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Ceará tem 875 startups e se consolida como liderança regional em inovação
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Ceará tem 875 startups e se consolida como liderança regional em inovação

Ecossistema de inovação do Ceará completa primeira década como um dos mais promissores do País e se prepara para superar Pernambuco e liderar no Nordeste. Fortaleza é a 7ª capital com mais empresas inovadoras do País
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Em uma década de desenvolvimento, ecossistema de inovação do Ceará caminha para ser o maior do Nordeste (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Em uma década de desenvolvimento, ecossistema de inovação do Ceará caminha para ser o maior do Nordeste

O Brasil superou a marca de 20 mil startups ativas e, dentre o total mapeado, o Ceará aparece com destaque, sendo o segundo do Nordeste com mais empresas inovadoras ativas. São 875 empreendedores que trabalham para despontar negócios que prometem se colocar na vanguarda do mercado.

Os dados fazem parte de levantamento realizado pelo Observatório Sebrae Startups, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O estado com o maior número de startups ativas do País é São Paulo com mais de 4,4 mil. No Nordeste, a liderança, por pouco, é de Pernambuco, com 890 startups, que possui seu Porto Digital. A Região também possui quatro dentre as dez capitais brasileiras com mais negócios disruptivos.

No Ceará, a perspectiva de avanço é positiva. Com histórico de 10 anos de início de formação de um ecossistema de inovação, a ambição é se tornar liderança regional na aceleração de startups. A avaliação é do diretor-presidente do Parque Tecnológico da Universidade Federal do Ceará (UFC), Abraão Saraiva Jr., uma das principais autoridades do tema no Estado e que acompanhou o início dessa linha do tempo.

Abraão destaca o grande florescer de iniciativas de apoio ao empreendedorismo inovador, impulsionado por universidades, poder público, cita o Hubine do Banco do Nordeste (BNB), e iniciativa privada, como a Casa Azul Ventures.

"Eu não tenho dúvida de que isso vai acontecer (o Ceará liderar o ecossistema de inovação no Nordeste). São várias ações articuladas, uma ebulição de iniciativas e sempre trabalhando para mitigar desigualdades e assimetrias regionais, o que nos leva a acreditar que o Ceará deve continuar sendo um celeiro de desenvolvimento de novos negócios", afirma.

Desde a primeira aceleradora do Ceará - a 85 Labs foi lançada em 2014, Fortaleza se tornou a sétima capital com mais startups do País e a inovação descentraliza rumo ao Interior. Além das instituições públicas e privadas de apoio a negócios inovadores, programas de fomento também contribuem com isso.

Exemplo é o Programa Centelha, da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), vinculada do Governo do Ceará, que lançou edital de R$ 4 milhões nessa semana.

O Centelha oferece recursos financeiros, capacitação e suporte para os projetos selecionados, garantindo o apoio necessário para desenvolver e lançar produtos, serviços ou soluções no mercado.

Hubs de inovação também desempenham papel importante neste processo, além da interiorização a partir de projetos de estímulo ao empreendedorismo dentro de universidades, como a Universidade Federal do Cariri (UFCA), que recentemente teve projeto de alunos entre os 60 melhores do Prêmio Startup NE, do Sebrae Nacional.

O Sebrae revela o perfil dessas empresas cearenses e até mesmo em que fase a maioria dos projetos está.

O setor de tecnologia da informação (TI) é o principal segmento de atuação desses negócios inovadores. A maior parte deles desenvolve softwares (389 empresas), mas há quem oferte serviços (308 empresas) e produtos físicos (99 empresas).

O modelo de negócio predominante entre as startups cearenses é o B2B, quando o foco é na relação comercial entre empresas.

Ainda conforme os dados levantados pelo Sebrae, a maior parte das startups cearenses está em fase de "validação" do negócio, que é quando se testa a ideia no mercado, utilizando, por exemplo, um produto mínimo viável (MVP).

É neste ponto em que se verifica a atratividade do produto ou serviço junto ao mercado, permitindo visualizar quais são os ajustes para viabilizar o negócio.

Faturamento da maioria das startups é pequeno ou inexistente

Dentro da perspectiva de inserção no mercado, a proporção de startups cearenses que ainda não possui faturamento chega a 63%. Outras 24% possuem faturamento entre R$ 81 mil e R$ 360 mil, enquanto 7% faturam entre R$ 360 mil e R$ 4,8 milhões.

Ainda no recorte de faturamento, apenas 1% das startups locais faturam entre R$ 4,8 milhões e R$ 300 milhões.

Alexandre Borin Cardoso, cofundador do Grape Valley e CEO da Presco Secretarias Compartilhadas, tem longa experiência com inovação e gestão empresarial, acompanhando de perto o ambiente de inovação brasileiro e o lançamento de "unicórnios" brasileiros, como o iFood.

