoterápico”, indica.
Para ele, o caju, assim como o açaí pode ser tratado como uma fruticultura comercial. Uma das soluções seria aumentar a renda do produtor através do aproveitamento do pedúnculo para sucos, bebidas como alimento funcional a base do caju e, ainda, aproveitar o concentrado de caju com refrigerante. “O pedúnculo representa 90% da produção do cajueiro, só 10% é a castanha”, alerta Juca.