Ele destaca que o perfil de projetos se altera com o passar de 20 anos de startups, com a possibilidade do próximo negócio de US$ 1 bilhão poder ser desenvolvido por apenas uma pessoa. Mas, segundo Alexandre, o que não muda seria a busca por modelos de negócios, funcionalidade e aplicabilidade acima de tecnologia em si.

"Nem toda tecnologia é um aplicativo. A inovação pode ser uma molécula no agro, por exemplo. A tecnologia em si, na verdade, pode ser uma parte da inovação de bilhões", completa.

Para alcançar o patamar de maturidade em um negócio inovador são vários passos de uma longa caminhada, que envolve aceleração, tração e investimento. Dados de mercado apontam que uma minoria se consolida.

O que as startups do futuro precisarão para sobreviver

Levantamento da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) mostra que apenas 33% dos projetos brasileiros avançam além da validação e atingem escala. A maioria fecha antes da tração por falhas em gestão de caixa, ausência de demanda ou execução improvisada.

Marilucia Silva Pertile, administradora e investidora especializada em acelerar negócios SaaS com especializações em Valuation de Startups, Gestão Comercial e Planejamento Estratégico, aponta que o futuro do ecossistema inovador será marcado por disciplina e menos improviso.

O cenário atual é de menor proporção de recursos disponíveis e um nível de seletividade maior dos investidores-anjo. Para ela, as empresas que se destacarão são as que transformarem dados em infraestrutura estratégica, estruturarem máquinas de vendas eficientes e mantiverem sustentabilidade financeira desde cedo.

“Atuar em mercados robustos (como fintechs, healthtechs, edtechs, martechs e agtechs) continuará sendo decisivo, assim como o perfil do fundador: investidores buscam líderes resilientes, apaixonados pelo problema que querem resolver e capazes de equilibrar visão estratégica com execução disciplinada”, diz.

Startups: para onde aponta o mercado? | Tecnosfera

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Equipe da See U em evento NTT Data e Awards 2025, com o fundador Arthur Sendas ao meio
Equipe da See U em evento NTT Data e Awards 2025, com o fundador Arthur Sendas ao meio

A busca por resolver (os próprios) problemas

Uma ideia pode surgir de muitas formas, muitas vezes emerge do contexto vivido, oriundo das experiências pessoais. A startup See U App, de Arapiraca, Alagoas, partiu na tentativa de solucionar um problema pessoal, contou o fundador Arthur Sendas ao O POVO.

“Eu ficava pensando, pensando: o que é que eu vou fazer? Como é que eu vou me ajudar? Nunca foi uma empresa, sempre foi o que é que eu ia fazer para resolver o problema que eu tinha”.

Ele possui cromatopsia, uma condição que provocando uma ausência total de cores na sua percepção. Com a deficiência visual severa, Arthur tinha dificuldade em lidar com coisas simples do seu dia a dia, como enviar um currículo ou ações semelhantes.

Em meio as dificuldades, ele conheceu Jaqueline, sua atual sócia, que o ofereceu ajuda com atividades que precisava realizar no computador. Foi de onde surgiu a ideia, um assistente virtual para pessoas com necessidades, “como a armadura do homem de ferro”.

O projeto veio em 2009, mas só foi oficializando, tornando-se empresa em 2022. A startup se desenvolveu em um evento do Sebrae chamado “Startup Nordeste Alagoas”.

Após vencer a competição, eles viram a oportunidade de tocar o projeto além de receber as premiações. Foram pelo menos cinco vitorias importantes em dois anos de existência.

Promover autonomia para pessoas com deficiência visual, por meio de tecnologias como ecolocalização, realidade virtual e Inteligência Artificial, é o principal foco da See U.

Autonomia essa atuante em muitos aspectos do viver. Auxilio com leitura como um facilitador de informações, na navegação, identificando obstáculos e objetos, e até mesmo ajudando a interpretar expressões faciais, primordial na comunicação. Tudo com uma única solução.

Em 2023, a startup ganhou o programa de aceleração Delta-V, iniciativa da Casa Azul Ventures, e foi crescendo cada vez mais com “a confirmação do trabalho que vinham fazendo”.

Após desenvolvimento, faltava testar a iniciativa, na prática. Foi disponibilizado o aplicativo para 50 pessoas cegas como maneira de teste, mês a mês mais pessoas entravam na avaliação.

Antes de rentabilizar, o projeto já possui parceria com o Google, Microsoft e Amazon Web Services (AWS), grandes empresas de tecnologia mundial. Elas apoiavam a ideia disponibilizando estrutura de nuvem, reduzindo os gastos da See U.

Atualizando as funcionalidades de acordo com a demanda dos usuários, o aplicativo foi chegando em outros ambientes. O governo de Alagoas utiliza hoje o App para auxiliar pessoas cegas que estão desenvolvendo suas habilidades, servindo como ferramenta para eles.

Sendo citada entre as 30 startups mais relevantes do país, pelo Sebrae, a See U entrou no processo de mudar totalmente seu modelo de negócios.

A partir de outubro, a plataforma passará a não cobrar mais de seu usuários, por entender que as pessoas realmente precisam desse auxílio.

Parcerias firmadas em órgãos públicos, ONGs e novamente do Google, possibilitam oferecer gratuitamente a solução para pessoas de todo o País, basta estar vinculado a alguma instituição.

“Vai acontecer agora no começo de outubro, todo mundo vai poder usar de graça. A gente ganha dinheiro com as empresas e com eventos. Acho que o nosso maior objetivo desde o começo da See U era como monetizar sem machucar as pessoas”, comentou.

Hoje com 120 mil usuários, atuando em 22 países e prevenindo quase 6 milhões de acidentes com pessoas cegas, o projeto promete muito mais, incluindo novas funcionalidades para ajudar “quem mais precisa”.

FORTALEZA-CE, BRASIL,17.09.2025: Vladimir Nunan, CEO da startup Eduvem.  (Fotos: Fabio Lima)
FORTALEZA-CE, BRASIL,17.09.2025: Vladimir Nunan, CEO da startup Eduvem. (Fotos: Fabio Lima)

Startup de tecnologia da informação é o principal segmento no nordeste

As startups vêm ganhando cada vez mais espaço no contexto empresarial que vivemos, com foco na resolução de alguma problemática real da nossa sociedade, elas começam pequenas e vão ganhando mais abrangência no mercado de hoje, com investimentos a longo prazo.

O ecossistema das startups apresenta características específicas, tendo foco em várias frentes na comunidade. No nordeste e no Ceará, especificamente, o segmento mais comum é o da tecnologia da informação, com o uso de softwares para solucionar questões do dia a dia, e geralmente atendendo outras empresas.

Esse é exatamente o caso da Eduvem, iniciativa fundada em 2020 na capital cearense. Além do viés tecnológico, a plataforma também atua no âmbito da educação, auxiliando na construção de universidades corporativas, trazendo por meio da tecnologia, uma autonomia para o aprendizado e experiência das pessoas.

Hoje solucionando problemas de quase 200 negócios e crescendo 2,5% ao ano desde a concepção, a Eduvem surgiu quase com um hobby, contou ao O POVO, o fundador e CEO, Vladimir Nunan.

Todos os quatro sócios estavam no contexto empresarial, atuando em grandes empresas de patamar nacional. O próprio mercado colocou a problemática em evidência. A dificuldade de contratar e manter talentos foi a força motriz do projeto.

Criada para solucionar problemas do mercado, eles desenvolveram toda a plataforma com um código aberto, gratuito para quem quisesse contribuir, em um senso de comunidade.

“A gente começou a pensar e desenvolver algo para resolver problemas que nós tínhamos nessas empresas. Só que chegou um momento que funcionou tão bem que a gente pensou, acho que a gente tem um produto que pode levar ao mercado”.

O projeto foi para frente, o código de desenvolvimento foi fechado e a startup surgiu.

Segundo Vladimir, a maior dificuldade do grupo foi justamente entender e se adaptar a esse mundo das startups: “um mundo totalmente diferente, muito mais ágil e muito mais rápido”.

Foi com essa prerrogativa que eles entraram de cabeça nesse universo, participando de eventos e programas de aceleração, justamente para aprender mais sobre a forma de fazer negócio.

O reconhecimento veio de cara, ao todo, a iniciativa recebeu 25 premiações de grandes marcas, como: Sebrae, Microsoft, Bradesco, Itaú e Casa Azul Ventures, aceleradora de startups do grupo O POVO, além de ser certificada pelo “Great Place to Work”.

Hoje a iniciativa é conhecida como top 10 startups do Brasil pelo Sebrae e pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups).

Com 20 funcionários diretos na empresa, a Eduvem planeja desenvolver cada vez mais o projeto, auxiliando as empresas na gestão dos dados, e facilitando para os trabalhadores as informações necessárias para atuar no mercado de trabalho.

Acompanhamento esse que deve ser contínuo, como um desenvolvimento de plano de carreira dos profissionais.

“Essa cultura que a gente quer que as empresas tenham cada vez mais, valorizem os seus colaboradores e deem ferramentas para que eles sejam cada vez mais protagonistas do seu dia a dia e da sua carreira”, completou.

Vladimir conclui a entrevista falando sobre o contexto das startups, e de como ainda não é 100% explorado por instituições e por governos, sempre focando na resolução de um problema principal, com o uso da criatividade e inteligência do povo brasileiro.

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